Diego de San Pedro: Arnalte e Lucenda; Prisão de Amor; Tratado de Nicolas Núñez; Sermão de Amores
Ricardo Hiroyuki Shibata
Bolsista Pesquisador
As informações de que dispomos acerca da vida de Diego Fernández de San Pedro são extremamente escassas. Pelo que se sabe, San Pedro nasceu provavelmente em 1438, porém as primeiras notícias comprovadas acerca de sua carreira remontam ao ano de 1459, quando, a serviço de Juan Téllez-Girón, Mestre de Calatrava e conde de Urenha, tomou posse como alcaide ou intendente do castelo de Penhafiel. Anos depois, em 1466, Girón havia de lhe deixar por expressa cláusula testamentária uma pensão anual de vinte mil maravedis – uma soma considerável para a época.
Pelas pistas que deixou em seus escritos, levou vida dissoluta e repleta de lances amorosos, com muito luxo e pompa, transitando com enorme desenvoltura nas cortes dos grandes príncipes e reis de Castela (Espanha), o que lhe valeu a indicação ao cargo de Ouvidor do Conselho régio no reinado de Enrique IV, demonstrando assim seu enorme prestígio político e escapando incólume das suspeitas que recaíram sobre seu irmão, o comendador Santiago Pedro Suárez de San Pedro, acusado de ser cristão-novo, ou seja, de abjurar da religião judaica para converter-se, por conveniência, ao cristianismo.
Entretanto, seu reconhecimento literário, como grande poeta e novelista, só veio durante o reinado dos Reis Católicos, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, época em que sua fama e seu renome ganharam a Europa culta do período. A novela sentimental Arnalte e Lucenda, escrita por volta de 1465, mas só publicada em Burgos, em 1491, foi traduzida na França, Inglaterra e Itália, e deu impulso a este gênero literário que conquistou os leitores de imediato. Logo depois, vem a público o maior êxito literário de Diego de San Pedro: a Prisão de Amor, escrita por volta de 1470, mas só publicada em Sevilha, em 1492, sendo considerada pelos críticos contemporâneos como um “breviário” ou resumo de todas as questões acerca do amor no século XV. Esta pequena novela, cujo tema central é o amor não correspondido de um cavaleiro por uma dama, foi um dos mais impressionantes sucessos editorais do período. Tal foi o seu êxito que, em meados do século XVI, recebeu as críticas mais ferrenhas do grande humanista Juan Luís Vives, acusando-a de passatempo ilícito e particularmente pérfida aos católicos mais devotos. Vários exemplares foram confiscados e lançados à fogueira pelo Santo Ofício da Inquisição, e sua publicação, leitura e circulação era terminantemente proibida. Porém, a despeito da censura inquisitorial, já se sabe, o livro circulava em cópias manuscritas ou em publicações não autorizadas.
Diego de San Pedro morreu provavelmente em 1498, legando para a posteridade outras obras literárias de altíssimo quilate, hoje (infelizmente) quase esquecidas: a Pasión Trobada, publicada em Salamanca, em 1496; o Sermón de Amores, publicada em 1511; vários de seus poemas constam na mais famosa recolha poética de início do século XVI, o Cancionero General, de Hernán del Castillo, publicado em 1511; o Desprecio de la Fortuna, escrita por volta de 1485, mas publicada em Saragoça, em 1520 – um pequeno poema em que o autor se arrepende de sua vida licenciosa e aventureira para abraçar as virtudes da religião católica; e a Pasión de Nuestro Redentor y Salvador Jesucristo, publicada em 1522. Outras obras, entretanto, nunca receberam versão impressa e nada se sabe acerca da data de composição: Écloga Pastoral (de atribuição duvidosa), Cartas de amores, Copla y Canción e Romances.
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PRODUTO FINAL do projeto de pesquisa
Diego de San Pedro: Arnalte e Lucenda; Prisão de Amor; Tratado de Nicolas Núñez; Sermão de Amores.