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Engenheiro químico Antônio Gonçalves mostra a prata recolhida
O processo de microfilmagem, usado para a preservação de documentos, produz resíduos de prata que, se descartados, podem causar grande impacto ambiental. Atendendo à legislação da área, o Arquivo Nacional coleta a prata resultante do processo e já recolheu cerca de 3 quilos do metal.
O engenheiro químico idealizador do projeto, Antônio Gonçalves da Silva, trabalha há 29 anos na instituição e atua no Laboratório de Química da Coordenação de Preservação do Acervo (COPAC), setor que dá apoio às áreas do Arquivo Nacional e outras instituições públicas em temas relacionados à conservação. Uma das missões do laboratório é a pesquisa de nacionalização dos produtos utilizados na conservação e restauração de documentos.
Ascom - Como se iniciou o projeto de recuperação da prata?
Antônio - Antes do projeto, a solução residual era jogada pelo ralo. Nós sabemos que as consequências são graves, a poluição, a intoxicação de peixes e outros animais marinhos. Por volta do ano 2000, eu levei à proposta à coordenadora na época, Adriana Hollós, e organizamos uma rede de instituições públicas federais no Rio de Janeiro que microfilmavam documentos e passavam pelo mesmo problema. Com essa troca de informações e apoio, conseguimos a indicação do equipamento necessário para retirar a prata da solução residual do processo de microfilmagem. Deixamos de despejar na Baía de Guanabara cerca de 200 gramas de prata por ano, atendendo as leis ambientais sobre despejo de metais pesados.
Ascom - Qual é a importância da microfilmagem?
Antônio - Atualmente, o processo de digitalização é mais utilizado do que o de microfilmagem. O acervo microfilmado da instituição está sendo digitalizado, porque o consulente prefere consultar o acervo pelo documento digital. Na área de conservação, o microfilme é tido como microfilme de preservação, já que é consultado no lugar do original. A durabilidade do microfilme é muito maior do que a do digital. Além disso, o microfilme tem valor legal, porque possui as imagens de abertura e de encerramento padronizadas pelo Ministério da Justiça. O digital não tem valor legal, já que pode ser modificado em programas de edição de imagem, e por isso não é aceito como prova. Há uma legislação normatizada pela lei 5.733, de 8 de maio de 1968 e pelo decreto 64.398, de 24 de abril de 1969 sobre o uso de documentos microfilmados com efeito legal. No início da digitalização, muitos falaram da obsolescência do microfilme, mas o que eu tenho visto isso nas minhas andanças não é isso. Os grandes fabricantes de equipamento digital vieram a produzir máquinas para converter o microfilme em imagem digital. A grande questão ainda é o valor legal das imagens digitais.
Fragmentos de prata metálica retirados do equipamento, com resíduos (à direita) e a prata purificada (à esquerda)
Ascom - E como a prata é recolhida?
Antônio - No processo de microfilmagem primeiro você fixa a imagem para depois revelar. Na primeira etapa, o excesso de prata é removido para a solução, fazendo seu resíduo ter cerca de 4 gramas de prata por litro. Com o equipamento adequado, similar a uma célula eletrolítica, conseguimos transformar a prata dessa solução, que é iônica, em prata metálica. O Walney Dias Guimarães, que trabalha na revelação dos microfilmes, é quem separa as soluções. Se não fosse sua dedicação em armazená-la, este projeto não teria ido em frente.
Ascom - Como será utilizada a prata coletada?
Antônio - Bom, a ideia inicial era produzir lembranças para presentear visitantes como broches ou miniaturas. É preciso atuar nessa outra parte do projeto, ou seja, produzir algo com os quase 2 quilos de prata que acumulamos.
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Ascom
20 de abril de 2017