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Coleções da Seção de Manuscritos | Charles Frederick Hartt
A Coleção Charles Frederick Hartt é de grande importância para o estudo das línguas dos povos originários do Brasil.
Seu titular nasceu em Frederictown, no Canadá, em 1840, e faleceu em 1878, no Rio de Janeiro. Filho de um pastor batista, estudou na Academia Horton e na Universidade Acadia, em British Columbia, e lecionou por algum tempo numa escola para moças fundada por seu pai. Sempre se interessou por ciências naturais, especialmente a Geologia e a Paleontologia. Em 1861 passou a concentrar seus estudos nessa área, sob a orientação do Prof. Louis Agassiz.
Em 1865, Hartt foi um dos dois geólogos que vieram ao Brasil com a expedição Thayer, organizada por Agassiz. Voltou dois anos depois para visitar o litoral, em especial o da Bahia, e os recifes de coral, após o que se estabeleceu nos Estados Unidos e passou a lecionar em universidades nova-iorquinas. Em 1870 e 1871, organizou expedições ao Brasil, em companhia de professores e estudantes da Universidade Cornell: as Expedições Morgan, financiadas pelo político estadunidense Edwin D. Morgan, que exploraram, entre outros lugares, o baixo Amazonas, a Ilha de Marajó e a região dos rios Tapajós, Maecurú, Ererê e Trombeta.
Em 1874, Hartt propôs ao Governo brasileiro uma investigação sobre a geologia do país, que auxiliaria nas atividades agrícolas e mineradoras. Com a aprovação, tornou-se, a partir do ano seguinte, o chefe da Comissão Geológica do Império, ligada ao Ministério da Agricultura. Nos anos seguintes, coordenou expedições a diversas regiões do país, contando com a participação de cientistas, engenheiros e outros profissionais.
As viagens proporcionaram a aquisição de saberes incalculáveis e inúmeros espécimes científicos, mas também cobraram seu preço. Segundo o historiador Gilberto Ferrez, foi numa das expedições que seu avô, o fotógrafo Marc Ferrez, contraiu uma doença hepática da qual jamais se livrou, enquanto o próprio Charles Hartt adoeceu com febre amarela, que acabaria por levá-lo à morte em março de 1878. Lucy, sua esposa, e os filhos do casal tinham regressado aos Estados Unidos, e os trabalhos da Comissão Geológica estavam suspensos desde janeiro.
Embora o foco dos trabalhos de Hartt estivesse, principalmente, na Geologia e na Paleontografia brasileiras, ele se aprofundou em várias outras áreas. Sua obra publicada consiste em cinco livros e cerca de cinquenta artigos que abrangem uma variada gama de assuntos: Geografia, Zoologia, Botânica, Antropologia. Dentro desta última, trabalhou com cerâmica marajoara, inscrições rupestres, descrição de costumes, mitos como o do Curupira e, em especial, o tupi falado pelos povos originários no Amazonas do século XIX. Seu trabalho, “Notas sobre a língua geral do tupi moderno do Amazonas”, foi publicado nos Anais da Biblioteca Nacional, v. 51, de 1938.
A Coleção Charles Frederick Hartt na Divisão de Manuscritos também se refere principalmente a esse assunto. Consiste em correspondência, vocabulários e notas sobre línguas indígenas, incluindo cerca de 1.000 fichas com termos em tupi e sua tradução para o português. Segundo o Guia de Coleções, esse trabalho quase certamente permanece inédito.
A coleção foi adquirida por doação e compra à viúva do titular, por intermédio do cientista Orville Derby, em 1878. Está sob a guarda da Seção de Manuscritos e não foi digitalizada, exceto por uma dedicatória precedida por alguns versos em tupi:
https://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss_I_07_11_055/mss_I_07_11_055.pdf
Ana Lúcia Merege (Seção de Manuscritos)