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Arquivo em Cartaz homenageia o cineasta e arquiteto Mário Carneiro
Em live desta quarta-feira (17 de novembro), o VII Arquivo em Cartaz - Festival Internacional de Cinema de Arquivo prestou homenagem ao cineasta, arquiteto, fotógrafo e multiartista Mário Carneiro (1930-2007).
Conhecido como o criador da luz do Cinema Novo, Carneiro foi um expoente da direção de fotografia no Brasil e trabalhou com diretores como Leon Hirszman, Eduardo Coutinho e Luiz Rosemberg Filho. Sua obra e parte de sua filmografia foram abordadas na Mostra Homenagem desta edição do festival, que teve como tema "Arquitetura: cenário, imaginação e personagem do cinema" e explorou, em suas mostras e debates, as possibilidades de interação entre essas duas expressões culturais.
O encontro virtual contou com Beatriz Carneiro, filha de Mário, e a montadora Marilia Alvim, com quem ele viveu e trabalhou por anos. Elas relembraram a trajetória familiar do filho de embaixador, quenasceu na França, mas optou pela nacionalidade brasileira, apesar de ter tido a maior parte de sua formação naquele país. Segundo Beatriz, ao decidir não voltar, por não concordar em participar da Guerra de Independência da Argélia (1954-1962), Mário Carneiro pôde ir ao encontro do movimento do Cinema Novo, cuja estética foi fundamental para sua trajetória tanto como fotógrafo quanto como arquiteto.
O escritor Carlos Alberto Mattos, que participou da realização do livro “Mário Carneiro: Trânsitos”, tratou da multiplicidade dos trabalhos do fotógrafo. Além do cinema e da arquitetura, Carneiro transitava por diferentes campos das artes plásticas, como a pintura e a gravura, e, para Mattos, foi o responsável por criar formas específicas de tratar a luminosidade e as cores do Brasil no cinema, e de apresentar a arquitetura nos filmes. “A arquitetura aparece, nos filmes dele, com um olhar sempre atento às formas, às colunas, à sucessão de elementos plásticos nas locações”, apontou o autor, citando trabalhos do diretor com locações em Brasília, no Rio de Janeiro, nas cidades históricas mineiras e na região das Missões, no Rio Grande do Sul. Mattos lembrou também dos filmes de Carneiro que tinham como temática a arquitetura e as artes plásticas, como “O risco: Lúcio Costa e a utopia moderna (2002), que integra a Mostra Acervos do Arquivo em Cartaz.
O diretor de fotografia Luís Abramo contou sobre a experiência de filmar o documentário "Oscar Niemeyer", que retratava a obra do maior nome do modernismo na arquitetura brasileira. A obra começou a ser produzida por Carneiro, mas permaneceu inacabada desde a morte, em 1988, de Fernando Coni Campos, pai d eAbramo e diretor do filme. Durante a live foram exibidas imagens não-finalizadas da obra. Abramo contou que os depoimentos dados por Niemeyer ao projeto foram muito descontraídos, pois ele estava "entre amigos".
"É um material totalmente inédito. Daqui, somente o Luís e a Marilia haviam visto [as imagens]", destacou Mauro Domingues, especialista em preservação audiovisual do Arquivo Nacional e mediador do evento. Mauro comentou o esforço conjunto com o Centro Técnico do Audiovisual (CTAv), que custodia parte do acervo de Carneiro, para resgatar o material, com a digitalização do copião da obra. "É o pontapé inicial. A apresentação desse filme - especilamente num festival de cinema que se dedica ao filme de arquivo e que tem como tema, neste ano, a arquitetura - é uma daquelas coisas que acontecem e que você não pode desperdiçar", ressaltou.