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Planta da linha de carris de ferro ligando o centro da cidade às praias da Saudade e Copacabana - Tipos de carro
Fundo: Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas
Código do Fundo: 4M
Notação: BR RJANRIO 4M 0 MAP 0011 m0026de0029
Data do documento:25 de junho de 1883
Local: Rio de Janeiro
Folha(s): 1
Tamanho original: 72 cm x 115 cm
Veja esse documento na íntegra
A cidade do Rio de Janeiro, capital do Império e maior cidade brasileira no século XIX, havia se expandido de forma significativa, embora sua área mais central mantivesse características coloniais. Densamente povoada, a região central agregava funções residenciais, comerciais e administrativas, ensejando intensa circulação de indivíduos e mercadorias. A historiadora Elizabeth von der Weid descreve a área central do Rio de Janeiro no período:
As ruas eram estreitas e sinuosas, algumas pavimentadas de pé-de-moleque, mas a maioria esburacada e sem tratamento, o que dificultava o tráfego de qualquer tipo de transporte que se tentasse estabelecer. Desde a colônia havia escravos que transportavam mercadorias, e cruzavam com vendedores ambulantes levando cestos ou tabuleiros e burricos com jacás de hortaliças, frutas ou outras cargas. Havia todo tipo de animais pelas ruas, e uma multidão em constante burburinho. Os veículos eram de tração animal: carroças, carruagens, tílburis e diversos outros (2005, p. 16473-16474).
Os carregadores negros, principalmente escravizados e libertos, foram representados com frequência em gravuras nas obras de viajantes estrangeiros que visitaram a cidade na primeira metade do século XIX. Sua mão de obra era empregada tanto para o transporte de indivíduos em liteiras quanto para o transporte de cargas nos ombros ou sobre suas cabeças. O historiador Paulo Cruz Terra salienta que os carregadores negros foram descritos, naquelas obras, como:
[...] responsáveis por vários serviços básicos da sociedade carioca, como o transporte de água, de alimentos, de mortos, de doentes, retirada de lixo, além da realização de mudanças. Eles possuíam ainda uma importância fundamental na condução de mercadorias, principalmente relacionado à Alfândega. [...] Além do carregamento sobre os ombros ou cabeça, no caso de grandes mercadorias, eles poderiam também utilizar recursos para auxiliar o transporte, como palanques sobre rodas. Porém a força motriz ainda era a humana (TERRA, 2012, p. 30).
Na segunda metade do século XIX, o transporte coletivo na cidade do Rio de Janeiro era realizado, de forma concomitante, por trens suburbanos, bondes, diligências, gôndolas e ônibus, sendo os quatro últimos puxados por cavalos, burros ou mulas. As cargas eram transportadas em carroças e o transporte para número reduzido de passageiros, realizado em tílburis ou calèches (WEID, 2005, p. 16474). A mesma autora (WEID, 2005) atenta para o uso de embarcações para transporte de pessoas e cargas, interligando diferentes embarcadouros existentes na cidade.
A implantação das linhas de carris no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX ocorreu com recurso ao capital estrangeiro. Formaram-se companhias de transporte que implantaram o sistema de carris – trilhos paralelos de ferro por onde circulavam os veículos -, com o propósito de transportar mercadorias, com destaque para o café, e passageiros. O fato de a cidade abrigar o principal porto de exportação de café à época tornava o transporte de mercadorias um negócio bastante lucrativo.
O documento cartográfico aqui apresentado integra um conjunto com 29 plantas da linha de carris de ferro ligando o centro da cidade às praias da Saudade e Copacabana. O documento é composto por quatro desenhos de tipos de carro: dois modelos de carro para transporte de passageiros, um para o transporte de cargas e um para o serviço de incêndio. O documento, produzido pelo topógrafo Conrado Jacob de Niemeyer, é manuscrito, desenhado em cores, sem escala e contém carimbo onde se lê “Ministério da Agricultura. Diretoria das Obras Públicas. Arquivo”.
Referências
TERRA, Paulo Cruz. Cidadania e trabalhadores: cocheiros e carroceiros no Rio de Janeiro (1870-1906). 2012. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2012.
WEID, Elisabeth von der. Os transportes sobre trilhos e a expansão da cidade do Rio de Janeiro – 1852/1914. Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo.