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150 Anos da imigração Italiana no Brasil
Imprensa Italiana no Brasil nos 150 anos da Imigração
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Boa parte das migrações tem origem em problemas econômicos e/ou socioculturais e com os italianos não foi diferente. Décadas de conflitos que culminaram no Risorgimento (a luta pela unificação italiana) trouxeram penúria a uma região cuja população ainda era, em meados do século XIX, majoritariamente rural, gerando graves dificuldades para sobrevivência, quer fosse nas pequenas propriedades rurais, quer fosse nas cidades, para onde parte da população se deslocava em busca de trabalho. Na segunda metade do século XIX, estima-se que cerca de 10 milhões de europeus rumaram para a América. Segundo dados do IBGE, calcula-se que cerca de 7 milhões de italianos deixaram a região no período compreendido entre 1860 e 1920.
Após a unificação ter sido concluída em 1861, a Itália ainda enfrentava um outro tipo de crise. Com o crescente processo de industrialização na Europa e as altas taxas de crescimento populacional, não tardou para a região enfrentar uma severa crise de emprego. No século XIX, a população europeia mais do que dobrou, agravando ainda mais os problemas sociais no continente. Muitos italianos se viram forçados, então, a tentar vida em outros países, como os Estados Unidos, Argentina, França, Suíça e, claro, o Brasil.
Se por um lado na Itália havia muitas pessoas em busca de trabalho em outros países, por outro, o Brasil começava a necessitar de mão de obra. A vinda de imigrantes italianos para o Brasil ocorria de duas formas: espontânea e organizada. A migração espontânea era caracterizada por indivíduos ou famílias isoladas que se propunham a tentar a sorte fora de sua terra de origem. A migração organizada também era chamada de subvencionada e era definida pela facilitação ou concessão de auxílio em dinheiro para a compra de passagens e para a instalação inicial das famílias no país. Esta se estendeu de 1870 a 1930 e teve amplo apoio financeiro de fazendeiros (sobretudo, até 1888, aqueles de viés abolicionista) e também do governo brasileiro.
Seu principal destino, quando subvencionados, foram as fazendas de café de São Paulo e os núcleos de colonização espalhados por outros estados (inicialmente províncias) localizados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo. Esses imigrantes tinham de se comprometer por contrato, não só com o local para onde se dirigiriam, como também com as condições de trabalho a que se submeteriam. Esses laços contratuais levavam muitos indivíduos a abandonar o campo e adensar núcleos urbanos, como o Rio de Janeiro e São Paulo. Alguns ainda reemigravam para outros países. A realidade era que a grande massa de italianos que se tornavam colonos ou empregados em uma fazenda de café – seu principal destino – trabalhava em condições muito duras, tendo pequenas oportunidades de acumular algum capital. Os contratos de trabalho outorgavam que todos, inclusive mulheres e crianças, deviam trabalhar. Por tal, cada família cuidava de um número determinado de pés de café e recebia uma quantia em dinheiro por cada mil pés. Não é de se estranhar que, sujeitos a condições tão adversas, ocorressem casos de abandono da terra e que esses colonos devessem ao governo e à comerciantes locais.
Foi nesse contexto de migração subvencionada que o governo brasileiro iniciou na década de 1870 um programa sistemático de absorção de mão-de-obra italiana no país. As leis em favor da abolição gradual, como a Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico negreiro em 1850, e as Lei do Ventre Livre (1871) e dos Sexagenários (1885), fizeram surgir no oeste paulista um grupo de fazendeiros que, temendo a falta de mão-de-obra escrava, defendeu o uso da força de trabalho livre e remunerada nas plantações de café. Foi nesse período que os portos brasileiros receberam milhares de imigrantes italianos.
