Entre caravanas de marfim, o comércio da urzela e o tráfico de escravos: Georg Tams, José Ribeiro dos Santos e os negócios da África centro-ocidental na década de 1840
Maria Cristina Cortez Wissenbach
Bolsista Nível 1 - Doutorado/Mestrado
Na obra Visita às possessões portuguezas na costa occidental d´África, de 1850, o médico alemão Georg Tams relata as viagens que realizou às partes meridionais da África, entre os anos de 1841 e 1842, assistindo uma expedição comercial arquitetada por um negociante português estabelecido em Hamburgo. Animado pelo desejo de registrar as potencialidades do comércio africano e atento às dinâmicas do tráfico de escravos, Tams descreve pormenorizadamente a vida econômica e social de cidades como Benguela, Luanda e Novo Redondo e outros vilarejos luso-africanos, bem como territórios africanos fora do domínio português, como o reino de Ambriz. Segundo suas observações, a movimentação dos núcleos litorâneos animava-se a cada dia com a chegada de caravanas vindas do interior, carregadas de marfim, de cera e de urzela, mas também de escravos que entravam à noite em surdina, em razão das interdições que já se faziam sentir. Ao longo dos trajetos pela costa, entre Mossamedes e Ambriz, deparase com situações características de um comércio considerado ilegal, marcado por uma dinâmica imposta pela presença do esquadrão marítimo britânico e pelas leis européias antitráfico. Descreve as hierarquias sociais comprometidas com estes negócios – dos grandes mercadores europeus, brasileiros e luso-africanos, às autoridades metropolitanas e aos fiscais alfandegários, chegando aos canoeiros africanos e demais trabalhadores dos portos; localiza agentes, feitorias de várias nacionalidades e barracões improvisados que se espalhavam por praias ermas e pequenos ancoradouros em zonas quase despovoadas, “essas bellas solidões” que, segundo Tams, só eram atravessadas quando os apanhadores de escravos as atingiam.
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