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Coleções da Seção de Manuscritos | Maria Werneck de Castro
A coleção tem como titular uma pioneira da ilustração científica brasileira, que também foi uma ativista em defesa do meio ambiente.
Maria Werneck de Castro nasceu em Vassouras – RJ em 1905. Quando criança, mudou-se com a família para Blumenau – SC, onde começou a estudar desenho com a professora Alice Werner. Entre os exercícios mais frequentes, reproduzia obras de pintores europeus impressas em revistas alemãs. Depois veio residir no Rio de Janeiro, concluiu os estudos secundários e, em 1935, tornou-se funcionária da Caixa Econômica Federal.
Nos anos 1940, a artista começou a executar desenhos anatômicos sob a orientação do Prof. Raimundo Honório, que trabalhava no Instituto de Manguinhos – hoje Fundação Oswaldo Cruz - e na Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro. Em 1959 foi transferida para Brasília, ainda na primeira fase de urbanização. Isso marcou uma nova fase em sua vida e em sua carreira artística: maravilhada com o cerrado, sua beleza e diversidade, Maria Werneck de Castro comprou um jipe e passou a percorrer as veredas em busca de espécimes para registrar sob a forma de desenho. O trabalho, a princípio solitário, logo ganhou o apoio de colegas e amigos como Paschoal Carlos Magno, que trabalhava no setor cultural do Palácio do Planalto, e o botânico Ezechias Paulo Heringer. A artista foi também correspondente do especialista mundial em orquídeas Guido Pabst, cujo trabalho de classificação de espécimes foi muito facilitado pelos desenhos de Werneck de Castro.
O reconhecimento como ilustradora botânica veio após a participação da artista em uma exposição na Pensilvânia, EUA. Ela deixou a Caixa Econômica e passou a trabalhar para a recém-fundada Universidade Nacional de Brasília, onde tinha mais tempo para se dedicar a seus desenhos. Alguns saíram como ilustração de um artigo de Heringer sobre as árvores ornamentais do Planalto Central, publicado em 1968 no Correio Braziliense. Desde então, Maria Werneck de Castro participou de inúmeras exposições no Brasil e no exterior e teve muitos originais adquiridos por instituições de arte e pesquisa científica, vários dos quais integram acervos de grande significado para estudiosos de Botânica e da natureza em geral.
No início da década de 1970, aposentada e de volta ao Rio de Janeiro, a artista realizou uma série de ilustrações sobre Dorstenias – plantas tropicais da família do figo e da amoreira – e começou a trabalhar no centro de Botânica da FEEMA, fundação dedicada à engenharia ambiental. Fez também um grande trabalho sobre a família das Moráceas. Com o gradual declínio de sua saúde, passou a trabalhar em casa, para isso contando com a ajuda do diretor do Jardim Botânico do Rio, padre Raulino Reitz, que lhe “emprestava” as plantas para servirem de modelo.
Maria Werneck de Castro faleceu no Rio de Janeiro em 2000. Seis anos antes, havia tomado a decisão de doar seu arquivo pessoal à Biblioteca Nacional, para garantir a preservação e o acesso à pesquisa. A coleção, que integra o acervo da Seção de Manuscritos, tem cerca de 220 itens entre cartas, catálogos, recortes e trabalhos originais. O grande destaque é a série de 49 aquarelas de plantas da Mata Atlântica, as quais foram digitalizadas e podem ser acessadas pela BN Digital.
Veja a única aquarela que retrata espécimes animais – um grilo e um mico-leão – feitas em colaboração com Dulce Nascimento, aluna de Maria Werneck de Castro.
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Ana Lúcia Merege
(Seção de Manuscritos)