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Conheça os vencedores do Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa
Conheça as/os vencedoras/es do 17º Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa. Neste ano, serão publicados os cinco primeiros colocados, conforme lista a seguir:
1º LUGAR - Ana Júlia Pacheco - Doutora e mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2023). Professora pesquisadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade do Estado de Santa Catarina
Dimensões do Atlântico negro: o apartheid sul-africano nas reinvenções da luta antirracista no Brasil (1974-1995)
Este trabalho propõe apreender as experiências de reorganização da luta antirracista no Brasil, no contexto do regime civil-militar, protagonizada pelo Movimento Negro entre 1974 e 1995, em diálogo com os movimentos de libertação africana e na diáspora, em especial a luta contra o regime de segregação racial implantado na África do Sul entre 1948 e 1994 – o apartheid. Com base em um aporte documental diversificado, composto por relatórios do Estado autoritário, periódicos produzidos por afro-brasileiros, audiovisuais, jornais e bibliografia, rastreamos uma multiplicidade de discursos e mobilizações antiapartheid no Brasil, impulsionadas por entidades e lideranças do Movimento Negro. A documentação nos permitiu reconstituir e analisar o impacto da luta antiapartheid no novo perfil e nas práticas discursivas, organizacionais e interventivas adotadas durante o período de emergência e institucionalização do antirracismo contemporâneo.
1º LUGAR - Patrícia Ramos Geremia - Doutora em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2019)
“Como se fosse da família”: arranjos formais e informais de criação e trabalho de menores pobres na cidade do Rio de Janeiro (1860-1910)
O presente trabalho analisa os arranjos de criação e trabalho de crianças pobres, filhos e filhas dos trabalhadores urbanos da cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 1860 e 1910. Tais arranjos se davam informalmente através da prática da agregação das crianças aos domicílios de terceiros e, formalmente, a partir da intervenção do juizado de órfãos e a utilização dos instrumentos jurídicos da tutela e da soldada. A historiografia brasileira tem analisado essa intervenção a partir do contexto da promulgação de Lei de 1871 e do processo gradual de emancipação no país. A intenção é apresentar uma alternativa de análise focada na prática de circulação de crianças e na organização social do trabalho doméstico como chaves explicativas para a conformação de arranjos informais de criação e trabalho de menores pobres, destacando a intervenção judicial como parte de um processo mais amplo da expansão do capitalismo no Brasil oitocentista.
2º LUGAR - Ana Paula da Silva - Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Memória Social, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2016). Professora de História no Departamento de História e Relações Internacionais da UFRRJ. É pesquisadora Associada do Programa de Estudos dos Povos Indígenas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Proíndio/Uerj)
O Rio de Janeiro continua índio: território do protagonismo e da diplomacia indígena no século XIX
Com base em documentação nos arquivos, a pesquisa analisa a presença dos índios na cidade do Rio de Janeiro, durante o século XIX, buscando os antecedentes históricos que permitem melhor contextualizá-la. Identifica as diferentes formas de relações por eles estabelecidas no espaço urbano da sede do poder colonial. Investiga o tratamento concedido aos indígenas que migraram para a capital, forçadamente ou não, e os mecanismos utilizados por índios para garantir seus direitos, especialmente seus territórios/terras invadidos e usurpados por diferentes atores, com o aval do Estado. Registra as dinâmicas de interações culturais e políticas, no período de colonização e pós-colonização, quando os indígenas criaram distintas estratégias de denúncias contra violências e abusos sofridos em suas terras, e também nas cidades, utilizando para isso: a memória, a resistência, a negociação, a apropriação da escrita e da retórica dos ‘brancos’, especialmente a diplomacia indígena. Protagonistas de suas próprias histórias, os índios negociaram pessoalmente com os chefes de Estado, uma resposta para seus problemas.
3º LUGAR - Leticia Sousa Campos da Silva - Doutora em História do PPGH da Universidade Federal Fluminense. Mestre em História pela UFF (2014). Professora EBTT do Colégio Pedro II
Tensões na escola do imperador: uma crítica à história única dos trabalhadores do Colégio Pedro II (1837-1889)
Este trabalho teve como objeto o Colégio Pedro II no século XIX a partir de um ponto de vista que articulou os campos da história da educação e da história social do trabalho com as perspectivas decoloniais. Trata-se de um estudo que encarou a escola como um espaço de trabalho e, portanto, examina as suas condições laborais desde sua fundação, em 1837, até o final do Império. A pesquisa pretendeu, ainda, desmonumentalizar uma obra tomada como seu sustentáculo – a saber: a Memória histórica do Colégio de Pedro Segundo, publicada no ano de seu centenário. Por essa razão, fundamentou-se em um corpus documental contendo o Almanaque Laemmert, dispositivos legais, relatórios ministeriais e diversos manuscritos, sobretudo os papeis trocados entre os reitores do colégio e as autoridades imperiais. Assim, as discussões centraram-se nos impactos da ideologia liberal de vertente imperial-escravista sobre a organização escolar; na coexistência de livres e escravizados na composição da força de trabalho do colégio; nos conflitos decorrentes das relações laborais e nas estratégias para a mobilização de direitos.
