Notícias
Arquivo Nacional debate acervos de movimentos populares
O Arquivo Nacional foi convidado a inaugurar a série “Acervos em diálogo”, uma iniciativa da Casa do Povo para chamar instituições e órgãos públicos à discussão e à reflexão sobre a importância dos acervos de movimentos populares, e sua relação com a difusão da informação.
Assista aqui ao debate na íntegra.
A Casa do Povo é um centro cultural que preserva importantes acervos pessoais e institucionais relativos a movimentos sociais, reunidos ao longo de quase 70 anos de história. O edifício que abriga a entidade foi construído em 1946, por imigrantes da comunidade judaica que se estabeleceram no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Segundo o supervisor de acervos Jean Camoleze, a construção foi uma homenagem aos mais de seis milhões de judeus mortos na 2ª Guerra Mundial.
Por sua vez, o AN também recebe arquivos pessoais e de organizações da sociedade civil brasileira de diferentes cronologias e suportes, mediante a declaração de interesse público por parte do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq). Dentre eles, a Diretora-Geral Neide De Sordi, uma das convidadas do debate on-line, destacou os conjuntos documentais de ex-presidentes , do jornal Correio da Manhã , do ex-ministro San Tiago Dantas , do militante Apolônio de Carvalho , do multiartista Mário Lago , da emissora de TV Tup i, e da Associação dos Arquivistas Brasileiros . “Esses acervos dialogam com os acervos preservados na Casa do Povo”, afirmou.
Apesar de o AN ser o órgão central responsável pela gestão de documentos no âmbito da administração pública federal, De Sordi argumentou que a documentação pública não deve ser hegemônica. “Nós temos consciência da importância da preservação das narrativas e da construção das identidades dos sujeitos sub-representados nos serviços oficiais”, ressaltou.
Para a coordenadora de processamento técnico e preservação do acervo do AN, Aluf Elias, que também participou do debate, o recorte da “história oficial” também se verifica nos arquivos e registros, o que serve como ponto de reflexão para os pesquisadores e a sociedade em geral. Ela citou exemplos de documentos, custodiados pelo AN, de acervos como o da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino , que retrata o início da luta das mulheres por direitos básicos, como o voto; e outros documentos relativos a movimentos populares, como a Revolta da Vacina (1904) e a Revolta da Chibata (1910).
Outro exemplo de acervo que trata da memória de movimentos populares é o do Memórias Reveladas, centro de referência das lutas políticas no Brasil (1964-1985) , mantido pelo AN em cooperação com outros arquivos públicos do país. Segundo Vicente Rodrigues, assessor da Direção-Geral do AN, a experiência do Memórias Reveladas demonstrou o benefício de se construir, de forma perene, uma rede de cooperação entre as instituições de guarda, bem como a necessidade de se levantar previamente a massa documental que se busca tratar. Nesse sentido, o AN pôde auxiliar os demais arquivos, especialmente em termos de infraestrutura.
Durante o evento, Neide De Sordi enfatizou as ações do AN para difundir e prover acesso a esses documentos por meio da Internet. A instituição mantém diversos portais , bases de dados , instrumentos de pesquisa e páginas nas mídias sociais que possibilitam que milhares de itens documentais possam ser consultados, ou solicitados e fornecidos em formato digital, garantindo, assim, o acesso à informação como um direito de todos os cidadãos.
Além disso, o AN realiza uma concertação com outras entidades arquivísticas para a disponibilização de dados sobre os acervos que elas custodiam por meio do Diretório Brasil de Arquivos (Dibrarq) . Na oportunidade, De Sordi convidou a Casa do Povo a integrar esse guia de acervos sobre temas específicos.
Por fim, De Sordi sinalizou que o maior risco para o apagamento da memória se dá em função da não-apropriação da informação digital pelos arquivos, um desafio tanto para acervos públicos como privados: “A História está sendo escrita em processos eletrônicos, em dados abertos ou não, em páginas web, no Twitter, nas soluções de realidade aumentada, nas mensagens do Whatsapp e outros”.
Imagem de capa: Detalhe de foto do Correio da Manhã. Arquivo Nacional. PH FOT 02007.048.