Rio de Janeiro – uma cidade tra(duz)ída pelos mapas
Ana Carmen Casco
Bolsista Nível 1 - Doutorado/Mestrado
A coleção de mapas que integra o acervo da seção de cartografia da Biblioteca Nacional sobre o Rio de Janeiro, abrange um período que vai desde o século XVIII até os dias atuais. Parte significativa dessa coleção já foi trabalhada pela bibliotecária chefe da seção de iconografia, Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha que resultou na publicação do Álbum cartográfico do Rio de Janeiro, séculos 18 e 19, em 1971 (CUNHA, 1971). Nesse trabalho a autora apresenta um conjunto de 22 mapas que abrangem o período que vai desde 1730-1751, até cerca de 1890. Esses mapas foram cuidadosamente anotados por informações que, segundo Cunha (1981), “reportam-se apenas ao essencial no sentido de precisar a época de elaboração dos originais e informar quanto a seus autores ou editores”. Ela destaca, na apresentação do Álbum, que a cartografia é uma “ciência complementar da história (...) utilizada pelos historiadores no afã de precisar e localizar geograficamente as informações contidas em textos antigos”, e que, nesse sentido, muitos cronistas citam os mapas quase de passagem. Ainda segundo ela “é de data recente o interesse específico em relação às cartas históricas do Rio de Janeiro, estudos que atingem maior erudição nos trabalhos dos destacados membros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: Isa Adonias, Eduardo Canabrava Barreiros, Max Guedes e Gilberto Ferrez. Os textos que elaboraram do desenvolvimento da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro bem mostram o quanto a cartografia elucida, esclarece e apóia as informações dos cronistas”.
Os verbetes que acompanham os mapas anotados por Cunha (1981), descrevem basicamente o que o mapa mostra, procurando situar a parte representada com o restante da cidade e seus pontos mais destacados como os relevos e as construções mais antigas, assim como assinala comparações com outros da mesma época. A organizadora identifica também a autoria desses mapas e a partir daí nos informa que eles eram desenhados por engenheiros militares, oficiais da marinha, cartógrafos e gravadores.
Neste artigo procuraremos trabalhar a leitura dos mapas a partir de uma perspectiva também antropológica, o mapa como campo a ser etnografado, menos como uma comprovação, uma prova da cidade no tempo, e mais como um relato, uma representação, um discurso a ser interpretado a respeito da cidade. Às informações relatadas pelo mapa procuraremos acrescentar a densidade das dimensões simbólicas e culturais inerentes a estas representações e nem sempre mostradas, ao mesmo tempo em que procuraremos valorizar o mapa enquanto documento histórico. Tentaremos explorar o mapa como um artefato cultural, socialmente produzido. Vamos nos deter na análise das representações cartográficas relacionadas ao turismo ou às celebrações, datas comemorativas de fatos memoráveis que tiveram como palco o espaço urbano e foram documentadas nas cartografias do século XX e colecionadas no acervo da Biblioteca Nacional.
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