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Jaime Antunes: “Trabalhar num arquivo é uma grande responsabilidade”
Para celebrar o Dia do Arquivista (20 de outubro), a diretora-geral do Arquivo Nacional, Neide De Sordi, recebeu o professor Jaime Antunes da Silva, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, na última sexta-feira, para participar de uma roda de conversa sobre o ofício do arquivista.
Antunes, que também é historiador e arquivista, foi diretor-geral do Arquivo Nacional por 23 anos (1992-2016) e ajudou a conduzir diversos avanços na área de arquivos, como a instalação do Conselho Nacional de Arquivos ( Conarq ) e a criação do Sistema de Gestão de Documentos de Arquivo do Poder Executivo Federal ( Siga ).
No encontro com os colegas de profissão e, muitos deles, também ex-colegas de trabalho, o professor fez um histórico do surgimento do curso superior em Arquivologia no Brasil, a partir da formação que era oferecida no Arquivo Nacional, a exemplo dos cursos de Biblioteconomia, iniciado na Biblioteca Nacional, e de Museologia, advindo do Museu Nacional.
Tendo sido admitido no AN em 1964, foi um dos primeiros alunos do curso. Apesar de reconhecer a importância da Arquivologia em sua formação, Antunes ponderou que as equipes que desenvolvem trabalhos relativos aos arquivos devem permanecer multidisciplinares, como sempre defendeu ao longo de sua carreira. Segundo ele, “trabalhar numa instituição arquivística é uma grande responsabilidade”, uma vez que os arquivos exercem “uma função de Estado, embora não seja reconhecida como tal”.
O ex-diretor-geral aproveitou a oportunidade para contar histórias do AN, algumas delas desconhecidas, total ou parcialmente, pela maioria dos presentes, que ingressou na instituição a partir de 2006. A última mudança da sede, que ocupava o número 26 da Praça da República até 1985, foi uma delas. Toda a estrutura e o acervo foram movidos para o outro lado da praça, onde fica o endereço atual, no número 173, e a mudança foi feita em cerca de um mês. Antunes contou que, como o envio e o recebimento dos documentos estavam acontecendo ao mesmo tempo nos dois lugares, teve que atravessar de um lado para o outro incontáveis vezes, de carona na garupa de uma moto.
Outra história, não tão pitoresca mas igualmente memorável, foi a luta para a elaboração e aprovação da "Lei de Arquivos" , que enfrentou resistências e obteve apoios, até ser promulgada e publicada em 1991. Outro ponto de sua trajetória, por ele destacado, além da regulamentação do Conarq e da criação do Siga, foi o esforço para que o AN integrasse grupos internacionais de normatização e padronização da área de arquivos, o que possibilitou a tradução, adaptação e elaboração de instrumentos aplicados à realidade do setor no país.
Ao fim da roda de conversa, Neide De Sordi ressaltou a importância das memórias e do conhecimento transmitidos por Jaime Antunes, e pediu que ele retornasse para que seu depoimento pudesse ser registrado, de forma a integrar o acervo sobre a história da própria instituição.