Notícias
Arquivo Nacional e Instituto Moreira Salles promovem a difusão on-line dos cadernos do fotógrafo Marc Ferrez
Live marca o encerramento do projeto, com transmissão no Facebook e YouTube do IMS
Marc Ferrez (1843-1923), foi um dos mais atuantes e profícuos fotógrafos brasileiros do século XIX e primeiras décadas do século XX. Interessado pelo universo da fotografia em sentido amplo, buscava dominar as técnicas, as fórmulas e os equipamentos, envolvendo-se em todas as etapas do processo fotográfico, do registro à impressão. Atuou em trabalhos comissionados, fotografando a construção de ferrovias e obras públicas; integrou expedições científicas; foi fotógrafo da Marinha Imperial, retratista e cronista visual do Rio de Janeiro. Empresário nas áreas da fotografia e do cinema, proprietário do cinema Pathé, Ferrez era movido pela curiosidade, a qualidade com que desenvolvia o seu ofício e um desejo de se destacar no mercado da fotografia, em expansão a partir das últimas décadas do século XIX.
Marc Ferrez era também alguém com o hábito de tomar notas e de manter cadernos de anotações, que intensificou desde que se mudou do Rio de Janeiro para Paris, em 1915. Em cada um desses cadernos de Ferrez há um universo de assuntos a serem percorridos e explorados. Sua vida cotidiana se desvela nas listas de compras, encomendas e tarefas; nos endereços e datas de aniversários de amigos e familiares; nas receitas culinárias; nas fórmulas de colônias e perfumes; nos registros de viagens e de despesas pessoais. Seus cadernos revelam, também, como ele transitava na esfera dos negócios: são inúmeros inventários de negativos e de fotografias que integraram seus principais trabalhos; as atividades, contratos firmados e filmes assistidos ou procurados por ele em Paris; os registros de fórmulas, os processos de revelações e viragens utilizados em seus trabalhos como fotógrafo em diferentes épocas.
Com o objetivo de promover o acesso a esse rico material, o Arquivo Nacional e o Instituto Moreira Salles (IMS) firmaram uma parceria, visando à digitalização e à difusão on-line de nove cadernos do fotógrafo, que estão sob a guarda das duas instituições, sendo oito deles manuscritos e um catálogo impresso , “Máquinas e acessórios para fotografia”. Desde outubro de 2021, os cadernos estão sendo disponibilizados na íntegra , no site https://ims.com.br/cadernos-de-marc-ferrez/ , que apresenta, também, a transcrição e a tradução de alguns trechos. Os cadernos são acompanhados de artigos a cargo de pesquisadores especializados em história da fotografia e na obra de Marc Ferrez, historiadores, antropólogos e especialistas em conservação, como: Cláudia Heynemann, Ileana Pradilla Ceron, Julio Lucchesi Moraes, Maria do Carmo Rainho, Maria Elizabeth Brêa Monteiro, Maria Inez Turazzi, Millard Schisler, Pedro Vasquez, Sérgio Burgi. Para cada caderno são disponibilizados, ainda, documentos textuais e fotografias selecionados nos acervos das duas instituições, especialmente no fundo Família Ferrez, do AN, e na coleção Gilberto Ferrez, do IMS.
Para marcar a disponibilização dos três últimos cadernos de Marc Ferrez, o IMS promove, no dia 9 de agosto, às 18h , uma conversa on-line que será transmitida ao vivo pelos seus canais de YouTube e Facebook. O evento contará com falas dos pesquisadores Cláudia Heynemann, do AN; Pedro Vasquez, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB); e Sérgio Burgi, do IMS; além das curadoras e editoras do projeto, Ileana Pradilla Ceron (IMS) e Maria do Carmo Rainho (AN).
Segundo Ileana Pradilla Ceron, o período compreendido nos cadernos é o momento em que “um Ferrez maduro, tendo já construído uma bem-sucedida carreira fotográfica e comercial, e consciente da relevância de seu legado, sente a necessidade de inventariar sua obra e compilar conhecimentos sobre técnicas e processos fotográficos”. A partir de 1915, aos 72 anos, Ferrez passa a se dedicar, em Paris, aos seus novos negócios familiares, no ramo da distribuição e exibição de filmes, faceta menos conhecida de sua trajetória, mas com importante contribuição para o ramo do cinema. Movido pela curiosidade e interesse constante pelas inovações tecnológicas, Ferrez experimenta, em seus últimos anos de vida e para consumo próprio, o trabalho com as fotografias coloridas, os autocromos.
