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9ª edição do Festival Arquivo em Cartaz exibe Black Rio! Black Power!, de Emílio Domingos
- Foto: Ana Carolina Fernandes
Documentário em longa-metragem brasileiro mergulha nos bailes de soul music dos subúrbios do Rio de Janeiro da década de 1970. Exibição teve bate-papo com o diretor
RIO DE JANEIRO - O encerramento do primeiro dia de programação da 9ª edição do Festival Arquivo em Cartaz ficou por conta da exibição do documentário Black Rio! Black Power!, de Emílio Domingos. O filme aborda a influência do movimento Black Rio na cultura, na sociedade e nos processos de luta por justiça racial no Rio de Janeiro e no Brasil entre as décadas de 1970 e 1980.
A obra apresenta o impacto do movimento na música e nos rumos da política e do movimento negro no período de redemocratização, influenciando gêneros como o hip-hop e o funk, além de influenciar a postura afirmativa das mais novas gerações, que perpetuam o orgulho negro e a valorização estética difundidos pelo Black Rio há 50 anos. O documentário conta ainda a trajetória de Dom Filó, ativista do movimento negro e produtor cultural, e da equipe de som chamada Soul Grand Prix. As cenas são embaladas ao som dos grandes hits de James Brown e da Furacão 2000.
Antes da exibição, um bate-papo detalhou aos presentes o surgimento da ideia do filme, e também das consequências do surgimento do próprio movimento Black Rio. Em sua fala, o diretor Emílio Domingos destacou que é a quarta vez que a obra é exibida publicamente, mas dessa vez na presença de um dos personagens que inspira a obra e que é central no próprio movimento, o que causa grande emoção. “Esse filme surgiu quando me pediram uma pesquisa, para o Museu da Imagem e do Som, a respeito do movimento dos bailes do Rio de Janeiro, um movimento que já faz parte do nosso imaginário, que faz parte das minhas recordações de criança”, contou Emílio Domingos, diretor do documentário Black Rio! Black Power!. “Com a pesquisa, e com a dificuldade que eu tive de conseguir materiais de arquivo, materiais que fizessem jus a essas trajetórias, foi com essa inquietação que nasceu a ideia de fazer esse documentário”.
O ponto forte do roteiro são os depoimentos de ativistas como Dom Filó, Carlos Alberto Medeiros, Carlos Dafé, Marquinhos de Oswaldo Cruz e Virgilane Dutra. Todos relembram e explicam como se formou a consciência negra dos jovens do subúrbio carioca dos anos 1970 nos bailes que se tornaram pontos de resistência, acolhimento e exposição de orgulho negro, simbolizado pelo cabelo black power. Falas que não passam ao largo do racismo enfrentado e do legado deixado pelo movimento.
“Eu queria dar a oportunidade das pessoas que construíram uma história de um movimento tão autêntico contassem a sua versão dos fatos”, concluiu Emílio.
“A música e a imagem foram ferramentas para nosso despertar, para a construção de uma estética que em parte teve a ver com a apropriação de uma imagem que vinha dos Estados Unidos mas que nós adaptamos, construímos um movimento e espalhamos para o mundo inteiro”, analisou Dom Filó.