Notícias
Entrevista com Diego Barbosa da Silva
Diego Barbosa da Silva, servidor do Arquivo Nacional desde 2006 e doutor em Estudos de Linguagem pela UFF, é o responsável pela Coordenação-Geral de Acesso e Difusão Documental (COACE) desde setembro de 2016. Nessa entrevista, ele fala sobre a reestruturação da COACE e os novos projetos para este ano.
- O que é a COACE? E quais são os novos projetos?
A COACE (Coordenação-Geral de Acesso e Difusão Documental), formada por 83 servidores, é responsável por todo o atendimento ao público e pela difusão do acervo da instituição. Cada uma das duas coordenações que a compõem se estruturam em cinco áreas.
A COCAC (Coordenação de Consultas ao Acervo) se divide em:
Atendimento Presencial, Atendimento a Distância, Biblioteca, Autenticação e Estudos do Usuário
. Os setores de
Atendimento Presencial
e
Atendimento à Distância
são responsáveis por manter o contato direto com o usuário do Arquivo Nacional, que pode ser o cidadão ou mesmo outras instituições públicas e privadas. Essas áreas são a ponta de toda a cadeia do atendimento, que começa na COACE e envolve a COPRA (Coordenação-Geral de Processamento e Preservação do Acervo). Elas agregam profissionais de referência capacitados para instruir os consulentes da instituição e orientá-los em suas buscas e na utilização dos nossos vários instrumentos de pesquisa.
Como forma de melhorar a qualidade do atendimento no AN, estamos implantando no Presencial uma sala de espera com um sistema de senha a fim de garantir o atendimento prioritário a gestantes, idosos e pessoas com deficiência, além de maior conforto aos nossos usuários e também para os nossos profissionais de referência. No Atendimento a Distância, estamos implantando, de forma piloto, o teletrabalho, que em outras instituições tem se mostrado muito positivo para o aumento da produtividade e para a melhoria da qualidade de vida do servidor. Cabe lembrar, que durante esse período de experimentação do teletrabalho, é fundamental que a instituição melhore o acesso remoto ao SIAN, às suas bases e aos instrumentos de pesquisa. Além disso, estamos planejando a implantação de uma Midiateca, a fim de disponibilizar acervos audiovisuais produzidos e recebidos pelo Arquivo Nacional.
Além dessas duas áreas, temos a Biblioteca, composta por profissionais de referência responsáveis pelo processamento técnico do acervo biblioteconômico que serve de referência para as atividades da instituição. Atualmente, esse acervo agrega 111 mil livros, periódicos, folhetos, entre eles cerca de 20 mil obras raras. Recentemente, a fim de dar maior visibilidade para a biblioteca do AN, realizamos um concurso pelas redes sociais para dar um nome a biblioteca. O nome vencedor foi aquele que recebeu apoio do Movimento Negro, o da historiadora sergipana Maria Beatriz do Nascimento, que foi estagiária da instituição e cujo acervo foi doado para o Arquivo Nacional em 1999. Como uma biblioteca precisa renovar constantemente seu acervo, estamos realizando neste momento, a aquisição de novos livros, sobretudo da área de Arquivologia. Outro importante setor da COCAC é a Autenticação, que além de autenticar os documentos, apoia o atendimento ao público, seja ele presencial ou a distância, sobretudo aquele referente à entrada de estrangeiros, como prontuários e processos de naturalização. Como vimos, recentemente, em matéria publicada pelo jornal O Globo, tivemos nos últimos anos um crescimento bastante significativo de pessoas que nos procuram em busca de documentos probatórios de seus antepassados para que possam solicitar uma cidadania estrangeira e deixar o país em busca de melhores condições de vida. Desse modo, fundos como o Serviço de Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras – RJ já ocupa, neste ano a terceira posição dos mais consultados da instituição, ultrapassando diversos fundos de registro civil, que sempre foram os mais consultados do AN.
A última área da coordenação é uma área nova, o Núcleo de Estudos do Usuário, criado para compreendermos melhor quem é o usuário do AN e quais as suas necessidades. As primeiras pesquisas nos revelaram que cerca de 80% dos usuários têm nível superior e veem buscando comprovação de direitos, ou seja, quer sua certidão de nascimento ou a comprovação de que seu antepassado era estrangeiro, e em menor volume, a pesquisa acadêmica. O interessante disso é questionar que em um país onde apenas 13% de sua população adulta tem nível superior, de acordo com o IBGE, por que aquele cidadão com menor escolaridade não vem pesquisar no Arquivo Nacional?
