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Coleções da Seção de Manuscritos | Alfredo de Carvalho
Engenheiro, historiador, etnógrafo e bibliófilo, Alfredo Ferreira de Carvalho nasceu em Recife, PE, em 1870. Fez os primeiros estudos em sua cidade natal e desde cedo adquiriu o domínio de vários idiomas. Isso facilitou sua ida para a Alemanha, onde ingressou no curso de Engenharia Civil.
Em 1888, sem ter concluído o curso, Carvalho regressou ao Brasil e foi trabalhar como auxiliar técnico na estrada de ferro de Caruaru. Dois anos depois matriculou-se na Escola Militar do Ceará, mas abandonou a carreira militar ao se envolver com a Revolta da Armada, no Rio de Janeiro. Embarcou, então, para os Estados Unidos e concluiu seu curso na Universidade da Filadélfia, após o que trabalhou como engenheiro nas estradas de ferro Central do Brasil e Central de Pernambuco. Fez algumas excursões pelo país, mas, a partir de 1900, fixou-se definitivamente em Recife.
Casado com Marieta Siqueira, com quem teria oito filhos, Alfredo de Carvalho ainda trabalhou como engenheiro em usinas de açúcar, mas seu principal interesse era o Jornalismo, no qual ingressara como redator do periódico “Cidade de Santos”. Em Recife, publicou artigos e ensaios no “Diário de Pernambuco”, no “Jornal do Recife” e em diversos outros veículos, inclusive revistas acadêmicas. Além desses textos, em que expressava um forte orgulho e senso de identidade como pernambucano, publicou livros que permeavam o tema, tais como “Estudos pernambucanos” e “O Tupi na corografia pernambucana” (ambos de 1907), bem como traduziu livros de viajantes estrangeiros. São dele as traduções de “Diário de um soldado da Companhia das Índias Ocidentais : 1629-1632”, de Ambrósio Richshoffer, e de “O Diário de expedição de Mathias Beck ao Ceará em 1840”, entre outras.
Alfredo de Carvalho se destacou ainda como historiador da imprensa brasileira – o melhor de sua época, segundo o crítico José Veríssimo, para quem o pernambucano era “um brasileirista sincero e honesto” como raramente se via. Foi ele o principal responsável por afastar a hipótese de uma tipografia holandesa no Brasil nos tempos da colônia, analisando minuciosamente a correspondência entre os governantes holandeses no Brasil e a direção da Companhia das índias Ocidentais. Publicou livros e artigos sobre a imprensa de Pernambuco e da Bahia e coordenou pesquisadores de vários estados para escrever o estudo “Gênese e progresso da imprensa periódica no Brasil”, que se propunha a tarefa de listar todos os periódicos lançados durante os cem anos da imprensa no país. A obra foi publicada em 1908 pela Revista do IGHB, uma das instituições à qual Alfredo de Carvalho era associado. Correspondia-se também com a National Geographic e a Anthropological Society, de Washington, Estados Unidos, além de várias outras entidades literárias e científicas.
Embora houvesse nascido numa família de posses, Alfredo de Carvalho gastou boa parte do seu patrimônio em pesquisas e na aquisição de uma grande biblioteca de livros raros. Chegou a enfrentar dificuldades materiais antes de falecer, em 1916, na cidade onde nascera e escolhera viver após várias viagens pelo Brasil e pelo mundo.
A Coleção Alfredo de Carvalho na Biblioteca Nacional foi comprada em 1920 por intermédio de Sylvio Cravo, que representava a viúva do titular. Outros cinco documentos, também adquiridos de Cravo, foram incorporados em 1962. O acervo é composto por textos originais, vários dos quais inéditos e destinados a uma publicação de título “Aventuras e aventureiros no Brasil”, que acabou por sair em 1929 pela Irmãos Pongetti; alguns trabalhos de tradução; e cerca de 1.300 fichas manuscritas, referentes à biblioteca particular de Alfredo de Carvalho.
O documento que ilustra este post é o manuscrito assinado “Um companheiro de Bolívar: o general Abreu e Lima”. Está assinado pelo autor, com a data 1910, e foi publicado pela “Revista Americana”.
Acesse: https://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss1450602/mss1450602.pdf
Ana Lúcia Merege (Seção de Manuscritos)