A imigração organizada de europeus para o Brasil tem duas etapas. Em 1845, foi aprovada uma lei que garantia subvenção governamental para financiar a imigração, visando introduzir nos cafezais o sistema de parceria. A segunda fase acompanha o surgimento da Sociedade Promotora da Imigração em São Paulo em 1866, que estimulava a imigração com subvenção estatal, e da formação da Associação Auxiliadora da Colonização e Imigração para a Província de São Paulo em 1871. Essas sociedades promotoras cumpriam o papel de recrutar e direcionar os trabalhadores que aqui chegavam.
Nesse cenário de fomento à vinda de imigrantes, foi em 21 de fevereiro de 1874 que o navio “La Sofia”, parte da expedição organizada por Pietro Tabacchi (um italiano que já vivia no espírito Santo desde a década de 1850), com cerca de 400 pessoas a bordo, atracou no porto de Vitória. Ao observar o interesse do Brasil pela mão de obra europeia Tabaccchi ofereceu terras para os imigrantes em troca do direito de derrubar 3,5 mil jacarandás para exportação. Após um longo período de negociação o Ministério da Agricultura autorizou a província do Espírito Santo a assinar um contrato com o italiano. A atracagem do “La Sofia” inaugurou oficialmente a imigração italiana subvencionada no Brasil.
A chegada desse navio marcou o início de um fluxo migratório contínuo que moldou a demografia, a economia e a cultura brasileira. A agricultura, por exemplo, não teria sido a mesma sem os italianos. As técnicas de plantio trouxeram uma nova mentalidade agrícola para o país. Os italianos também foram precursores na ideia de “empresa familiar”, pela qual formavam associações para vender seus próprios produtos. No setor industrial, os italianos trouxeram habilidades técnicas e conhecimentos que impulsionaram a industrialização do Brasil, bem como no comércio empreenderam em negócios em áreas como varejo, alimentos e serviços. Ainda, à medida que se instalavam nas grandes cidades, imigrantes artesãos, pedreiros, carpinteiros e também aqueles de formação acadêmica, foram deixando seu legado. É notável a presença de edifícios erguidos por arquitetos e construtores italianos na cidade, como o edifício Martinelli – um dos primeiros arranha-céus da cidade – e o Teatro Municipal.
ORIGENS DA IMPRENSA ITALIANA NO BRASIL
A imprensa sempre desempenhou um papel importante na organização social. Nesse sentido, a imprensa em língua italiana no Brasil, aqui chegada ainda no século XIX, atuou através de seu discurso para a consolidação de uma imagem identitária da Itália em solo estrangeiro. Os jornais configuraram-se então como articuladores desses grupos e formadores de redes de imigrantes, servindo de ferramenta e espelho de sua intervenção na nova sociedade.
A imigração italiana no Brasil teve como ápice o período entre 1880 e 1930, mas desde a década de 1820 já existiam colônias italianas em diferentes estados do país. Com os conflitos e o êxodo que cercaram o Risorgimento – o processo de Unificação da Itália (até então formada por Estados descentralizados) – em 1861, a partir da década de 1870 o governo passou a dar uma vultuosa atenção aos italianos em seu programa colonizador, direcionando grandes levas de imigrantes para os estados do Espírito Santo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e em maior volume, São Paulo, epicentro da colonização.
Por essa razão, o Brasil reúne um vasto acervo de periódicos em italiano, com mais de 800 títulos publicados, em sua maioria em São Paulo, estado que abrigou muitas colônias italianas, de meados do século XIX ao início do século XX. Estas publicações perfazem diferentes estilos e narrativas, com apelos operários, bem como propostas anarquistas, socialistas, anarcossindicalistas e sindicalistas revolucionárias, incluindo ainda jornais fascistas e antifascistas.
Muitos desses periódicos foram produzidos pelas comunidades de imigrantes que se estabeleceram no País ao longo dos séculos XIX e XX e tiveram caráter efêmero, portanto, com vida curta. Contudo, alguns eram muito bem estruturados e foram longevos, a exemplo do Fanfulla, publicado entre 1893 e 2014, chamado carinhosamente de “o jornal dos italianos”.
