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Coleções da Seção de Manuscritos | Castro Alves
A Coleção Castro Alves é uma interessante fonte de estudo sobre a vida e a obra do poeta baiano.
Antônio Frederico de Castro Alves (Curralinho, BA, 1847 – Salvador, 1871) nasceu numa família abastada, que valorizava os estudos. Seu pai era médico e professor. Apelidado de “Cecéu”, forma que adotaria para assinar algumas cartas enviadas a familiares, o futuro poeta fez seus primeiros estudos no interior e, em 1854, acompanhou a família à capital do estado, onde o pai fora convidado a lecionar na Faculdade de Medicina. Quatro anos depois, o pequeno Antônio ingressou no Ginásio Baiano, mantido pelo Barão de Macaúbas, onde compôs e recitou publicamente seus primeiros versos.
Em janeiro de 1862, Castro Alves e seu irmão José viajaram para Recife, onde Antônio faria os preparatórios para ingressar na Faculdade de Direito. Foi reprovado duas vezes, mas já então havia publicado no Jornal do Recife o poema “A Destruição de Jerusalém” e travado contato com intelectuais e artistas locais. Entrou, finalmente, para a Faculdade em 1864, e nesse mesmo ano publicou seu primeiro poema sobre a escravidão, tema recorrente em suas obras. Logo, porém, adoeceu com tuberculose e viajou para Salvador, de onde regressou dois anos depois, acompanhado pelo poeta Fagundes Varela.
De volta a Recife, Castro Alves fundou uma sociedade abolicionista com Rui Barbosa e outros amigos, envolveu-se com a atriz portuguesa Eugénia Câmara e continuou a escrever poemas. Seus trabalhos eram muitas vezes declamados em teatros e praças públicas, como o famoso improviso no qual afirmou que “a praça é do povo como o céu é do condor”. Em 1867, ele e Eugénia voltaram a Salvador e a atriz passou a trabalhar no Teatro São João. Em setembro estreou “Gonzaga ou A Revolução de Minas”, drama patriótico de Castro Alves que garantiu um prêmio para Eugénia Câmara no papel da protagonista.
No ano seguinte, Antônio e Eugénia viajaram para São Paulo, com uma parada no Rio de Janeiro, onde o poeta conheceu Machado de Assis e José de Alencar e participou de eventos literários. Em São Paulo retomou os estudos na Faculdade de Direito local e, após muitas discussões, separou-se de Eugénia Câmara; isso afetou seu humor e disposição. Um acidente de caça nos arredores da cidade, no qual disparou no próprio pé, levou à amputação do membro meses depois, o que debilitou ainda mais sua saúde.
Em meio a idas e vindas entre Salvador e o sertão baiano, Castro Alves ainda conseguiu manter sua atividade literária. Com a ajuda do amigo e cunhado Augusto Guimarães, editou a coletânea de poemas “Espumas Flutuantes” (1870), único livro que publicou em vida. Outras obras saíram postumamente, entre as quais “A Cachoeira de Paulo Afonso”, (1876) cuja primeira versão teria lido para José de Alencar, e “Os Escravos” (1883), que o poeta planejou durante muitos anos.
Os documentos da Coleção Castro Alves foram vendidos à Biblioteca Nacional em 1953 por sua sobrinha, Regina de Castro Alves Guimarães. Incluem poemas, correspondência, recortes, desenhos, partituras. Uma parte dos documentos está nas Seções de Música e Iconografia. Os itens sob a guarda da Seção de Manuscritos estiveram integrados à Coleção Literatura e aos Manuscritos Avulsos, mas a partir de 2018 voltaram a ser agrupados sob o nome do titular. Alguns estão digitalizados e podem ser consultados na Biblioteca Digital.
Carta de Castro Alves à irmã Adelaide (Sinhá), em que se assina “Seseo”.
https://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss165047/mss165047.pdf
Carta ao amigo e cunhado Augusto Guimarães
https://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss165045/mss165045.pdf
Ana Lúcia Merege
(Seção de Manuscritos)