Notícias
Projeto de melhoramento do Porto do Rio de Janeiro
Fundo: Ministério da Viação e Obras Públicas
Código do fundo: 4Y
Notação: BR RJANRIO 4Y 0 MAP 119
Data do documento: 1888
Local: Westminster, Londres, Inglaterra
Folha(s): 8 de 13
Tamanho original: 63 cm altura x 97 cm de largura
Veja esse documento na íntegra
Ainda na primeira década do século XIX, a abertura dos portos às nações amigas de Portugal e a instalação da Corte no Rio de Janeiro determinaram profundas alterações na região litorânea da cidade. A possibilidade de comerciar produtos com outras nações que não a metrópole portuguesa trouxe, entre outras repercussões, um aumento significativo no fluxo de embarcações que tinham como destino o porto do Rio de Janeiro (LAMARÃO, 2006; HONORATO, MANTUANO, 2015). Obras já se tornavam, a essa época, necessárias e o príncipe regente d. João VI demarcou novas áreas para a edificação de armazéns e trapiches. Honorato e Mantuano ressalvam, entretanto, que
[o] que na época se considerava um porto não passava de um conjunto mal articulado e mal construído de trapiches de madeira onde encostavam pequenas embarcações que levavam cargas destinadas aos navios que, por sua vez, permaneciam fundeados ao largo, em profundidade precavida do movimento das marés [...]. (HONORATO; MANTUANO, 2015, p. 147).
O comércio do café, principal produto de exportação do Brasil, incrementou as atividades portuárias da cidade do Rio de Janeiro e o seu porto tornou-se o maior do país no século XIX. A atividade portuária mobilizava uma grande variedade de profissionais e negócios e a cidade era a sede da “[...] Alfândega Nacional e [d]as principais empresas de navegação internacional, de bancos e de empresas de importação e exportação [...]” (HONORATO; HONORATO, 2020, p. 4). Na segunda metade do século XIX interessava, portanto, integrar o transporte marítimo de cargas e passageiros aos modernos meios de transporte e comunicação de forma a garantir os fluxos entre os mercados produtor, distribuidor e consumidor.
A planta apresentada integra um dos vários projetos elaborados com a finalidade de promover melhorias nas condições de funcionamento do porto. O Projeto de Melhoramento do Porto do Rio de Janeiro foi aprovado a menos de dois meses da Proclamação da República pelo Decreto 10.372, de 28 de setembro do 1889, que concedeu a Francisco de Figueiredo (1843-1917), visconde de Figueiredo, ou à companhia por ele organizada, autorização para construir várias obras de melhoramento na cidade e no porto do Rio de Janeiro. O banqueiro, cuja trajetória incluiu a presidência da Companhia Nacional de Paquetes a Vapor e a diretoria do Banco do Brasil, foi autorizado a construir e estabelecer uma bacia abrigada no porto do Rio de Janeiro para a prestação de navios; um sistema de cais providos com guindastes hidráulicos e elevadores, trilhos e desvios de estradas de ferro; armazéns e alpendres; uma via férrea para comunicar as docas e os armazéns com a Estrada de Ferro d. Pedro II; uma área de terreno, contígua às docas, suficiente para construção de edifícios destinados ao comércio (BRASIL, 1889).
A parte gráfica do projeto foi consolidada em um álbum, com um total de treze folhas, assim organizado: a capa consiste em uma aquarela com vista do porto do Rio de Janeiro realizada pelo arquiteto britânico Charles Henry Driver (1832-1900), pioneiro no uso do ferro em trabalhos ornamentais e autor do projeto da Estação da Luz, em São Paulo/SP, uma das mais importantes estações ferroviárias daquela cidade. Na sequência, uma planta do porto do Rio de Janeiro, elaborada a partir de observações de J. de Lamare, capitão da marinha brasileira, com adições realizadas pelo capitão e pesquisador oceanográfico britânico E. Owen Stanley. As demais plantas contêm detalhes do projeto como armazéns de importação e exportação e uma ponte interligando a então chamada Praça d. Pedro II, hoje Praça XV, e as docas projetadas, em dois planos: um, superior, para a estrada de ferro e outro, inferior, para carros e passageiros.
As plantas do projeto são assinadas pelo engenheiro civil escocês James Brunlees (1816-1892) e pelo engenheiro civil Alexander McKerrow (1837-1920). Brunlees era um dos maiores especialistas no setor ferroviário à época e foi responsável também pelo plano e orçamento da obra. Autor de um dos projetos para o Channel Tunnel, túnel para interligar Inglaterra e França, ideia acalentada já no início do século XIX, foi encarregado dos estudos e construção da São Paulo Railway por Irineu Evangelista de Sousa, Barão de Mauá, em 1856 (SOUSA, 2022). A ferrovia foi a segunda a ser construída no Brasil interligando as cidades de Santos, São Paulo e Jundiaí pela Serra do Mar. Seus planos e seções foram elaboradas por Brunlees, bem como relatórios e estimativas necessárias para a organização da companhia na Inglaterra. Brunlees e McKerrow possuíam um escritório em Londres, na afamada Victoria Street, conforme indicado nas plantas e na The Business Directory of London and provincial and foreign trade guide (Morris, 1884, p. 266), lista de endereços comerciais da mesma cidade.
O conjunto de mapas é manuscrito em português e em cores, possuindo escalas variadas. As folhas de números 2 a 13 possuem carimbo onde se lê “Ministério da Agricultura. Diretoria das Obras Públicas. Aprovado por Decreto nº 10.372, de 28 de setembro de 1889”.
Referências
BRASIL. Decreto no 10.372, de 28 de setembro do 1889. Concede ao Visconde de Figueiredo, ou à companhia que organizar, autorização para construir várias obras de melhoramento na cidade e no porto do Rio de Janeiro. Coleção de Leis do Império do Brasil de 1889. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-10372-28-setembro-1889-541527-publicacaooriginal-52150-pe.html. Acesso em: 1 jun. 2023.
HONORATO, Cezar; HONORATO, Lucas Tavares. A construção do Porto do Rio de Janeiro e a Caixa Especial dos Portos: reordenamento territorial e desenvolvimento. América Latina en la historia económica, v. 27, n. 3, México 2020. Disponível em: http://alhe.mora.edu.mx/index.php/ALHE/issue/view/90. Acesso em: 29 jun. 2023
HONORATO, Cezar; MANTUANO, Thiago Vinícius. O que era o trapiche? O porto e a cidade do Rio de Janeiro no século XIX. Revista Acervo, v. 28, n. 1, Rio de Janeiro, 2015. p. 144-158. Disponível em: https://revistaacervo.an.gov.br/index.php/revistaacervo/%20article/view/596. Acesso em: 29 jun. 2023
LAMARÃO, Sérgio Tadeu de Niemeyer. Dos trapiches ao porto: um estudo sobre a área portuária do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal das Culturas – Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, 2006.
THE business directory of London and provincial and foreign trade guide (L’Annuaire du Commerce de Londres). Londres: J. S. C. Morris, 1884. University of Leicester Special Collections Online. Disponível em: https://specialcollections.le.ac.uk/digital/collection/p16445coll4/id/273972/rec/4
SOUSA, Diógenes Rodrigues. Nas redes do Pari: os armazéns da São Paulo Railway no contexto urbanístico de São Paulo em fins do século XIX. Tese de doutorado em História Social. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2022. 234 p. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/29573. Acesso em 30 jun. 2023.