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André Pinto Rebouças (OW)
André Pinto Rebouças nasceu em Cachoeira, na Bahia, em 3 de janeiro de 1838, em plena Sabinada, filho de Antônio Pereira Rebouças e Carolina Pinto Rebouças. Seu pai, filho de ex-escravizada e de um homem branco, foi um advogado autodidata, que teve autorização para atuar no país todo, liberal, que chegou a deputado pela província da Bahia e a conselheiro do imperador d. Pedro I.
A família Rebouças mudou-se para o Rio de Janeiro em 1846, e ele e o irmão Antônio, aos 15 e 16 anos, ingressaram na Escola Militar (precursora da Escola Politécnica) e formaram-se engenheiros militares em 1860. Partiram para uma viagem a Europa (1861-1862) para completar sua educação, e tiveram contato e puderam aprender com o mais moderno que a engenharia poderia oferecer naquela época. De volta ao Brasil em 1863, André e o irmão foram nomeados para examinar (e propor mudanças e reformas) as fortalezas de Santos até Santa Catarina, fixando-se nessa última província. Em 1864 foi designado para projetar o novo porto do Maranhão.
Em 1865, com a eclosão da Guerra do Paraguai, André voluntariou-se e serviu no batalhão dos engenheiros até 1866, quando retornou à corte por razões de saúde. Quando retornou ao Rio de Janeiro, envolveu-se com as obras do porto da cidade, tornando-se diretor das obras das novas Docas da Alfândega (na atual praça XV), visando a implementar novidades e modernizar os serviços portuários brasileiros. Constituiu a companhia privada das Docas da Alfândega e depois das Docas de Pedro II (entre os bairros da Saúde e da Gamboa).
No ano de 1872, André, homem negro, retorna a Europa e viaja para os Estados Unidos da América, viagem na qual experimentou o regime segregacionista norte-americano, tendo sido vítima de preconceito e discriminação, onde teve dificuldades até mesmo de conseguir um hotel para hospedar-se. Apesar dos problemas com sua cor, Rebouças encantou-se com o liberalismo norte-americano, mas manteve-se monarquista até o fim de sua vida.
A partir de 1876 ingressa como professor da Escola Politécnica no Rio de Janeiro e a partir dos anos 1880 envolve-se mais a fundo no movimento abolicionista, junto com os amigos Joaquim Nabuco e Afonso Taunay, participando de diversas sociedades em prol da libertação e emancipação dos escravizados. Um aspecto importante da contribuição de André Rebouças para a luta abolicionista foi pensar no que deveria ser feito com aqueles homens e mulheres uma vez considerados livres. Defendia que junto com a abolição deveria vir uma política de desapropriação e concessão de terras devolutas para os novos homens e mulheres livres e também para os imigrantes pobres tornarem-se pequenos agricultores, tendo de onde conseguir sua subsistência. A forma como a abolição se deu, sem nenhum plano que pensasse ou propusesse trabalho aos libertados, foi decepcionante para André. Mais ainda, foi a adesão dos antigos senhores de escravos e terras ao republicanismo, o que levou ao golpe que implantou a República em 1889. Monarquista convicto, Rebouças partiu para o exílio juntamente com a família imperial, abandonando seu emprego e os muitos projetos que tinha para o Brasil, e manteve-se próximo até o falecimento de d. Pedro II em 1891 (de quem era amigo pessoal). Depois da morte do ex-imperador, partiu para o continente africano, em busca de trabalhar para auxiliar a desenvolver e “civilizar” a África, e lá permaneceu durante alguns anos. Foi nesse período que André Rebouças assumiu suas raízes africanas, e decepcionou-se com a condição de exclusão, de pobreza e “atraso” dos africanos em seu próprio continente, explorado pelas nações europeias. Deprimido e decepcionado, Rebouças morreu na ilha do Funchal em 9 de maio de 1898, em circunstâncias incertas, tendo sido encontrado no pé de um precipício, aos 60 anos.
O pequeno fundo de André Rebouças foi doado ao Arquivo Nacional em 1973 por Maurício Hilário Barreto Nabuco de Araújo, filho de Joaquim Nabuco. Reúne poucos documentos, como impressos referentes a obras públicas, sobre a “escravidão branca” (como se referia à situação dos imigrantes europeus pobres que vinham substituir a mão de obra escravizada negra no Brasil), anotações diversas e sobre colônias penitenciárias. A Biblioteca Maria Beatriz Nascimento também conta com alguns livros de sua autoria.