Abul de Alberto Nepomuceno em Buenos Aires: a ópera como lugar de encontro
Viviana Mónica Vermes
Bolsista Doutora
Em 1913 o compositor brasileiro Alberto Nepomuceno estreou sua ópera Abul em Buenos Aires. O evento recebeu enorme destaque na imprensa brasileira, elevado a fenômeno de primeira escala e, mais importante, transformado em ponto de partida para um projeto de cooperação internacional. Os jornais cariocas atualizavam dia a dia as andanças de Nepomuceno, noticiando os ensaios, encontros e banquetes. Entre os últimos destaca-se aquele oferecido pelo ministro do Brasil em Buenos Aires, Souza Dantas, em cujo discurso saudou Nepomuceno como “o primeiro músico brasileiro, continuador do nome glorioso do Brasil no mundo das artes, [...] digno sucessor de Carlos Gomes”. Nepomuceno era, de fato, uma figura central da vida musical da capital brasileira – pianista, compositor, regente, professor, diretor do Instituto Nacional de Música – e ascendera a essa posição após a proclamação da República, momento de reconfiguração inclusive no âmbito da mais importante instituição da música erudita carioca, o Instituto Nacional de Música. O lugar simbólico ocupado por Nepomuceno na República reveste o evento de oficialidade, mas surpreende que o ministro eleja Nepomuceno para sucessor de Carlos Gomes, considerando que eles se situavam em polos opostos nas disputas político-musicais da Primeira República brasileira. Não surpreende que seja a ópera o lugar de coroação simbólica de uma grande autoridade musical e o espaço de negociação diplomática. Há uma história compartilhada entre Brasil, Uruguai e Argentina de companhias de ópera estrangeiras que vinham fazer suas temporadas na América do Sul durante o verão europeu e que, ao ir de um país a outro com o mesmo repertório e com os mesmos intérpretes, criavam uma experiência comum, ainda que desdobrada cronologicamente. Este trabalho propõe uma análise do processo de construção desse evento – a estreia da ópera Abul na Argentina - e refletir sobre a constituição da ópera como locus supranacional e, ao mesmo tempo, língua franca, nessa tentativa de aproximação entre as nações.
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PRODUTO FINAL do projeto de pesquisa
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Perfil
Mónica Vermes e a rica cena musical na Belle Époque carioca (1890-1920)
Evento