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ANTAQ participa de reunião da CLI/AEB para debater infraestrutura portuária para escoamento de grãos
Exportações do Agronegócio via portos paraenses e formação de portos concentradores de cargas regionais foi o tema da reunião realizada na última quinta-feira (18) por videoconferência pela Comissão de Logística Integrada da Associação de Comércio Exterior do Brasil – CLI/AEB. Especialistas em logística de transportes, usuários de portos, representantes da indústria, comércio e do agronegócio participaram do debate. A Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ foi representada pelo diretor Adalberto Tokarski. Mais de cem pessoas assistiram a videoconferência, contribuindo com comentários no chat do evento.
Durante o encontro, foram apresentadas proposições para ampliar a capacidade de escoamento de cargas do agronegócio, especialmente milho e soja, para os mercados internacionais. Uma delas é a licitação do terminal de Outeiro, no Pará, ampliando a saída pelo chamado Arco Norte; e a outra a criação de portos concentradores regionais, que seriam distribuídos ao longo do território nacional.
Ao abrir os trabalhos, o coordenador da Câmara de Logística Integrada da AEB, Jovelino Pires, defendeu a implantação de um sistema concentrador de cargas no Rio de Janeiro, aproveitando a infraestrutura dos portos do Estado e sua localização na região mais desenvolvida do país. Segundo Jovelino, além de trabalhar essa proposta junto ao governo federal, está nos projetos da AEB desenvolver o comercio exterior do país através dos portos da Bahia.
Quanto à saída dos grãos pelo Arco Norte, o coordenador de Logística da AEB disse que o seu crescimento é uma realidade. “O município de Itaituba, no Pará, onde já há diversos terminais em operação e novos se instalando, é uma prova de que os portos da região são a melhor alternativa para o escoamento das exportações brasileiras de grãos”, ressaltou.
Como apontou o consultor da Confederação Nacional da Agricultura e Abastecimento do Brasil – CNA, Luiz Fayet, na videoconferência, há 50 anos o Brasil era um mero importador de grão e, hoje, é o segundo maior exportador de granéis vegetais do mundo. No caso da soja, o país já é o principal exportador mundial, e a expectativa é se firmar como o principal fornecedor global de grãos. “China e Índia possuem treze vezes mais bocas que o Brasil, mas não têm disponibilidade de terras agricultáveis como nós. Ou seja, temos um mercado fabuloso à frente, mas para atender essa demanda precisamos rapidamente ampliar nossa capacidade logística e portuária”, defendeu.
Em sua fala, o diretor da ANTAQ, Adalberto Tokarski, anunciou que a Agência realizará um estudo sobre a capacidade atual dos portos e suas expansões, somados aos novos projetos da Região Norte. A expectativa do diretor da ANTAQ é de que em três ou quatro anos o sistema portuário não terá capacidade de receber mais grãos em função do aumento da produção do Mato Grosso e do Pará, evidenciando a necessidade da oferta de mais áreas portuárias para atender ao setor, como as de Outeiro.
O terminal de Outeiro, vinculado à Companhia Docas do Pará – CDP, já funcionou no transporte de fertilizantes e hoje está praticamente ocioso. O terminal dispõe de três áreas e um píer, e a ideia é licitar as três áreas para diferentes operadores, passando o terminal a funcionar como um condomínio nos moldes do Tegran do Porto do Itaqui, no Maranhão.
O diretor da ANTAQ também falou sobre os projetos portuários dedicados ao escoamento de grãos, que estão em andamento na área do chamado Arco Norte. De acordo com Tokarski, além dos portos públicos de Vila do Conde, Santarém e Santana, e dos TUPs da ADM, Bunge–Amaggi e Hidrovias do Brasil, em Barcarena – todos já operando -, existem mais três ou quatro projetos em andamento que entrarão em funcionamento daqui a três ou quatro anos.
O presidente da Associação Comercial do Pará – ACP e vice-presidente da Federação das Indústrias do Pará, Clóvis Carneiro, por sua vez, ressaltou as características naturais de localização e profundidade do terminal de Outeiro, observando, contudo, a necessidade de ampliação da capacidade de acesso ao terminal. “O que temos hoje em termos de acesso não é suficiente para atender a demanda que virá quando o terminal for licitado. Precisamos fazer a manutenção das eclusas de Tucuruí e resolver o problema do licenciamento para retirada do Pedral do Lourenço, aumentando a navegabilidade dos rios da região”, observou.
Clóvis Carneiro lembrou que o terminal de Outeiro chegou a ser licitado em 2016, mas não teve interessados. “Naquele edital havia um pedágio de cerca de 25% do valor licitado, o que afastou os interessados. Desta vez temos que fazer diferente”, ponderou o presidente da ACP.
A professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Mônica Romero Marinho, defendeu a adoção de ações voltadas ao crescimento da participação dos portos do Arco Norte nas exportações de grãos e a criação de hubs ports (portos concentradores) regionais para tornar mais eficiente a logística portuária nacional.
Segundo ela, o comércio mundial não se organiza por porto, mas por rotas, destacando a saída pelo Norte por esta colocar o país mais próximo dos grandes mercados consumidores internacionais. Mônica também entende que as dimensões continentais e diversidade do país exigem uma logística baseada em oportunidades regionais. Conforme explicou, o modelo seria cada região ter um porto concentrador, recebendo e distribuindo mais eficientemente essas cargas.
A reunião da CLI contou ainda com a participação do presidente da AEB, José Augusto de Castro; do representante da Vale, Carlos Alberto Auffinger; e do diretor comercial da BBC Brasil, Fabiano Rodrigues. Os debates foram mediados pelo conselheiro de Administração da AEB, Paulo Antonio de Lello.