4º LUGAR - Kleber Oliveira dos Santos - Doutor em História Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2022). Pesquisador vinculado ao Grupo de Pesquisa Turismo, Cultura e Sociedade T-Cult/Universidade Federal Fluminense
A Revolta Comunista de 1935: a construção de representações sociais a partir da análise fotográfica
Este trabalho realiza uma análise das fotografias anexadas nos processos do Tribunal de Segurança Nacional (TSN) acerca da Revolta Comunista de 1935 e da perseguição aos comunistas que se seguiu a este evento histórico para, a partir dela, identificar a construção de representações sociais sobre a insurreição de 1935. Utiliza-se como referência a década de 1930 até 1945, quando se encerra as atividades do TSN, cuja atuação institucional dava sustentação ao governo de Getúlio Vargas no campo jurídico. A monografia apresenta uma análise de uma fonte pouco explorada nas pesquisas sobre as insurreições de novembro de 1935, o que possibilita a ampliação do olhar sobre este tema, além de gerar uma perspectiva interdisciplinar de abordagem. Constata-se que foi realizado um discurso que estigmatizou a Revolta comunista de 1935, consubstanciado nos processos do TSN a partir da escolha de fotografias que enfatizaram aspectos negativos. Nesse contexto o TSN atuou de forma conjugada com outros setores da administração pública e da sociedade civil na produção e divulgação de representações sobre o levante comunista e o comunismo, sendo amparado pelo anticomunismo que grassava em diferentes setores da sociedade.
Menções honrosas
Ana Carolina Coelho Chicorski
“Eles procuraram a sua casa, e preferem o seu cativeiro”: fuga de escravizados para trocar de senhor no sudeste brasileiro (1828-1880)
A presente pesquisa tem como objetivo analisar casos de fugas de escravizados para trocar de senhor no Sudeste brasileiro durante a segunda metade do século XIX. Essa forma de resistência era mobilizada pelos escravizados quando os seus proprietários legais não supriam as demandas e expectativas a respeito do que eles consideravam como um cativeiro minimamente justo. Buscaremos demonstrar como esse tipo de fuga era fruto de uma tradição atlântica, de uma economia moral informada por direitos costumeiros Centro-Africanos de poder escolher a quem servir que atravessou o Atlântico e foi adaptado para o contexto da escravidão no Brasil. Ademais, buscaremos conectar essa prática com situações que chegavam à justiça sob a imputação de roubo ou furto de escravos. Mostraremos que na maioria desses casos, mais do que serem roubados, os escravizados “se deixavam roubar”, isto é, fugiam com o auxílio de alguém na intenção de serem vendidos ou começar a prestar serviços para outros senhores. Por fim, conectaremos os casos de fuga e roubo com as malhas do comércio interno de cativos que se consolidou no Brasil a partir de 1850. As fontes da pesquisa foram processos cíveis de reinvindicação de propriedade, sob custódia do Arquivo Nacional, que tiveram apelação para o Tribunal da Relação do Rio de Janeiro entre 1828 e 1880. Essas fontes informam sobre casos de proprietários que estavam requerendo a restituição de posse de cativos que haviam fugido e sido encontrados abrigados e prestando serviços na casa de outra pessoa. Essas fontes permitem acompanhar os caminhos percorridos pelos escravizados que fugiam para trocar de senhor, bem como suas motivações e aspirações.
Emilla Grizende Garcia
Censura negociada: as telenovelas de Dias Gomes na Rede Globo entre 1969 e 1979
A presente trabalho tem como objetivo central analisar, a partir dos processos censórios, as telenovelas de autoria de Dias Gomes veiculadas no horário das 22 horas, na Rede Globo de TV, como resultado de uma complexa negociação estabelecida entre a emissora e seus interesses de mercado, o autor e a Censura de Diversões Públicas, no intervalo dos anos de 1969 a 1979. Desde modo, será problematizada a combinação antagônica de um autor notadamente de esquerda, como Dias Gomes, contratado por uma emissora liberal como a Rede Globo - que apoiava o Estado autoritário – que produziu e veiculou obras com certa dimensão sociopolítica, as quais foram rigorosamente monitoradas e mutiladas pela censura federal. As telenovelas do autor extrapolaram os espaços usualmente destinados aos programas desse formato e foram alocadas pela Censura de Diversões Públicas a uma zona delimitada, o horário das 22 horas. Dessa forma, esta pesquisa buscou evidenciar dados e análises que viabilizam a hipótese de que as telenovelas de autoria de Dias Gomes, exibidas e/ou produzidas para o horário das 22 horas, podem ser avaliadas como o resultado de um complexo processo de negociação entre o autor, a Rede Globo de TV e a Censura de Diversões Públicas. Almejamos com este trabalho contribuir para uma análise que problematize os laços de sociabilidade, as articulações de poder no meio televisivo e a ação da Censura Federal, compreendendo as tensões e as determinações multilaterais entre as formas culturais e as forças históricas.