Desta forma, como dito inicialmente, tais publicações cumpriam muito bem o papel de ajudar a compreender e consolidar a sociedade em que viviam os imigrantes e contribuíam para amplificar a percepção de uma identidade nacional italiana, em especial em um período no qual a Itália estava em processo de unificação no século XIX. Estabeleciam, portanto, a uma ponte entre essas populações com a nova terra e suas próprias raízes.
TEMÁTICAS RECORRENTES
Identidade Cultural
Muitos desses periódicos eram de periodicidade semanal e se propunham a retratar o cotidiano e os acontecimentos da comunidade italiana nas diferentes colônias espalhadas pelo país, mais numerosamente no estado de São Paulo. Comumente eram ilustrados e tinham veia humorística.
Essa italianidade proposta e retratada nesses periódicos agia como um instrumento de conservação da sociedade colonial e um esforço para manter laços afetivos, políticos e econômicos com sua terra natal. Temas como família, religião e trabalho eram muito recorrentes. Muitos desses imigrantes não se reconheciam ainda como italianos no século XIX. Em um cenário de uma Itália recém unificada, se identificavam como trentinos, vênetos, piemonteses, sardenhos, toscanos, calabreses e etc. Assim, imprensa agia como consolidadora de um senso de comunidade integrada.
Um exemplo é o jornal Il Moscone, fundado pelo jornalista e escritor Vicente Ragognetti, e que trazia charges, histórias de humor em forma de quadrinhos e caricaturas. Foi publicado desde abril de 1925, quando saiu seu primeiro número, até agosto de 1961, totalizando 1.357 números.
Sindicalismo e Movimento Operário
A imigração italiana para o Brasil, foi protagonista da formação do movimento operário e sindical. Os trabalhadores que formaram as colônias de imigrantes no Brasil vivenciaram a expansão do capitalismo europeu, enquanto no Brasil ainda prevalecia uma economia agrário-exportadora baseada na mão de obra escrava.
Muitos desses periódicos se propunham a apresentar e discutir as condições de trabalho nas colônias italianas do país e destacavam questões relativas ao sistema de trabalho em cooperativas, o empreendedorismo e assuntos como economia e comércio, agricultura (em especial a viticultura), indústria e tributação. Tinham como grande objetivo, portanto, defender o trabalhador imigrante.
Um exemplo é o Jornal La Tribuna, publicado em Santa Catarina, que trazia notícias sobre a Itália, principalmente as de conotação política, e propagandas voltadas para o comércio de descendentes de italianos na cidade e para destacar a para sua importância na economia.
Fascismo e Antifascismo
O regime fascista atribuiu grande papel à propaganda e a imprensa desempenhou papel importante. Até então os periódicos italianos no Brasil não adotavam uma linha política específica, tampouco militavam de maneira expressiva junto aos movimentos socialistas e anarquistas, embora sempre se ocupavam de defender o trabalhador imigrante.
Mussolini se debruçou então sobre o papel da imprensa, classificando-a como o principal veículo que circula entre as grandes massas. O jornalismo italiano, através do órgão Ufficio della Stampa, designava a forma e o conteúdo das matérias veiculadas pelos jornais e isso incluía o controle dos jornais italianos publicados no exterior entre os imigrantes. No caso específico do Brasil, isso culminou com o envio de livros, filmes, fotos e matérias para os jornais aqui editados. A implantação do fascismo italiano alcançou, portanto, expressiva repercussão entre os imigrantes italianos e seus descendentes no Brasil.
Com a ascensão do fascismo, floresceu em consequência, o antifascismo. Benito Mussolini fundou em 1919 o movimento Fascio de Combatimento, que tinha como uma de suas premissas a perseguição e o combate aos movimentos grevistas e concentrações socialistas.
Multiplicaram-se então os sindicatos, associações, imprensa, vinculadas a praticamente todo o leque de organizações partidárias que lutavam contra o fascismo, fosse na Itália ou fosse nas colônias estabelecidas em outros países, como o Brasil. Por aqui o antifascismo ganhou muita força após a ascensão do nazismo alemão e através da ação da Ação Integralista Brasileira.
