Noticias
Notícia
Não há condições para uma fábrica de trilhos, diz Gerdau
A possibilidade de o Brasil ter uma fábrica nacional de trilhos é mínima, pois o país não tem um mercado interno que justifique a instalação de uma unidade nacional para produzir os lingotes de aço, mesmo sob os efeitos do pacote de concessão de dez mil km de novas ferrovias - além dos cerca de 20 mil km de malha que já é utilizada por concessionárias. Essa é a avaliação do principal empresário do setor no país que hoje reuniria, de fato, motivações financeiras e políticas para investir em uma fábrica nacional de trilhos. Em entrevista ao Valor, Jorge Gerdau, que também preside a câmara de gestão, desempenho e competitividade da Presidência da República, disse que não há condições de montar uma estrutura que produza os lingotes de aço no país.
Há tempos a Gerdau tem um plano na gaveta para montar a fábrica no país. "Estamos em estudos finais sobre o tema e a verdade é muito complexa, porque a escala de um laminador moderno e competitivo é hoje três vezes maior do que a demanda futura de trilhos no Brasil", disse Gerdau.
Segundo o empresário, as limitações da demanda nacional não são o único obstáculo para a empreitada. É preciso considerar ainda o cenário internacional que hoje é enfrentado pela indústria de siderurgia. "Existe ainda um excesso fantástico de produção de trilhos no mundo, com cerca de 500 milhões de toneladas de aço excedente. Então, dentro do cenário siderúrgico hoje, numa transição de baixa rentabilidade, a decisão técnica e econômica é tremendamente complexa", comentou Gerdau. "Esse tema não é do Brasil, é mundial. Há pouquíssimas fábricas no mundo, com um excesso de produção enorme. O grande dilema hoje, ao investir em siderurgia, é ter mercados que sustentem investimentos, não só em trilhos, mas em qualquer tipo de produção."
Perguntado se a decisão de ter uma fábrica nacional não deveria ser pautada, principalmente, pela orientação estratégica de uma política nacional para o setor, Gerdau foi mais pragmático. "A gente tem a responsabilidade de manter a viabilidade econômica de uma empresa, perante seus 140 mil acionistas. As decisões têm que ser técnicas e econômicas. Hoje o mercado não dá uma solução para isso", disse. "Temos que continuar trabalhando sobre o assunto. Nós temos interesse de fazê-lo, mas enquanto eu não tiver uma construção econômica viável, a ser aprovada pelo conselho que representa os acionistas, essa proposta fica apenas em análise", comentou.
O Brasil chegou a ter operação de fábricas de trilhos pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) até a década de 1970, mas as instalações foram fechadas por conta do sucateamento do setor ferroviário no país, a partir dos anos 1980.
A dependência de trilhos importados incomoda o governo, que tratou de incluir nos editais das novas concessões de ferrovias regras que privilegiam empresas dispostas a utilizar trilhos a serem feitos no Brasil. São medidas que não tem nenhum efeito prático - já que não existe produtor no país -, mas que funcionam como um aceno a potenciais investidores.
No edital do trecho de 477 km da Ferrovia Norte-Sul que liga Açailância (MA) a Vila do Conde (PA), foi incluída uma cláusula que exigiria a compra de pelo menos 75% de trilhos no mercado nacional durante a etapa de construção - e de 50% durante a manutenção da malha - em situações em que o preço do produto no país custasse até 35% mais que o valor do produto importado. Se ultrapassar essa margem, a empresa poderia adquirir todo o produto onde bem entendesse. A cota de conteúdo nacional seria reduzida anualmente, durante os 35 anos da concessão.
Dificilmente o gesto terá efeito prático, pelo menos no curto ou médio prazo. O governo, segundo a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), vai licitar as ferrovias neste segundo semestre, com início efetivo de obras previsto no ano que vem. É um prazo muito curto para ser atendido por uma instalação no país.
(Valor Econômico - SP
Edição do dia 21/06/2013)