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Clipping: ‘Imagens do Estado Novo’, de Eduardo Escorel, leva aos cinemas imagens do acervo
O documentário participou da 2ª edição do 'Festival Internacional de Cinema de Arquivo - Arquivo em Cartaz' e levou o troféu Batoque como Melhor Pesquisa e Melhor Filme segundo o Júri Popular.
Fonte: O GLOBO - POR SÉRGIO LUZ -
Em 1990, Eduardo Escorel recebeu da Secretaria de Cultura de São Paulo um projeto sobre os 60 anos da Revolução de 1930. Assim nasceu a série documental que gerou três filmes para a TV: “1930 — Tempo de revolução” (1990), “32 — A guerra civil” (1993) e “35 — O assalto ao poder” (2002).
Nesta quinta-feira, após 12 anos de produção, estreou nos cinemas o quarto capítulo da iniciativa, “Imagens do Estado Novo — 1937-45”, premiado em 2016 no Festival É Tudo Verdade. Munido de imagens raras ou inéditas, com material do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), filmagens caseiras e documentos garimpados de acervos no Brasil, nos EUA e na Alemanha, o longa analisa a ditadura varguista.
— A grande diferença para os outros episódios está na tentativa de indicar no próprio título que o documentário é não apenas sobre o Estado Novo, mas sobre as suas imagens. Ele interroga, questiona e faz uma exegese das próprias cenas que está usando. Ao interrogá-las, ele põe o espectador em estado de alerta, para que ele não fique fascinado por elas, pelas músicas populares, pelo charme do Getúlio. Espero que não seja um filme nostálgico — diz Escorel, de 72 anos.
Essa preocupação em não se maravilhar pelo romantismo de um Brasil do passado e em não cultuar a figura de Getúlio Vargas está no didatismo do roteiro, em ordem cronológica, narrado pelo próprio Escorel.
CRÍTICA DO BONEQUINHO:
— Tentei fazer um filme com pontos de vista múltiplos. Tem o da historiografia, o do Getúlio, através de seus diários, e o dos brasileiros, pelas cartas que enviavam ao presidente, além das gravações de família, que são raríssimas — conta o diretor, que abriu mão de entrevistar especialistas e historiadores. — Acho esse modelo muito gasto. Já deixei de confiar nesse tipo de depoimento. É injusto com esses profissionais, porque você pinça apenas umas frases do pensamento deles. E pode gerar um caráter manipulador da história.
CEM HORAS DE IMAGENS
Com quatro horas de duração, a projeção começa com as ondas da Praia do Flamengo atingindo violentamente a orla num dia de ressaca, numa época pré-Aterro. Opção “meramente estética”, essa abertura leva a uma viagem vertiginosa pelo Brasil dos anos 1930 e 40, com imagens que chegam a chocar, como a bandeira nazista tremulando na Praia de Botafogo e em Blumenau.
— Foram mais de cem horas de material bruto, com consulta online ao acervo americano, pesquisa in loco de Antônio Venâncio, em Berlim, que digitalizou conteúdo audiovisual que estava em película, e investigações da Letícia Carvalho, do CPDOC, no Arquivo Nacional — comenta.
Mesmo tentando fugir ao culto à personalidade de Vargas, o documentário utiliza diversas reproduções e trechos do diário do político.
— O diário do Getúlio é fascinante, inclusive pelo que ele não diz. É um documento histórico, mas não é a representação da verdade. O próprio laconismo do Getúlio mostra isso. Nossa tentativa é de captar nas entrelinhas o seu estado de espírito — explica Escorel.
Segundo o cineasta, “entender o Estado Novo é necessário para entender o país de hoje”:
— Não podemos esquecer que 1930 também foi um golpe. Foi um movimento militar que depôs um presidente eleito, o Washington Luís. Por um lado, não é possível negar as arbitrariedades e a violência (da Era Vargas). Por outro, foi um período de transformações profundas no país. Não cabe a um cineasta definir o que foi ou não foi um momento histórico. Minha postura é de tentar entender o que aconteceu.
Apesar de refutar analogias entre o Brasil atual e a conjuntura que levou à implementação do projeto totalitarista de Vargas, Escorel diz que “o futuro sempre guarda surpresas, que muitas vezes se repetem”:
— Quis ver os cinzas. Neste momento de polarização, as nuances do processo político e histórico tendem a se perder. Acho não só arriscado como enganoso fazer essa comparação. O país mudou muito. Não vejo no horizonte uma vocação autoritária como a do Getúlio. Para quem viveu de 1964 a 1985, é difícil imaginar que uma intervenção militar receba opiniões favoráveis atualmente.
NAZISMO. Passagens mostram a bandeira nazista tremulando em manifestações na Praia de Botafogo e em Blumenau, na década de 1930, com a presença de brasileiros e alemães.
VILLA-LOBOS. Dias após o golpe do Estado Novo, o maestro Heitor Villa-Lobos rege uma orquestra em evento político oficial em frente ao Hotel Glória.
BAÍA. Gravações de cinejornais alemães mostram imagens inéditas da Baía de Guanabara.
DRUMOOND. Ao lado do ministro Gustavo Capanema, o jovem funcionário público Carlos Drummond de Andrade aparece num discurso.
CULTO. Getúlio posa (na foto acima) para o escultor Jo Davidson, experiência que o ditador definiu como “desagradável”.
ASCOM- Assessoria de Comunicação Social
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