A doação da coleção Benedicto Ottoni para a Biblioteca Nacional: dádiva, glória e legado – Iuri Lapa (CPE/FBN)
Embora dar, presentear, doar seja um tipo de ação que faça parte do nosso cotidiano, trata-se de um gesto que condensa muito mais significado do que costumamos admitir. O que dizer então da doação para uma instituição de Estado como a Biblioteca Nacional? Compreender o que motivou os envolvidos na doação da coleção Benedicto Ottoni para a BN sem cair nas armadilhas que costumam acompanhar este tipo de análise não é uma tarefa simples. Afinal, quando a doação foi efetuada em 1911, só se falava na generosidade e no patriotismo do ato, o que parece insuficiente para compreender sua motivação. Da mesma forma, tratar a doação com desconfiança, analisando-a apenas por aquilo que os envolvidos teriam a ganhar com esse ato tampouco parece uma atitude capaz de traduzir todas as suas camadas. Com base nestes questionamentos, o pesquisador trouxe para debate uma parte de sua tese defendida em 2020, intitulada “Sobre papéis, trajetórias e dádivas: a doação da coleção Benedicto Ottoni para a Biblioteca Nacional” (Cpdoc/FGV)
A coleção Benedicto Ottoni é formada por mais de 11 mil peças históricas – impressos, manuscritos, mapas, iconografia etc. – sobre o Brasil e as Américas, algumas verdadeiramente únicas. Ela foi doada em 1911 pelo industrial Júlio Benedicto Ottoni, que a comprou de seu amigo, o jornalista José Carlos Rodrigues, com a promessa que a coleção teria como destino a Biblioteca Nacional. Com o dinheiro da venda, Rodrigues planejava ampliar uma unidade de saúde que ele havia inaugurado dois anos antes, chamada Policlínica das Crianças, uma das primeiras do gênero, voltada para o atendimento da população pobre da capital da República. Este enlace entre artefatos históricos e uma iniciativa filantrópica fez dessa doação um evento singular.
A tese completa do pesquisador pode ser acessada em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/30637
Iuri Lapa é cientista social, especialista em Ciência Política pelo Iuperj, mestre em História Social pela UFRJ e doutor em História, Política e Bens Culturais pelo Cpdoc/FGV. Atua como pesquisador do Centro de Pesquisa e Editoração da Fundação Biblioteca Nacional desde 2006 e é autor, junto com Lia Jordão, do livro “A Biblioteca Nacional na crônica da cidade: o leitor ǀ a cidade” (Faperj/FBN).