Maria do Carmo Rainho, por sua vez, observa que os cadernos evidenciam o desejo de Ferrez de arquivar a própria vida. A manutenção dessas anotações, as fotografias organizadas nos álbuns de família, as correspondências pessoais, a ampla documentação da empresa Marc Ferrez e de sua atuação nos ramos da fotografia e do cinema revelam a percepção do fotógrafo, seus filhos e netos sobre o lugar social que ocupavam, e como esse lugar exigia a produção e a guarda de documentos de naturezas diversas. “Evidencia também uma intenção biográfica, a construção de uma narrativa cujas bases do roteiro nos são oferecidas tanto pela quantidade, quanto pela variedade de documentos deixados à nossa disposição”, observa Maria do Carmo.
Transitando entre público e privado, a documentação possibilita novas frentes e campos de pesquisa, como pontua Ceron: “Embora nos cadernos predominem os enfoques profissionais, eles também descortinam muitos outros assuntos, como os referentes ao mundo dos afetos e às relações econômicas e de classe social. Esse entrelaçamento entre as múltiplas camadas de informação identificadas nos cadernos, como os aspectos técnicos, comerciais, sociais e familiares, por exemplo, poderá tanto agregar novas tonalidades à já conhecida figura de Marc Ferrez. quanto sugerir novas trilhas para os estudos sobre a fotografia e o ofício do fotógrafo”.
Mais sobre a parceria entre AN e IMS
Este projeto é resultado da parceria firmada em 2017 entre o Instituto Moreira Salles e o Arquivo Nacional para elaboração de pesquisas e divulgação de suas coleções conexas. Um dos principais exemplos dessa complementaridade entre acervos encontra-se na Coleção Gilberto Ferrez, no IMS, e no Fundo Família Ferrez, custodiado pelo AN. Os dois conjuntos abrangem, temporalmente, quase um século e meio, e contêm documentação produzida por três gerações da família Ferrez, dedicada à criação e à difusão de imagens por meios mecânicos. Conservados, cuidadosamente, pelo pesquisador Gilberto Ferrez (1908-2000), neto de Marc, os acervos compõem um raríssimo patrimônio fotográfico e documental, essencial para a memória da fotografia e do cinema no Brasil.
Participantes do lançamento
Claudia Beatriz Heynemann
Pesquisadora no AN, doutora em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Curadora de exposições, é organizadora, entre outros títulos, dos livros "Retratos modernos", de 2005 (com Maria do Carmo Rainho), e "O Rio e a República: a cidade nas imagens da Agência Nacional", 2021 (com Maria Elizabeth Brea); e é editora do dossiê "Um marco para a fotografia: 180 anos de Daguerre", da revista Acervo, 2019 (com Marcos Lopes).
Pedro Karp Vasquez
Escritor e fotógrafo, autor de 30 livros. Trabalha como editor de literatura brasileira na Editora Rocco. Como administrador cultural, foi responsável pela criação do Instituto Nacional da Fotografia da Fundação Nacional de Artes (Funarte), e do Departamento de Fotografia, Vídeo & Novas Tecnologias do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Foi também diretor do Solar do Jambeiro, em Niterói.
Sergio Burgi
Coordenador e curador de fotografia do IMS desde 1999. Mestre (MFA) em Conservação Fotográfica pela School of Photographic Arts and Sciences do Rochester Institute of Technology SPAS/RIT (NY, EUA). Foi coordenador do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da Funarte, no Rio de Janeiro, entre 1984 e 1991.
Ileana Pradilla Ceron
Pesquisadora e historiadora de arte, é mestra em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Foi diretora da Divisão de Artes Visuais no Instituto Municipal de Arte e Cultura (RioArte) e diretora da Plural Comunicação Memória & Cultura. É autora de "Marc Ferrez: uma cronologia da vida e da obra" (2019) e coautora da coleção "Palavra do Artista' (2000). Organizou os livros "Galeria de Artistas: Centro Empresarial Rio 1983-1990" (2020) e "Kant: crítica e estética na modernidade" (1999). No IMS desde 2016, é responsável pelo Núcleo de Pesquisa em Fotografia.
Maria do Carmo Rainho
Historiadora, doutora em História pela Universidade Federal Fluminense, é pesquisadora do AN, atuando na difusão dos acervos institucionais. Curadora de exposições e do site "Cadernos de Marc Ferrez" (com Ileana Pradilla). Autora dos livros "A cidade e a moda" (2002), "Moda e revolução nos anos 1960" (2014) e "Retratos modernos" (com Claudia Heynemann, 2005), seus temas de pesquisa incluem história da fotografia, cultura visual, fotografia de moda, teoria e história da moda.
Serviço
Live | Os cadernos de Marc Ferrez Projeto de difusão digital
9 de agosto (terça), às 18h
Evento gratuito, com interpretação em Libras.
Transmissão ao vivo pelo Facebook e YouTube do Instituto Moreira Salles .
*** Conteúdo editado em cumprimento às diretrizes de comunicação pública durante o período eleitoral, atendendo à Lei n.º 9.504/1997 ***