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Gazeta Mercanitl publica artigo de técnicos da ANTT
* Anna Paola Alleone Luksevicius
** Luis Cláudio Santana Montenegro
Intermodalidade no transporte de cargas
Apesar das barreiras para o desenvolvimento da intermodalidade brasileira, o serviço dos chamados “Trens Expressos” seguem o modelo internacional de oferta de soluções logísticas para a movimentação racional de cargas. A racionalização e a definição de alternativas logísticas apontam para a revisão da prática do sistema de transporte das empresas em sua totalidade: de ponta-a-ponta, de maneira conjunta.
O Brasil tem encontrado dificuldades na implantação do transporte intermodal de cargas. Em relação ao modal ferroviário, a produtividade do setor é cerca de 30% menor e a disponibilidade de infra-estrutura 9 vezes inferior a dos Estados Unidos. A redução contínua nos investimentos do setor, antes do inicio do processo de privatização, contribuiu para esse desequilíbrio. As empresas que assumiram o controle do setor ferroviário têm um grande desafio no que se refere aos investimentos necessários à adequação desta infra-estrutura, que pode chegar, segundo alguns especialistas, a 4.5 bilhões de dólares.
O transporte ferroviário conta com a modesta participação de 20.9% na matriz de transporte de cargas brasileira. Paises com iguais dimensões utilizam, principalmente, o modal ferroviário e hidroviário no seu transporte de cargas. O Brasil, paradoxalmente, está no mesmo grupo de paises com dimensões inferiores como a Bélgica e Alemanha, onde predomina o transporte rodoviário.
As vantagens da intermodalidade atingem não só os operadores logísticos, mas toda a sociedade. Para os operadores, há a possibilidade de aumento de receitas e criação de outras não operacionais. Para expedidores e destinatários tem-se uma redução dos custos de transporte. A sociedade se beneficia com a redução dos níveis de congestionamento nas rodovias e com a redução no número de acidentes e impacto ambiental.
Com base nessas vantagens surge a iniciativa da utilização dos Trens Expressos. Buscando a otimização da circulação de cargas, esse sistema de transporte intermodal porta-a-porta é baseado em composições ferroviárias regulares, com horários definidos de partida e chegada, complementados por pontas rodoviárias. Também são oferecidos serviços logísticos nos terminais intermodais em centros concentradores e distribuidores de mercadorias.
Comparativamente, o serviço de Trem Expresso se assemelha ao transporte aéreo. O cliente de uma empresa aérea sabe que serão oferecidos vôos diários de uma cidade a outra, com rota e horários fixos, possibilitando remessas pré-programadas, trazendo comodidade e segurança. Também o cliente da ferrovia, tendo uma carga para o destino coberto pelo Trem Expresso, pode enviá-la no momento que considerar mais adequado.
Os benefícios da utilização deste tipo de sistema são os da intermodalidade. O mercado-alvo é, em geral, o de produtos industrializados a serem transportados em contêineres. O contêiner por sua vez, é um dos principais equipamentos que liga o transporte intermodal à sua prática. Acondicionadas, as cargas podem ser colocadas em veículos de diferentes modais de transporte e seguir de origem a destino sem manipulação e transbordo e com maior produtividade e segurança contra roubos, avarias e tempestividades.
Uma redução de custos fácil de ser percebida é a do seguro. No transporte rodoviário, o seguro é caro, principalmente devido aos elevados índices de roubos e acidentes. O Trem Expresso insere um alto fator de segurança no trecho ferroviário do transporte porta-a-porta. Os roubos de carga conteinerizada são praticamente impossíveis e o índice de acidentes bem menor que na rodovia. Com isso, tem-se um seguro muito mais barato com vantagens para seguradoras e segurados.
Algumas das concessionárias do transporte ferroviário, no Brasil, oferecem esse serviço. A CVRD começou sua aposta no trem expresso no final do ano 2000, quando inaugurou seu primeiro corredor de transporte combinado (ferrovia-rodovia) porta-a-porta. Atualmente, são três os corredores em operação, ligando as regiões centro-oeste, sudeste e nordeste, transportando cerca de 2.500 TEU/mês, com meta de 5.000 para o final de 2003.
O Trem Expresso é também um incentivo à criação de novos terminais de carga. Além do transporte em si, os serviços logísticos oferecidos propiciam a criação de terminais intermodais. Com a introdução do Trem Expresso, surge, nos corredores em que opera, um terminal desenvolvido pela própria concessionária de transporte ferroviário ou por uma parceria com empresários locais. Esses terminais oferecem a mais variada gama de serviços logísticos, como serviços de alfândega, estufagem e desova de contêineres, serviços bancários e de seguros, despachantes e telecomunicações. No Brasil, a quantidade de terminais Intermodais está na ordem de 250 contra os aproximadamente 3.000 nos Estados Unidos. Baseado nesse aspecto tem-se excessos de estoque nas indústrias que visam evitar atrasos na entrega e problemas causados por roubos e acidentes criados devido à ineficiência do transporte de cargas. O transporte rodoviário é outra parceria que as concessionárias, em geral, devem estabelecer nos locais atendidos pelo Trem Expresso.
A MRS também oferece os serviços com 8 trens dedicados por dia, apoiados em 15 terminais intermodais e transportando em média 6.800 TEUS/mês, atendendo as principais cidades da região sudeste.
A ALL opera o Trem Expresso na malha ferroviária da região sul e atingindo o Mercosul através da Argentina e contando com a participação da DELARA no transporte rodoviário. São três trens dedicados semanais, atendendo três terminais e transportando em média 400 toneladas por mês. Recentemente, a empresa expandiu seu mercado e criou o Trem Expresso Graneleiro com o objetivo de dinamizar o transporte de grãos.
Para se compreender melhor o potencial dos Trens Expressos, pode-se observar a atuação da CSX Intermodal. Atualmente, esta empresa norte americana opera em 48 terminais intermodais, com cerca de 300 trens dedicados por semana, atendendo a cerca de 75% da população americana.
Percebe-se que o mercado de Trens Expressos tem muito a crescer no Brasil com a possibilidade de revelar regiões com potencial de cargas, podendo inclusive ser a vitrine do transporte intermodal nacional, apresentando à sociedade todas as vantagens de uma combinação eficiente entre os modos de transporte.
*Administradora com especialização em comércio exterior e reguladora de transporte multimodal da ANTT
** Engenheiro civil e regulador de transporte multimodal da ANTT
OBS: O artigo foi publicado no dia 1 de abril de 2003, no caderno Centro-Oeste do jornal Gazeta Mercantil