Com o Núcleo, vamos ainda medir a satisfação do usuário e melhorar a qualidade no atendimento, e fornecer dados fundamentais para que a COPRA possa elaborar instrumentos cada vez mais precisos e de acordo com o que deseja os nossos consulentes. Além dessas iniciativas, o setor organizará periodicamente o evento “Com a palavra, o usuário”, retomando uma atividade antiga da instituição, que é a de convidar um usuário para dizer aos servidores como foi pesquisar no AN e nos dizer quais foram as dificuldades encontradas. O primeiro evento será, a propósito, na próxima semana, dia 30 de março, às 14h, no miniauditório.
A COPED (Coordenação de Pesquisa e Difusão do Acervo) é constituída pelos setores: Pesquisa, Editoração, Programação Visual, Educação, Produção Cultural e o Núcleo da Revista Acervo.
A área de Pesquisa para difusão realiza pesquisas na área de Ciências Humanas sobre o acervo do AN e elabora exposições presenciais e virtuais, publicações, sites, postagens nas redes sociais e outros produtos. As exposições itinerantes cresceram muito no ano passado: tivemos uma em Macapá (Jango: a nossa breve história), uma em Porto Alegre (Memória do Mundo) e uma remontagem em Salamanca, na Espanha (O Rio do Morro ao Mar). O site História Luso-Brasileira já se consolidou como uma importante fonte de pesquisa para a história envolvendo Brasil, Portugal e os demais países de colonização portuguesa, dos séculos XVI ao XIX. Ademais, estamos trabalhando em um projeto para desenvolver um aplicativo de difusão por georreferenciamento, ou seja, marcando os locais onde foram produzidos os documentos que estão no AN, ou os locais sobre os quais os documentos façam referência, além de divulgar os arquivos públicos do país e os documentos registrados no Memória do Mundo (Unesco). A área está trabalhando também no lançamento da Brasiliana do Arquivo Nacional, semelhante a outras lançadas pela Biblioteca Nacional (2001) e pelo IHGB (2014) em comemoração aos 180 anos da instituição no próximo ano. Além disso, está se preparando a adesão ao AN em outra Brasiliana, a Fotográfica, projeto da Biblioteca Nacional e do Instituto Moreira Salles com a finalidade de disponibilizar e difundir na internet acervos fotográficos de diversas instituições.
A área de Editoração produz uma média de 10 livros por ano produzidos por todas as áreas da instituição, entre eles os vencedores dos concursos monográficos promovidos pelo AN – como o Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa – que em 25 anos já revelou grandes pesquisadores - , o Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas e o recém lançado Prêmio Nacional de Arquivologia/Maria Odila Fonseca, que vai premiar a melhor monografia, a melhor dissertação de mestrado e a melhor tese de doutorado na área de Arquivologia, a fim de apoiar a publicação de obras nessa área e retomar iniciativa da extinta Associação dos Arquivistas Brasileiros. Além disso, a área apoia a edição de periódicos como a Revista do Arquivo em Cartaz e os Cadernos do MAPA, da COGED. Uma novidade deste ano é que vamos participar pela primeira vez da Bienal do Livro e de várias feiras literárias pelo Brasil, com a associação do AN a ABEU – Associação Brasileira de Editores Universitários. A Programação Visual é o setor responsável pelo design de exposições, de publicações e de todo material gráfico de divulgação da instituição, como folders, postais, marcadores de livros, entre outros. Além disso, esses profissionais de referência fazem toda a concepção das capas das publicações, a arte para cartazes de eventos e dos concursos monográficos, a arte para informes na intranet e nas redes sociais. Dois produtos muito elogiados pelos usuários do AN foram os recém-lançados wallpapers, disponibilizados no portal da instiutição e o cartaz da 1ª Semana Nacional de Arquivos. Esse setor também será o responsável por criar e desenvolver os suvenires a serem vendidos na futura lojinha do AN, como lápis, imãs de geladeira, postais e documentos fac-símiles.
