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A difícil arte de decifrar
O Povo
Paleografia e Diplomática são disciplinas que ajudam a compreender um passado muitas vezes incompreensível e garantir que ele de fato aconteceu.
Para se produzir conhecimento histórico um elemento é essencial: documentos que comprovem um determinado fato. E se hoje uma fotografia, um jornal ou um registro em áudio servem como fontes para explicar um contexto histórico, antes apenas documentos oficiais eram levados em conta para fins de comprovação.
A Arquivologia como ciência tem duas disciplinas que trabalham especificamente com documentos oficiais. A Diplomática e a Paleografia surgem juntas no século XVII, em um contexto de intensa disputa por terras. E não eram raras falsificações de diplomas que asseguravam o direito à propriedade. Daí o nome Diplomática.
Essa verificação buscava constatar se esses diplomas eram verdadeiros, falsos (quando ele já e criado com o intuito de ludibriar) ou falsificado (verídico, mas adulterado).
“Estamos falando de um período em que a produção documental se restringia ao Estado e à Igreja. Nesse momento, mais da metade dos documentos eram falsos ou falsificados. Como não existiam elementos de veracidade para os documentos, como posso provar que meu documento é verdadeiro e o seu não?”, explica Marcelo Siqueira, coordenador da documentação audiovisual e cartográfica do Arquivo Nacional.
De forma semelhante, a Paleografia surgiu se dedicando a documentos das Idades Antiga e Média como objeto de estudo. “Documentos oficiais sempre existiram. Mas mal se conseguia entendê-los. O paleógrafo é a pessoa que estuda tipo de tinta, de papel, com o intuito de desvendar o conteúdo de um documento”, complementa Marcelo, que também é professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
No decorrer de mais de cinco séculos no Brasil, mudanças de caligrafia, de língua, tintas e papéis de escrita fazem com que apenas um paleógrafo especializado consiga decifrar o conteúdo em documentos do período colonial, por exemplo.
Brasil
Para Marcelo Siqueira, a história do Brasil nos primeiros séculos foi muito documentada, mas não consegue ser lida nos dias de hoje justamente pela ausência no mercado de trabalho de profissionais capacitados na área que ajudem a investigar esse tipo de documento mais antigo.
“Se você é um estudante de História e quer estudar a colonização do Rio de Janeiro, pega a carta de Sesmarias de 1590. Não entende absolutamente nada.
Como não se tem pesquisa, fica uma história cheia de lacunas”, finaliza, afirmando que cerca de um quarto do acervo do Arquivo Nacional só é decifrável para pessoas treinadas em Paleografia. (João Marcelo Sena)
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