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Coleções da Seção de Manuscritos | Camilo de Monserrat
Uma das coleções mais relevantes para a história da Biblioteca Nacional é a Camilo de Monserrat (ou Monserrate, como está grafada algumas vezes na base de dados). Trata-se de uma coleção factícia, ou seja, formada com documentos de diversas proveniências, aos quais se somaram outros produzidos pelo próprio titular.
Frei Camilo de Monserrat, cujo nome, antes da ordenação, era Jorge Estanislau Xavier Luís Camilo Cléau, nasceu em Paris a 14 de novembro de 1818. Filho ilegítimo do Duque de Berry e de uma dama da família Malatesta, recebeu o sobrenome dos pais adotivos e desde muito jovem mostrou inclinação pelos estudos, interessando-se tanto pelas Letras, Artes e Filosofia quanto pela História e pelas Ciências Naturais.
Com vinte incompletos, o jovem Camilo já era autor de vários trabalhos sobre temas ligados à Antiguidade e à Literatura Clássica, com boa repercussão nos meios literários e científicos de Paris. Era também um espírito inquieto; não encontrando, em seu país, uma posição que lhe assegurasse o sustento, viajou para a Polinésia, para a Nova Zelândia e, por fim, para o Brasil, onde chegou em junho de 1844.
Em 12 de novembro de 1847, Camilo Cléau tomou o hábito de noviço da Ordem dos Beneditinos e adotou o nome de Frei Camilo de Monserrat. Três anos depois, recebeu as ordens menores. Já nessa época sua erudição e gosto pelo conhecimento haviam sido notados pelo superior, que o encarregou de organizar a biblioteca do Mosteiro de São Bento. Essa foi, sem dúvida, uma experiência fundamental para o desempenho da missão seguinte: em 1853, o Governo Imperial o nomeou bibliotecário responsável pela administração da Biblioteca Nacional, então chamada Biblioteca Imperial e Pública da Corte. Frei Camilo ocupou o cargo durante 17 anos. Até 1855, foi também professor de História e Geografia do Colégio Pedro II, mas precisou se demitir dessas funções devido à sobrecarga de atividades.
Em seu trabalho incansável à frente da Biblioteca, Camilo de Monserrat sanou vários problemas administrativos. Conseguiu, inclusive, transferir todo o acervo – já então bastante volumoso – do edifício que ocupava na Rua do Carmo para um prédio mais adequado, no Largo da Lapa. Além disso, enriqueceu as coleções da Biblioteca Nacional através de compras, doações e permutas, frequentemente envolvendo a “Flora Fluminense”, obra de Frei José Mariano da Conceição Veloso, que Frei Camilo muito se esforçou por divulgar.
Além de administrar e atuar na organização da Biblioteca Nacional, Camilo de Monserrat publicou trabalhos de História e Arqueologia e deixou outros inacabados. A 19 de novembro de 1870, faleceu em consequência de uma doença pulmonar. Seu sucessor à frente da Biblioteca, Benjamim Franklin Ramiz Galvão, organizou suas anotações e publicou algumas, juntamente com um ensaio bibliográfico.
A Coleção Camilo de Monserrat está sob a guarda da Seção de Manuscritos. Inclui cartas escritas por ele desde a juventude – quando, ainda com o nome Camilo Cléau, expressava seu desejo de ser aceito na Ordem de São Bento – até os últimos anos como responsável pela Biblioteca Nacional. A partir da década de 1853, a maior parte de sua correspondência se refere à instituição: cartas, minutas, ofícios e relatórios que têm como interlocutores, entre outros, o Imperador D. Pedro II, o escritor Joaquim Manuel de Macedo, o ministro e conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz e vários legatários estrangeiros. Há ainda cartas e ofícios recebidos de terceiros, bem como rascunhos de estudos de Frei Camilo sobre Arqueologia, Religião, Mitologia e temas correlatos.
Com 355 registros, a coleção está parcialmente digitalizada. Dentre os itens já disponibilizados na BN Digital, selecionamos os seguintes:
1) Catálogo alphabetico dos livros escolhidos da Bibliotheca do Def(unto) D. Francisco – lista de aquisições feitas para a biblioteca do Mosteiro de São Bento
https://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss1286774/mss1286774.pdf
2) Notas acerca do colofão dos exemplares da Bíblia de Mogúncia existentes na Biblioteca Nacional
https://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss1286772/mss1286772.pdf
3) Carta do encarregado de negócios da França no Brasil, tratando da colaboração entre as bibliotecas dos dois países. Inclui minuta de carta escrita por Frei Camilo.
https://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss1286756_57/mss1286756_57.pdf
(Ana Lúcia Merege - Seção de Manuscritos)