A Produção Cultural é uma área nova, criada a partir do antigo setor de Promoção Institucional e atende a uma demanda da sociedade civil, apresentada no Plano Nacional de Cultura, aprovado pelo Conselho Nacional de Política Cultural e pelo Congresso Nacional (Lei nº 12.343/2010), que reconhece arquivos, museus e bibliotecas como equipamentos culturais. Quando o diretor José Ricardo Marques chegou ao AN, eu apresentei a ele essa demanda de abrir os espaços do Arquivo Nacional para manifestações e expressões artísticas e culturais, e ele apoiou essa proposta. A Produção Cultural vai pensar a gestão da programação cultural da instituição, trazendo o teatro, a música, o cinema e a dança para o AN, além de lançar editais de ocupação artística para democratizar a utilização do espaço público ocioso aqui na instituição. Entre muitos eventos dessa área, podemos destacar o Festival Internacional de Cinema de Arquivo - Arquivo em Cartaz, feito em conjunto com a COPRA, como um grande evento que une a difusão do cinema de arquivo e a preservação do audiovisual. O setor ainda é responsável por organizar as visitas guiadas à instituição e como forma de ampliar e tornar a linguagem mais acessível estamos planejando oferecer visitas teatralizadas como já existe em outras instituições. Além disso, buscaremos transformar o pátio em uma praça aberta para o público, com bancos, criar uma loja de souvenires e uma livraria, e um café, bastante comuns em museus e em centros culturais.
Mais uma novidade é o setor de Educação, que foi criado pela nova gestão. Ele tem como missão apoiar pedagogicamente os cursos realizados pela instituição, criar a Escola Virtual do AN e viabilizar iniciativas voltadas para a educação patrimonial, entre outras. Um projeto bastante adiantado é o primeiro curso técnico de arquivo do país, na modalidade a distância, em uma parceria com o Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais. Estamos em treinamento dos professores, que serão servidores do AN e de outras instituições. Outro projeto é preparar o AN para a abertura de um curso de Mestrado Profissional, com foco em preservação digital e difusão cultural em arquivos, aproveitando a crescente ampliação do número de servidores doutores na instituição, bem como todo o conhecimento que é produzido na prática aqui na instituição. Vamos promover também a área de Educação Patrimonial, voltados, em especial, para o público infanto-juvenil, idosos, pessoas com deficiências, ampliando dessa forma, o número de visitantes da instituição, sem desconsiderar a acessibilidade.
O último setor, mas não menos importante é o Núcleo da Revista Acervo, responsável como o nome indica pela Revista Acervo, principal periódico do AN, que completou 30 anos em 2016. Voltado para as áreas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, a Revista Acervo foi reformulada a fim de melhorar a sua avaliação na CAPES e ampliar o seu reconhecimento internacional. Desse modo, algumas mudanças foram e estão sendo adotadas como a submissão de artigos apenas por doutores e a possibilidade de se tornar uma publicação quadrimestral.
Por fim, cabe ressaltar a ampliação da interação da COACE com a COREG (Coordenação Regional do Arquivo Nacional no Distrito Federal), por meio da institucionalização do setor de Acesso e Difusão da regional em Brasília, subordinado tecnicamente à COACE. Com esse esforço da Coordenadora Regional, Emiliana Brandão, já conseguimos criar uma Biblioteca da COREG. Além disso, é nosso objetivo conseguir integrar os procedimentos de atendimento entre Rio e Brasília, ampliar a difusão do acervo, custodiado pela COREG, além de realizar exposições na capital do país.
- Qual é a maior novidade para este ano de 2017?
São muitas as novidades. Cabe destacar, neste momento, o lançamento da 1ª. Semana Nacional de Arquivos, em parceria com a Fundação Casa de Rui Barbosa, uma das demandas da sociedade expressa no Plano Setorial de Arquivos (2016-2026). Convidamos mais de 500 instituições e serviços arquivísticos existentes em museus, bibliotecas, prefeituras, tribunais e centros culturais. Na primeira semana de inscrições, já temos eventos programados em oito estados (AM, PA, CE, BA, PE, SC, GO e RJ). Vários arquivos estaduais também estão apoiando a iniciativa. Nosso objetivo é divulgar a importância dos arquivos para a sociedade, com eventos em todo o país, de 5 a 10 de junho, na semana em que se celebra o Dia Internacional dos Arquivos.
--
Ascom
24 de março de 2017