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Melhorias progressivas do Palácio de São Cristóvão (Quinta da Boa vista), de 1808 a 1831
Acervo: Obras Raras da Biblioteca Maria Beatriz Nascimento
Código: OR
Notação: OR 1909
Dados da publicação:
DEBRET, Jean Baptiste. Voyage pittoresque et historique au Brésil, ou Séjour d’un Artiste Français au Brésil, depuis 1816 jusqu’en 1831 inclusivement, époques de l’avénement et de l’abdication de S. M. D. Pedro 1er.... Paris: Firmin Didot Frères, 1834-1839.
Volume: terceira parte
Prancha: 20 – Melhorias progressivas do Palácio de São Cristóvão (Quinta da Boa vista), de 1808 a 1831.
O pintor e desenhista Jean Baptiste Debret integrou a Missão Artística Francesa que aportou na cidade do Rio de Janeiro em 1816. O pintor de história, de formação neoclássica, residiu no Brasil por um período de quinze anos. Dessa permanência na cidade e da viagem que fez à região sul, passando por São Paulo, resultou a obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, publicada em três volumes, entre 1834 e 1839, em Paris. Composta por pranchas e textos detalhados sobre as cenas retratadas e o cotidiano da cidade, a Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil adensou a iconografia sobre o país, registrando as peculiaridades da vida na Corte.
Silva (2020, p. 57) detalha o processo de produção da obra, identificando “[...] uma sequência de procedimentos em sua produção, dentre os quais evidenciamos primeiramente os esboços produzidos na rua, as aquarelas produzidas no seu ateliê e, posteriormente, a produção das gravuras sob a técnica da litografia quando Debret decide retornar à França.”. A obra foi litografada pela Oficina Thierry Frères, sucessor de Engelmann, e editada por Firmin Didot Frères, prestigiosa editora reconhecida por suas edições ilustradas dos clássicos e pelo desenho de uma família de fontes tipográficas conhecida como Didot.
A prancha de número 20, que compõe a terceira parte da obra, acompanha as sucessivas reformas pelas quais passou o Palácio de São Cristóvão, à época também conhecido como Paço de São Cristóvão, antiga residência do comerciante luso-libanês Elias Antônio Lopes que a presenteou a D. João. De acordo com DANTAS (2007b, p. 3), “[a] Chácara tinha uma vista privilegiada do alto do terreno: de um lado, via-se o mar, e, do outro, a floresta da Tijuca e o Corcovado. Assim, devido à sua beleza, ficou conhecida como Quinta da Boa Vista [...]”.
As primeiras melhorias efetuadas, ainda por d. João, tinham como modelo o Palácio Real da Ajuda, em Portugal. No texto que escreveu a respeito da sequência de desenhos, Debret informa que um arquiteto inglês[1] “[...] substituiu a simplicidade uniforme daquela chácara por uma decoração exterior de estilo gótico muito mais digna de uma corte europeia [...]” (DEBRET, 1834-1839, grifo do autor).
Durante o Primeiro Reinado, ocorreram reformas conduzidas pelo arquiteto português Manoel da Costa, responsável pela escadaria em semicírculo que pode ser observada no registro datado de 1822 na prancha aqui reproduzida. Posteriormente, o arquiteto e engenheiro francês Pierre Joseph Pézerat foi encarregado da construção do segundo torreão, presente no registro de 1831.
Outras obras se seguiram durante o reinado de d. Pedro II, monarca que por mais tempo residiu no palácio “[...] desde seu nascimento, em 1825, até o banimento da família imperial, em 1889.” (DANTAS, 2007 a, p. 25). Essas reformas acentuaram o estilo neoclássico do prédio, acrescentando-lhe estátuas de deuses gregos no telhado, pinturas nas Salas do Trono e do Corpo Diplomático, construção do Observatório Astronômico do Imperador e embelezamento do jardim por Auguste François Marie Glaziou (DANTAS, 2007b, p. 6), acréscimos que estão entre as obras mais significativas desse período.
A edificação ainda abrigaria, após a Proclamação da República, o Congresso Nacional Constituinte e o Museu Nacional[2]. Em 2 de setembro de 2018, ano do bicentenário do Museu Nacional, um incêndio de grandes proporções destruiu a edificação e a maior parte dos vinte milhões de itens nela abrigados.
Referências
DANTAS, Regina Maria Macedo Costa. A Casa do Imperador: do Paço de São Cristóvão ao Museu Nacional. 2007. Dissertação (Mestrado em Memória social) - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007 a. Disponível em: https://www.museunacional.ufrj.br/casadoimperador/img/Dissertacao%20-%20A%20CASA%20DO%20IMPERADOR.pdf.
______. Casa do Imperador: do Paço de São Cristóvão ao Museu Nacional. In: OLIVEIRA, Antônio José Barbosa (Org.). A universidade e os múltiplos olhares de si mesma. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fórum de Ciência e Cultura e Sistema de Bibliotecas e Informação, 2007b. p. 173-189. Disponível em: http://www.museunacional.ufrj.br/semear/docs/Livros/livro_DANTAS-REGINA.pdf
DEBRET, Jean Baptiste. Voyage pittoresque et historique au Brésil, ou Séjour d’un artiste français au Brésil, depuis 1816 jusqu’en 1831 inclusivement, époques de l’avénement et de l’abdication de S. M. D. Pedro 1er... . Paris: Firmin Didot Fréres, 1834-1839.
SILVA, Maria Luíza Moreira da. Do esboço à impressão: o processo de criação e produção em Jean-Baptiste Debret nas ilustrações do Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1835). 2020. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Universidade Federal da Paraíba/Universidade Federal de Pernambuco, João Pessoa/Recife, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/21068?locale=pt_BR.
[1] Trata-se do arquiteto John Johnson “[...] enviado ao Brasil pelo quarto duque de Northumberland e embaixador da Inglaterra, o Lord Percy (1792-1865), para providenciar a colocação de um imponente portão – presente do duque para D. João [...].” (DANTAS, 2007b, p. 4).
[2] O sítio eletrônico do Museu Nacional pode ser consultado em https://www.museunacional.ufrj.br/index.html.