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Cisplatina (1A)
Nome dado a uma província do Império português e posteriormente do Império brasileiro que compreendia o território do Uruguai, também chamada de Banda Oriental. Havia interesse da Coroa portuguesa desde a descoberta de metais preciosos na América hispânica e o escoamento da produção pelo rio da Prata em tomar conta da região da margem esquerda do estuário do Prata.
Em 1816 d. João invade a banda oriental (em um contexto de crise no sistema colonial espanhol e de invasões napoleônicas) como compensação pela perda de Olivença para a Espanha. A região já se encontrava em efervescência devido às lutas de facções locais desde a queda da Coroa espanhola em 1808. Havia partidários da independência (republicanos e monarquistas), partidários de uma aliança com Buenos Aires, e partidários de uma integração com o Brasil. Nesse contexto, as tropas luso-brasileiras, comandadas pelo general Carlos Frederico Lecor sitiaram Montevidéu, que capitulou em 1817, mas os conflitos continuaram até 1821, quando o congresso cisplatino deliberou que a região fosse anexada ao reino unido de Portugal, Brasil e Algarves, com o nome de província Cisplatina, mantendo leis, idioma, costumes locais, inclusive os funcionários civis e militares.Com o movimento de independência do Brasil, a província continuou a integrar o território brasileiro, mas enfrentou resistência dos portugueses para aderir à causa do Brasil. O general Lecor assume as tropas brasileiras e luta contra as portuguesas pela permanência da Cisplatina como parte do Brasil, saindo vitorioso em 1824. Em 1825, um grupo rebelde liderado por Juan Antonio Lavalleja e apoiado pelos pequenos estancieiros locais proclamou a separação da Cisplatina do Brasil, com adoção de regime republicano e incorporação às Províncias Unidas do Reino da Prata (posteriormente, Argentina). A partir de 1825 iniciou-se uma guerra entre Brasil e as Províncias Unidas, representadas por sua sede em Buenos Aires, pela posse da banda oriental. D. Pedro I tentava defender a honra nacional e a integridade do império pela manutenção da província Cisplatina, o que representaria também uma vitória da Monarquia sobre as Repúblicas independentes que surgiam pela América.
Apesar da força bélica e militar, o Brasil não conseguia vitórias na Campanha e o prolongamento da guerra levou a uma grave crise financeira pela parte do Império, o que trouxe grandes críticas por parte dos brasileiros contra a guerra e o próprio d. Pedro I. A partir de 1827 começou-se a costurar um tratado de paz mediado pela Inglaterra, que tinha muitos interesses na região do Prata, e na resolução do conflito. A paz veio em agosto de 1828, e representou uma derrota para Brasil: nascia a República Oriental do Uruguai, estado independente.
A perda da Cisplatina foi um grande golpe para d. Pedro I e para a “dignidade” nacional: o império fragmentou-se e a guerra comprometeu gravemente
os cofres públicos, as tropas e a armada nacionais. A intervenção da Inglaterra na paz revelou certa subserviência do império brasileiro a esse país, que lucrou e se beneficiou do acordo, levando mesmo ao compromisso de decretação do fim do tráfico atlântico de escravizados, que ocorreu em 1831. O desastroso fim da Guerra da Cisplatina foi o primeiro passo em direção à derrocada do imperador, com sua abdicação em 1831.O fundo Cisplatina do Arquivo Nacional permite ao pesquisador acompanhar de perto os meandros de toda essa movimentação ocorrida na província de mesmo nome. Os numerosos ofícios, proclamações, mapas, listas, ordens do dia deixam ver o cotidiano das guerras cisplatinas, desde a invasão em 1816, com o comando do general Lecor, futuro barão de Laguna, passando pelas disputas entre portugueses e brasileiros no momento da Independência em 1822-1824, pela guerra propriamente dita entre 1825 e 1828, e até mesmo os reflexos das questões platinas que acabaram levando ao conflito no Prata em 1865, mais conhecido como Guerra do Paraguai.