A imprensa antifascista italiana foi publicada no Brasil entre os anos de 1922 e 1936 e tinha muito menos repercussão do que seu antagonista fascista. Dentre os periódicos da imprensa italiana no Brasil o jornal Il Moscone possuía a seção “Le Lettere di Pasta Frolla al Moscone” era dedicada a discussões sobre o fascismo e o antifascismo de São Paulo. Ainda, podem ser destacados outros três periódicos, que chegaram a perdurar por dois anos: Il Risorgimento, Lo Spaghetto e Italia Libera. A maioria desses periódicos teve periodicidade semanal ou de forma decididamente irregular.
Imprensa Italiana em São Paulo
Os anos entre 1870 e 1920 marcaram momento áureo do período denominado como da "grande imigração de italianos no Brasil". A maior parte se instalou no estado de São Paulo, onde foram alocados inicialmente nas lavouras café depois dispersos nas áreas urbanas, empregando atividades diversificadas.
A presença de imigrantes com maior escolaridade no meio urbano, sobretudo, aumentou o número de leitores em potencial dos jornais. A imprensa cumpria, dentre vários papeis o de tornar as relações mais cordiais com a sociedade local, reforçando identidades étnicas e veiculando uma imagem positiva dos italianos nas comunidades.
Inicialmente a essa imprensa era editada em língua italiana - a "madre língua" - que constituiu entre os imigrados um importante elo identitário. Contudo, em 1941 passou a atender às determinações legais sobre publicações em língua estrangeira no Brasil e os periódicos passaram a ser editados exclusivamente em português.
A cidade de São Paulo, dado o grande contingente de imigrantes, propiciou amplo público para a propaganda fascista. Após a implementação do Estado Novo no Brasil (1937-1945), semeou-se, portanto um ambiente propício à difusão do fascismo, uma vez que e tornou forte a ideia de uma sociedade de base corporativista e com um Estado "forte". A imprensa fascista italiana frutificou. A isso se soma o fato de que o governo brasileiro mantinha relações amistosas com a Itália, semeando o terreno para a propaganda fascista no país até a Segunda Guerra.
Um dos principais periódicos italianos publicados no Brasil foi o Fanfulla, criado em 17/6/1893 e com periodicidade semanal. Foi o mais importante periódico em língua italiana, publicado diariamente em São Paulo, e começou a circular em 1893, mas deixou de circular em 29/01/1942, no contexto do posicionamento do Brasil em relação à Segunda Guerra Mundial, e voltou a ser publicado em italiano em 05/05/1947, Encerrou sua impressão apenas em 2014, mas ainda seguiu por mais um tempo apenas com um portal eletrônico, atualmente inativo.
(Rodrigo Basile)
ARTIGOS SOBRE PERIÓDICOS ITALIANOS NA BNDIGITAL
Il Pasquino Coloniale
https://bndigital.bn.gov.br/artigos/il-pasquino-coloniale/
Città di Caxias
https://bndigital.bn.gov.br/artigos/citta-di-caxias/
ARTIGO SOBRE IMIGRAÇÃO ITALIANA NA BRASILIANA FOTOGRÁFICA
Uma homenagem aos 150 anos da imigração italiana para o Brasil
https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=35497
FONTES CONSULTADAS:
https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=35497
https://transfopressbrasil.franca.unesp.br/verbetes/a-imprensa-antifascista-italiana-no-brasil/
https://www.scielo.br/j/his/a/yd6t7ZWyQy5cgtmFLZbLNfL/
https://transfopressbrasil.franca.unesp.br/verbetes/fanfulla/
https://www.scielo.br/j/rbh/a/7ty5mMwJhcRbWQ5GTzc4r7h/
http://congressos.cbce.org.br/index.php/conbrace2021/9conice/paper/viewFile/14527/8302
https://wp.ufpel.edu.br/museumaciel/imigracao-italiana-no-brasil/
https://ied.edu.br/noticias/150-anos-da-imigracao-italiana-no-brasil