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Exposição internacional da Filadélfia, 1876
Fundo: Fotografias Avulsas
Código do fundo: O2
Notação: BR_RJANRIO_O2_0_FOT_0474_m0002de0011
Data do documento: 1876
Local: Filadélfia, Pensilvânia, Estados Unidos da América
Folha: -
Tamanho: 21 cm x 26 cm
Veja esse documento na íntegra
“Se as exposições universais não podem, ainda, por parte do Brasil, servir para competência industrial, é inegável, que lhe têm proporcionado ensejo para ser melhor conhecido, e apreciado, como região agrícola de solo fertilíssimo, e nacionalidade pacífica; inteligente, e laboriosa.” (Advertência. O Império do Brasil na Exposição Universal de 1876 em Filadélfia. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1875, s.p.)
As exposições universais (ou internacionais) no século XIX foram grandes feiras ou mostras nas quais os países europeus e suas colônias e outros estados independentes, como Estados Unidos e Brasil, por exemplo, reuniam e exibiam o que havia de melhor em seus produtos industriais. Eram grandes espetáculos do progresso que sobretudo a burguesia industrial das nações “civilizadas” europeias organizavam para vender seus produtos, seu modo de vida e sua ideologia para as outras nações do mundo. “Arenas pacíficas” em que os países mais industrializados disputavam a primazia no mundo, em que reafirmavam seu progresso e sua civilização na comparação com os países menos desenvolvidos, tidos como bárbaros ou atrasados, como as colônias africanas, asiáticas e os países americanos, com exceção dos Estados Unidos, e em que procuravam disciplinar as massas de trabalhadores. Os países que sediavam a mostra convidavam outros países para participar e trazer o que havia de melhor entre sua produção para exibi-la. A primeira exposição de caráter universal aconteceu em Londres, em 1851, quando foi construído o icônico Palácio de Cristal, que abrigou os estandes dos países participantes. O Brasil só passou a integrar as exposições depois de 1862, outra que aconteceu em Londres. Para se preparar, o Brasil organizava mostras nacionais antes das grandes exposições com vistas a selecionar e reunir o que havia de melhor na produção nacional. Embora o que se esperasse mais encontrar nas exposições fossem os produtos industrializados, fruto do “gênio” e criatividade do homem para tornar a vida mais moderna e fácil, países como o Brasil também expunham seus produtos naturais. Apesar de querer sempre se apresentar como um país civilizado, o Brasil era considerado um país fornecedor de matéria-prima e agricultura, famoso e conhecido por suas florestas, seu gentio, e pela presença inegável, embora incômoda, da escravidão. Nada falava tanto sobre o atraso e a barbárie do país quanto o sistema escravista, que se procurava esconder, mas que estava evidente no café, chá, açúcar, algodão, guaraná, borracha, tabaco, madeiras, couros exibidos nos estandes brasileiros. Outros produtos com frequência exibidos eram os de origem indígena, como os artefatos dos índios, armas, redes, cerâmica marajoara, plantas exóticas e outros itens. Não se pode dizer que o Brasil não levasse para as exposições o que havia de mais moderno na indústria e manufatura nacional: armamentos, máquinas, peças de estradas de ferro e locomotivas, e materiais da construção civil eram também levados para o exterior e exibidos como prova do progresso do país e de seu pertencimento ao concerto das nações civilizadas, no entanto, o que chamava a atenção do público e dos outros expositores eram os produtos agrícolas, minerais e naturais, que lembravam mais o estágio pouco desenvolvido do progresso brasileiro.
Embora as exposições, assim como grandes feiras de produtos, fossem voltadas para a divulgação de produtos e o fechamento de grandes negócios entre as empresas participantes, no caso brasileiro o lucro obtido não era a razão preponderante para participar das exposições. Como se lê na epígrafe que abre esse texto, o Brasil não pretendia fechar grandes negócios (embora isso possa ter acontecido), mas mais fazer propaganda de seu estágio de civilização, sobretudo se em comparação com os outros países da América Central e do Sul, que não mandavam delegações para representá-las nas exposições. O Brasil, único império nos trópicos, se colocava, assim, como herdeiro e parte do projeto civilizatório europeu nas Américas, apesar de seu passado colonial atrasado e do sistema escravista de trabalho.
A fotografia acima é do estande brasileiro, de inspiração mourisca, na exposição internacional da Filadélfia (uma das poucas realizadas fora do continente europeu) no ano de 1876. A Centennial Exhibition foi uma das maneiras encontradas pelos estadunidenses para celebrar o primeiro centenário de sua Independência, ocorrida em 1776. Essa exposição foi singularmente importante e teve destacada participação do Brasil, que a essas alturas já estava se recuperando do período de crise provocado pela Guerra do Paraguai (1865-1870). A fotografia era da Centennial Photographic Company, empresa fotográfica oficial do evento, do fotógrafo escocês-canadense William Notman, presidente da companhia, e associados.
A exposição, inaugurada em 10 de maio de 1876, contou com a participação luxuosa do imperador d. Pedro II, que juntamente com o presidente dos Estados Unidos Ulysses Grant, abriu o evento, acionando a imensa máquina Corliss, cujo funcionamento ativava o de todas as outras máquinas do grandioso pavilhão que abrigava os estandes dos países convidados no Fairmount Park. D. Pedro II era grande incentivador da participação do Brasil em todas as exposições universais, cuidava pessoalmente e de perto da seleção dos produtos que seriam levados para os países sede, e era grande entusiasta da ciência e do resultado da produção do “gênio” humano. Um dos destaques da Exposição da Filadélfia foi a apresentação do primeiro telefone, por Alexander Graham Bell, que encantou o monarca, que prontamente encomendou a invenção para o Brasil.
O país contava ainda com um palacete exclusivo para exibição de seus produtos e uma inovação, o Café Brasil, um pequeno pavilhão com direito a mesinhas para degustação gratuita dos produtos brasileiros, principalmente o café, mas também o mate e chás. Foi uma maneira de promover os muitos expositores de café que levaram seus produtos para a exposição, apesar dos prejuízos que tal iniciativa causaram, uma vez que o governo contribuiu com apenas três contos de réis para ajudar no estande.