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Mapa arquitetural da cidade do Rio de Janeiro, parte comercial
Fundo: Ministério da Justiça e Negócios Interiores
Código: 4T
Notação: BR RJANRIO 4T.0.MAP.4
Data do documento: 1874
Local: Rio de Janeiro
Folhas: 1 e 2
A forma urbana da cidade do Rio de Janeiro foi sendo alterada, de maneira mais intensa, durante o século XIX. A cidade foi, paulatinamente, se desconcentrado dos limites geográficos dos morros do Castelo, São Bento, Santo Antônio e Conceição, e ganhando espaço aos então chamados “sertões” (ABREU, 1988, p. 35). No mesmo estudo, o geógrafo Maurício Abreu analisa como a cidade foi influenciada, na segunda metade daquele século, por duas lógicas – a escravista e a capitalista -, e como o reflexo do conflito entre elas atingiu o espaço urbano.
A área apresentada no mapa arquitetural é justamente aquela que, a partir da década de 1850, vai receber importantes intervenções urbanísticas promovidas pelo Estado e pelo capital estrangeiro, como calçamento com paralelepípedos em várias de suas ruas, iluminação a gás e esgoto sanitário. Era na freguesia da Candelária que estavam instalados “[...] grande parte do comércio importador e exportador, as grandes casas comerciais, vários consulados, bancos e companhias de navegação [...]” (ABREU, 1988, p. 42). O documento cartográfico aqui apresentado detalha essas edificações existentes nas freguesias de Sacramento, São José, Candelária e Santa Rita, realçando o desenho arquitetônico das suas várias fachadas.
As intervenções urbanísticas, entretanto, não ocorreram de maneira homogênea. O adensamento populacional na cidade, para o qual contribuiu de forma decisiva o processo de imigração europeia, também se acentuou na segunda metade do século XIX. De acordo com estudo coordenado pelo Observatório das Metrópoles, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em conjunto com a Central de Movimentos Populares, a cidade experimentou um “[...] salto demográfico, passando de 266 mil para 522 mil habitantes [...]” entre 1872 e 1890 (OS CORTIÇOS..., 2019, p. 18). A insuficiência de moradias e o custo dos meios de transportes associaram-se à oferta de trabalho concentrada na região, ocasionando o que o estudo identificou como condições que “[...] forçaram, assim, a população a aglomerar-se nos bairros do centro, apinhando-se nos cortiços que se multiplicavam.” (OS CORTIÇOS..., 2019, p. 18).
O documento ora apresentado recorta o Rio de Janeiro justamente no quadrilátero formado pelos morros do Castelo, São Bento, Santo Antônio e Conceição, todos com algum trecho indicado no mapa. O registro se detém, entretanto, nas edificações administrativas, religiosas, comerciais e de serviços. Estão lá o Palácio Imperial, hoje conhecido como Paço Imperial, e vários templos religiosos católicos. É possível observar igualmente toda uma série de edificações destinadas às atividades econômicas, como escritórios comerciais; a Alfândega, suas docas e armazéns; e diferentes cais. Estão indicados também elementos do espaço que não mais existem, como os passadiços que interligavam o Palácio Imperial ao Antigo Convento do Carmo e este à Capela Imperial. O mapa também aponta o Boulevard Carceller, nome dado ao entorno da Sorveteria Carceller, localizada na antiga rua Direita, hoje conhecida como rua Primeiro de Março, além de diversas praias posteriormente erradicadas por reformas urbanísticas.
O Mapa arquitetural da cidade do Rio de Janeiro, parte comercial, é datado de 1874 e integra o fundo do Ministério da Justiça e Negócios Interiores (4T). O documento cartográfico impresso foi produzido em cores, em escala numérica 1:800, tendo como topógrafo responsável o Engenheiro Militar João Rocha Fragoso, que atuou na Diretoria de Obras Militares da Corte e foi professor da Antiga Escola de Engenharia. Suas dimensões são 107 centímetros de altura e menores por 71 centímetros de largura e menores. O documento possui ainda um inserto, sem escala, com a planta da cidade do Rio de Janeiro do Aterrado a Botafogo. No mapa consta a relação de endereços de bancos, casas comerciais, companhias de seguros, companhias de navegação, jornais, periódicos ilustrados, companhia telegráfica, além da indicação de freguesias e de ruas da cidade.
Referências
ABREU, Maurício. Evolução urbana do Rio de Janeiro. 2. ed. Rio de Janeiro: IPLANRIO/ZAHAR, 1988.
OS CORTIÇOS na área central do Rio de Janeiro: invisibilidade, heterogeneidade e vulnerabilidade. IPPUR/Observatório das Metrópoles/Central de Movimentos Populares, 2019. Disponível em: https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/wp-content/uploads/2019/07/Relat%C3%B3rio-final-Corti%C3%A7os-_-jul-2019.pdf.