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Coleções da Seção de Manuscritos | Coelho Netto
A Coleção Coelho Netto tem como titular um dos mais famosos escritores brasileiros, que alcançou enorme popularidade entre o final dos anos 1900 e as primeiras décadas do século XX.
Filho do português António Coelho e da descendente de indígenas Ana Silvestre, Henrique Maximiano Coelho Netto (1864, Caxias, MA – 1934, Rio de Janeiro, RJ) veio ainda criança para o Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio Pedro II e iniciou o curso de Medicina. Pouco depois, deixou-o pela Faculdade de Direito, cursada parte no Recife e parte em São Paulo, quando o futuro escritor já aderira aos ideais abolicionistas e republicanos.
De volta ao Rio, Coelho Netto trabalhou com José do Patrocínio na campanha em favor da abolição. Pouco depois, tornou-se jornalista. Em 1890, casou-se com Maria Gabriela Brandão, com a qual teria 14 filhos, e foi nomeado para o cargo de secretário do governo do estado do Rio de Janeiro. Foi também deputado federal pelo Maranhão, secretário geral da Liga de Defesa Nacional e membro do Conselho Consultivo do Teatro Municipal. A par de todas essas atividades, publicava seus trabalhos literários em diferentes periódicos, às vezes sob pseudônimos como Anselmo Ribas, Caliban, Ariel, Democ, N. Puck, Tartarin, Fur-Fur, Manés, entre outros. Durante anos foi o escritor mais lido do Brasil, com artigos publicados quase diariamente e que versavam sobre praticamente tudo: política, sociedade, moda, esporte.
Apesar de sua popularidade, Coelho Netto sofreu fortes críticas por parte de outros escritores. Lima Barreto, que o acusava de escrever apenas para a elite, foi um dos seus maiores oponentes. Durante a Semana de Arte Moderna, em 1922, sua obra foi considerada datada e suas ideias ultrapassadas. Isso, porém, não o impediu de continuar produzindo, com incursões em vários gêneros: não apenas o realismo e o naturalismo, pelos quais se tornou mais conhecido, mas também a ficção científica, o terror e o gótico regionalista. Seus trabalhos lhe trouxeram grande notoriedade, ao ponto de ser agraciado com o título de “Príncipe dos Prosadores Brasileiros” num concurso promovido pela revista “O Malho”.
Coelho Netto foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras, que presidiu durante o ano de 1926. Deixou 112 obras publicadas e muitos trabalhos inéditos. Seu nome caiu no esquecimento durante décadas, mas vem sendo redescoberto nos últimos anos, principalmente por pesquisadores de literatura fantástica. Isso deu ensejo a novos trabalhos acadêmicos e a reedições de livros como “Sertão” (1896), que reúne narrativas de horror em cenários rurais brasileiros, e “Esfinge” (1908), romance gótico que flerta com a ficção científica. Outros romances conhecidos são “A capital federal” (1893), “Rei negro” (1914) e “Fogo fátuo” (1929).
A Coleção Coelho Netto na Biblioteca Nacional reúne publicações, traduções, correspondência e originais literários. Adquirida por compra ao depositário do escritor, Jorge Amaro de Freitas, em 1936, foi dividida entre as Seções de Obras Gerais, Iconografia e Manuscritos. Poucos itens estão digitalizados. Dentre estes, destacamos uma carta de Monteiro Lobato, na qual o escritor e editor parabeniza Coelho Netto pela eleição à presidência da Academia Brasileira de Letras e propõe que escreva um livro sobre os intelectuais com os quais conviveu e a quem se referiu em seu livro “A Conquista”, publicado em 1899. A carta está disponível no link da BN Digital
https://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss1559799/mss1559799.pdf
Ana Lúcia Merege
(Seção de Manuscritos)