Marcelo Rodrigues de Oliveira
As sociedades escravistas do Império do Brasil e do Reino de Cabinda: interesses e costumes em comum
Este trabalho analisa a origem da Marinha de Guerra Imperial, instituição que surgiu
no mesmo processo de formação do Estado nacional brasileiro, sendo ambas carregadas da herança colonial portuguesa. Destacaremos o fato de que além de se forjar a partir da Armada de Portugal no contexto da emancipação política do Brasil (1822), a força naval brasileira recebeu grande influência da sociedade escravista, não apenas pelo ingresso de escravos em seus navios de guerra e arsenais, em uma clara demonstração de que os valores em prol da escravidão eram compartilhados no meio militar, mas também em função do aporte de capital de negociantes de escravos. Em contrapartida, os traficantes de cativos, durante a Guerra Cisplatina (1825-1828), contaram com os serviços da força de guerra naval nas duas margens do Atlântico Sul, uma vez que a Marinha Imperial brasileira além de ter promovido a proteção do comércio de cabotagem ao longo da costa brasileira, destacou uma divisão naval ao norte de Luanda, entre os portos escravistas de Molembo, Cabinda e Ambriz, com a missão de salvaguardar embarcações negreiras brasileiras contra os ataques de corsários argentinos. O trabalho investiga também a persistente política atlântico-africana escravista do Império do Brasil ao longo das décadas de 1830 e 1840, procurando compreender as razões internas da realidade brasileira, bem como fatores externos, que contribuíram para a permanência do comércio negreiro até o início da década de 1850. Dentre estes últimos colocaremos em relevo a construção de uma área de influência brasileira por meio de sólidas redes mercantis nas regiões africanas autônomas em torno do rio Zaire, assim como a grande compatibilidade de interesses e costumes entre as sociedades escravistas do Brasil e do Reino de Cabinda. Como aspecto inovador na análise do processo de manutenção do comércio atlântico de cativos colocamos em destaque o papel exercido por autoridades africanas, e desta forma, não reduzimos as questões políticas e mercantis em torno do tráfico às esferas da diplomacia e das políticas britânicas, portuguesas e brasileiras.
Matheus Sinder
Nascimento da indústria no Brasil: economia escravista, fábricas e capitalismo no século XIX (1808-1870)
Propomos nessa dissertação interpretar a relação entre indústria e escravidão no Brasil oitocentista. Nossa proposta está em incluir o desenvolvimento das atividades fabris em duas novas perspectivas: considerá-los a luz da construção do capitalismo no Brasil e o fortalecimento da escravidão no século XIX, e, também, adicionar os empreendimentos manufatureiros do oitocentos do Brasil dentro da história da indústria e industrialização nacional. Nesse sentido, pretendemos demonstrar fortes indícios da relação sinérgica entre indústria e escravidão através da utilização de escravizados nas atividades industriais, na argumentação de proprietários de fábricas sobre a necessidade de novos escravizados para o crescimento do setor fabril e a relação entre as mercadorias produzidas nessas fábricas com o recrudescimento do tráfico ilegal de escravizados. Isso significa que no período anterior a década de 1870 foi consolidado no Brasil um tipo de indústria que tinha como sua principal características as relações sociais da escravidão. Para isso, pretendemos também dimensionar o tamanho dessa Indústria em território nacional e seus setores dinâmicos e sua participação nas pautas de exportações. Dessa maneira, será possível observar o processo de modernização da economia brasileira concomitante com a expansão da escravidão
Natally Chris da Rocha Menini
Indesejáveis necessários: os ciganos degredados no Rio de Janeiro Setecentista
A circulação de populações degredadas nas sociedades conectadas pela expansão ultramarina portuguesa foi acompanhada pela necessidade de transformar os condenados ao degredo em colonizadores forçados no Império português. Nas fileiras dos degredados destacaram-se os ciganos, que constituíram um segmento étnico estigmatizado e sofreram constantes penas de açoites e de trabalho forçado em áreas costeiras do Brasil e de Angola. Durante o século XVIII a colônia portuguesa na América contou com um intenso fluxo de degredados e com a constante mobilidade de povos ciganos, indígenas e quilombolas pelas regiões fronteiriças das capitanias da Bahia, de Pernambuco, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Especialmente na segunda metade desse século o Rio de Janeiro passou a contar com uma territorialidade cigana, abrigando em seu núcleo urbano um considerável arranchamento que se instalou no arroteamento de brejos conhecido na época como o Campo dos Ciganos (atual Campo de Santana) e também contou com a circulação de ranchos ciganos pelos sertões fluminenses. Levando em consideração a importância da inserção da temática cigana na historiografia colonial, o presente trabalho realizará uma discussão sobre os conflitos tecidos entre os poderes locais e os ciganos na capitania do Rio de Janeiro durante o Setecentos. Com base na análise de fontes documentais de teor administrativo (sobretudo no formato de leis, alvarás, portarias, correspondências ultramarinas e cartas oficiais) buscaremos demonstrar que devido à reconstrução de arranchamentos fixos e móveis na cidade portuária e nos sertões fluminenses, os ciganos tornaram-se alvo do controle das autoridades e construíram distintas formas de sobrevivência étnica na sociedade colonial.