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112 anos da Imigração Japonesa no Brasil
Vista parcial de Kobe, Japão
A imigração japonesa no Brasil tem como marco inicial a chegada do navio Kasato Maru ao Porto de Santos em 18 de junho de 1908. Partindo do Porto de Kobe em 28 de abril, após uma viagem de 52 dias, o vapor trouxe a bordo 781 imigrantes japoneses.
A vinda dos imigrantes japoneses ao Brasil atendia às necessidades socioeconômicas dos dois países. No Brasil, com a diminuição gradual da mão de obra escrava ao longo do século XIX, a expansão da lavoura cafeeira dependia da política imigratória para obter a força de trabalho necessária. No Japão, a Era Meiji (1868-1912) foi um período de profundas mudanças nas relações sociais, de transformação do Japão feudal em um Estado nacional moderno. A modernização do país gerou desenvolvimento industrial e reformas no sistema educacional, e também crescimento demográfico, êxodo rural e tensões sociais, para as quais a emigração se apresentou como alternativa de solução.
Em 1905 Fukashi Sugimura, ministro plenipotenciário da Legação do Japão no Brasil, emitiu um relatório favorável à migração de japoneses ao nosso país, em um momento em que nações como Estados Unidos, Canadá e Austrália restringiam a entrada de imigrantes asiáticos. Publicado pelo Ministério das Relações Exteriores japonês, o relatório teve grande repercussão e despertou o interesse de Ryo Mizuno, da Companhia Imperial de Emigração do Japão. Mizuno não só dirigiu-se à Legação Brasileira no Japão e ao Ministério das Relações Exteriores, como também veio ao Brasil, onde travou contato com autoridades paulistas.
Em 6 de novembro de 1907 foi assinado o contrato para o envio de trabalhadores japoneses para as fazendas de café, estabelecido entre a Companhia Imperial de Emigração, representada por Ryo Mizuno, e o governo paulista, sendo Jorge Tibiriçá o presidente do Estado de São Paulo e Carlos Botelho o Secretário da Agricultura.
Pelo contrato, a Companhia Imperial deveria recrutar três mil agricultores em três anos e a primeira leva deveria chegar ao Brasil em maio de 1908. A exigência por famílias constituídas de pelo menos três pessoas aptas para o trabalho (com no mínimo 12 e no máximo 45 anos de idade) partiu do governo brasileiro, a quem interessava trabalhadores que permanecessem por longo tempo nas fazendas, e não os ‘dekasegi’, trabalhadores migrantes desejosos de acumular dinheiro rapidamente e retornar à terra natal.
Reunir famílias legítimas de emigrantes e, além disso, que possuíssem bens para bancar os custos da viagem foram as maiores dificuldades para o recrutamento dos trabalhadores. Os inscritos provinham de Okinawa, Kagoshima, Fukushima, Hiroshima, Kumamoto, Ehime, Yamaguchi, Miyagi, Niigata e Tóquio, sendo 600 homens e 181 mulheres. Muitos sequer eram agricultores.
Após a chegada ao Porto de Santos, os imigrantes foram levados de trem até São Paulo, sendo acolhidos na Hospedaria de Imigrantes do Brás, que atualmente é a sede do Museu da Imigração do Estado de São Paulo. Segundo o diário de bordo de Ryo Mizuno, em 20 de junho os imigrantes foram visitados por autoridades paulistas e no dia seguinte ele próprio os visitou, acompanhado da tripulação do navio. Da Hospedaria, foram distribuídos para seis fazendas localizadas ao longo das estradas de ferro Mogiana (Fazendas Dumont e Canaã), Paulista (Fazendas Guatapará e São Martinho), Sorocabana (Fazenda Sobrado) e Ituense (Fazenda Floresta), e para cada uma foi designado um intérprete.
A presença de japoneses no Brasil antes de 1908 é conhecida. Casos isolados de indivíduos que estiveram de passagem pelo país ou que aqui se estabeleceram (por exemplo, na região amazônica, provenientes do Peru) e formaram inclusive núcleos coloniais agrícolas. A chegada do primeiro contingente de imigrantes com o Kasato Maru marca, então, o início da entrada de um número significativo e em fluxo contínuo de japoneses no Brasil. No Japão, 18 de junho é o Dia da Emigração Ultramarina.
É possível pesquisar os Livros de Registros da Hospedaria de Imigrantes no endereço do Arquivo Público do Estado de São Paulo (http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/acervo/memoria_do_imigrante/pesquisa_livros_hospedaria) e no Museu da Imigração do Estado de São Paulo (http://www.inci.org.br/acervodigital/livros.php).