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200 da Independência | A educação no Brasil oitocentista
Em mais um episódio da série “200 da Independência”, os professores Felipe Zioti Narita (UNESP), Higor Figueira Ferreira (Colégio Pedro II) e Paulo Mello (UEPG) analisarão como se dava a educação no Brasil oitocentista, em especial a disciplina de História.
Na esteira das independências latino-americanas no início do século XIX, a formação dos Estados nacionais articulou horizontes de construção cultural das nações a partir da definição de estruturas escolares. No Brasil, as primeiras legislações remontam aos anos 1820 e 1830, lidando com a definição de currículos, estabelecimento de jurisdições para aulas e contratação de professorado nas províncias, perspectivas de formação de professores (via escolas normais) e provimento de materiais às escolas.
O nascimento de uma política educacional, atendendo às exigências específicas de um campo social, dialoga com as mudanças atravessadas pelo país, já que a construção do campo educacional é indissociável da afirmação da vida urbana. Tratava-se de um ensino comprometido, sobretudo, com a estruturação de valores morais, subsidiando uma gramática para a socialização e modos de comportamento educado na cidade. Além disso, paralelamente à organização da esfera pública, o livro didático se tornou um objeto cultural importante para a formação da sociedade oitocentista. Os jornais e as tipografias, por exemplo, começaram a difundir a cultura dos impressos, sistematizando as lições em imagens e textos capazes de transmitir aos futuros cidadãos os horizontes culturais da nação em construção, sublinhando também, por meio de traduções e edições expandidas de textos estrangeiros (franceses, portugueses, ingleses e italianos), a capilaridade da circulação cultural no mundo atlântico.
Além dessa abordagem introdutória outras questões centrais serão levantadas sobre a educação no século XIX no Brasil. Quais eram os objetivos do Império brasileiro com a escolarização? Quais iniciativas educacionais formais e informais mobilizavam a sociedade? Como se dava a presença negra nas escolas? E quais eram os desafios experimentados por escravos, libertos e livres de cor no âmbito do acesso à instrução escolar?
Por fim, cabe acentuar o tema da História como disciplina escolar, sua trajetória e consolidação no oitocentos. Quais os principais autores e editoras? O papel dos livros didáticos nessa época e a própria discussão sobre o significado dos livros didáticos serão temas abordados na live.
Nota-se que a educação no Brasil no período oitocentista teve no ensino de História um de seus pilares para a ideia de construção da nação e de uma identidade nacional. Foi ao longo desse período que se desenvolveu o processo de disciplinarização, ou a constituição da História como disciplina escolar. Trata-se de um processo complexo de longa duração, não linear e permeado por confrontos e contradições, que permitiram a constituição, legitimação e consolidação de um corpo dinâmico de saberes a serem ensinados nas escolas, que se articula com uma ciência de referência – a História científica.
Desse processo de consolidação, da História enquanto disciplina, participaram de modo ativo e desigual grupos internos da escola e grupos externos de poder, especialistas e intelectuais de diferentes segmentos em distintas esferas do espaço social, que divergiram e não compartilharam de maneira pacífica as finalidades, os conteúdos e os métodos pedagógicos. Ao mesmo tempo é nesse processo que lentamente se forjou e se consolidou uma certa “tradição” que envolve um modo de conceber o ensino de História que ainda permanece legitimado e validado na cultura escolar e no imaginário social até nossos dias.
A Fundação Biblioteca Nacional convida para um episódio da série "200 da Independência", na quarta-feira, 23 de junho de 2021, às 17:00.
A educação no Brasil oitocentista
Felipe Zioti Narita (UNESP)
Higor Figueira Ferreira (Colégio Pedro II)
Paulo Mello (UEPG)
Higor Figueira Ferreira é doutor em História pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ (2020). Atua enquanto docente no Colégio Pedro II e produz pesquisas com ênfase nas experiências de instrução letrada envolvendo escravos, libertos e livres de cor na cidade do Rio de Janeiro no Século XIX.
Felipe Ziotti Narita realizou pós-doutorado na USP e na UFSCar e obteve suas quatro titulações acadêmicas na UNESP. Atualmente é docente na graduação e na pós-graduação e pesquisador associado da FAPESP. Foi pesquisador convidado para a inauguração do Studienskreis Gregor Girard na Universidade de Freiburg (Suíça) e integra o coletivo polonês de ciências sociais Praktyka Teoretyczna (Universidade Adam Mickiewicz). Membro do Historiar (CNPq) e do Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Infância, Juventude e Educação da USP. Editor-chefe da revista Cadernos CIMEAC (UFTM) e editor consultivo da Ekpyrosis Press (EUA).
Paulo Eduardo Dias de Mello é doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP); professor adjunto do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Gross/UEPG onde atua na graduação e no Mestrado Profissional em Ensino de História. É pesquisador do Laboratório de estudos sobre formação de professores e ensino de História - Lafopeh e integra o projeto Glotrec, junto ao Instituto Georg Eckert, desenvolvendo pesquisas sobre História do ensino de História tendo livro didático e currículos como fontes e objetos.
O evento é online e transmitido no canal da FBN no Youtube:
www.youtube.com/c/FundacaoBibliotecaNacional
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