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Mudança de modelo assistencial é foco de seminário internacional da ANS
O Brasil precisará mudar o atual modelo assistencial e de pagamento por procedimentos na saúde suplementar sem perder de vista a melhoria do atendimento ao beneficiário de planos de saúde. Além disso, o setor deverá buscar formas de melhorar o aproveitamento da rede de atendimento e reduzir custos. Esses foram os principais pontos em comum nas falas dos participantes do seminário internacional A Organização da Prestação dos Serviços e o Financiamento em Saúde: Perspectivas no Brasil e no Mundo, que contou com a participação de técnicos e especialistas do setor e a apresentação de experiências de instituições nacionais e internacionais.
O evento foi aberto com uma palestra da diretora de Desenvolvimento Setorial (DIDES) da ANS, Martha Oliveira, que fez um diagnóstico do setor de saúde suplementar no Brasil, apontando cenários e necessidade de mudanças. “Este evento dá continuidade à discussão que a Agência vem promovendo sobre a necessidade de um novo modelo de prestação de serviço e também de financiamento no Brasil. Precisamos de um sistema mais organizado que proporcione melhor atendimento ao beneficiário de planos de saúde e redução de custos”, disse Martha.
“No projeto Parto Adequado, por exemplo, conseguimos reorganizar de forma simples a prestação de serviços, que passaram a ser feitos por equipes com plantonistas e enfermeiros obstetras, entre outras mudanças. Isso fez aumentar o número de partos normais”, relata a diretora da DIDES. Realizado pela ANS em parceria com o Hospital Albert Einstein e Institute for Healthcare Improvement (IHI), o projeto reúne 42 hospitais públicos e privados, e ajudou a aumentar em 7,4 pontos percentuais a taxa de partos normais nos estabelecimentos participantes, revertendo os altos números de cesáreas registrados nos últimos 10 anos no Brasil. A taxa passou de 19,8% em 2014 (média) para 27,2% em setembro de 2015.
Martha Oliveira, diretora da DIDES, abriu o seminário internacional, no Rio de Janeiro
“Por isso, esse debate é fundamental para começar essa discussão da mudança da rede de prestação de serviços acoplada a uma mudança de financiamento para que a gente tenha um modelo funcionando a partir de resultados. Esse seminário consolidou que isso é possível e agora precisamos começar a fazer as mudanças de fato”, conclui Martha Oliveira.
Durante o evento, a diretora-adjunta da DIDES, Michelle Mello, lançou o D-TISS, uma nova ferramenta da ANS que permitirá o acesso aos dados de frequência de eventos em saúde e suas despesas. Ela explicou aos participantes do seminário que o sistema possibilita acesso a informações sobre a quantidade de procedimentos realizados por médicos, laboratórios, clínicas e hospitais conveniados a operadoras de planos de saúde e a visualização dos gastos com despesas assistenciais em todo o país e por estado, por sexo do beneficiário e por porte da operadora. Há, ainda, a possibilidade de obter dados na forma de mapas. Tudo por meio de um mecanismo amigável de busca por palavra-chave.
A base de dados do aplicativo D-TISS conta também com indicadores internacionais de países que integram a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada por mais de 30 nações. “É a primeira vez que planos de saúde, prestadores de serviços e consumidores têm acesso aos dados epidemiológicos e financeiros de forma detalhada em uma única área”, disse Mello. Ela esclareceu também que essa é uma versão beta do D-TISS, que está em fase de testes.
Diretora-adjunta da DIDES, Michelle Mello, apresenta o D-TISS
Promovido pela ANS, o evento contou com a participação de aproximadamente 350 pessoas, entre técnicos e especialistas do setor, servidores, representantes de operadoras de planos de saúde, médicos, laboratórios, clínicas e hospitais conveniados e defesa do consumidor. Além disso, houve a apresentação de experiências de instituições nacionais e internacionais, como as dos especialistas norte-americanos Robert Jannet, Maureen Lewis e Sarah Dye.
Palestrantes Internacionais
O seminário da ANS contou com a participação de Robert Jannet, médico da Atenção Primária em Cambridge Family Health, professor assistente de Medicina na Harvard Medical School, diretor médico da Network Health - Massaschusetts e consultor sobre questões da política na saúde para o Banco Mundial na América Latina e Caribe.
Durante a palestra, Jannet destacou a reorganização da lógica da prestação de serviços, focando no cuidado compartilhado entre hospitais, laboratórios, clínicas e profissionais de saúde, que juntos formam uma espécie de rede de atenção à saúde. O palestrante apresentou modelos de organização da prestação de serviços em saúde e a experiência das ACO Cambridge Health Alliance e Harvard Medical School.
“Para melhorar os resultados do sistema tem que mudar o sistema inteiro. O modelo de atenção primária tem várias competências e não está presente na saúde suplementar brasileira”, afirma Jannet. Para ele, a organização desse sistema deve dar atenção, por exemplo, à prevenção e à vigilância das doenças crônicas, bem como fazer o rastreamento de enfermidades em um estágio mais leve, permitindo prestar melhor cuidado ao paciente. Robert também defende que o profissional de saúde, o médico, deve manter um vínculo pessoal com o paciente, entendo suas necessidades, sua história de saúde e de vida. “Atualmente, os pacientes têm vínculo com vários especialistas, mas nenhum se conecta um com o outro. Esse atendimento fragmentado é perigoso. E deve haver um sistema de gestão”, diz o especialista.
Palestrante Robert Jannet
Outra participação foi a da palestrante norte-americana Maureen Lewis, do CEO da Aceso Global, uma organização sem fins lucrativos que fortalece os sistemas de saúde nos mercados emergentes e países em desenvolvimento. Professora da Georgetown University, Lewis participou da implementação do Obama Care, do governo americano. A PHD estuda a aplicação de um novo modelo de financiamento focado na prestação de serviços aliada a medidas de qualidade.
Maureen afirma que esse é momento importante para o país discutir modelos de financiamento na saúde suplementar porque há um crescimento de custos nesse setor. Ela diz que existe interesse no Brasil de promover mudanças e que todos os atores estão envolvidos nessa discussão de revisão do modelo. Também afirmou que a realização de seminários como este é fundamental, pois permite a interação e a troca de ideias e de inovações entre os participantes, que devem ter uma visão de para onde o setor pode caminhar e o que fazer para direcionar interesses comuns. “Outra coisa que acho importante é que a ANS está liderando esse processo. É um órgão importante no espaço da saúde e interessado em melhorar o sistema e a forma de pagamento, com qualidade”, diz Lewis. Para ela, esse “é um setor vibrante” que tem que sempre estar experimentando modelos e melhorias no financiamento.
Maureen Lewis, do CEO da Aceso Global
Além de Robert Jannet e Maureen Lewis, o seminário contou com a participação de Sarah Dye, vice-presidente de Operações e Acessibilidade da UPTUM US, empresa americana que atua na área de organização de serviços de saúde. Dye valorizou a inciativa brasileira de estimular o debate sobre financiamento na saúde suplementar e disse que os Estados Unidos levaram muitos anos para superar desafios nesta área. Ela afirmou que é necessário “trabalhar juntos em prol do financiamento, transformando o mercado (de planos de saúde)”.
Debates
O seminário internacional trouxe dois painéis aos participantes. O primeiro, realizado pela manhã, foi sobre “Inovações na prestação dos serviços de saúde”, logo após a palestra sobre “Modelos de Organização de Prestação de Serviços em Saúde e a Experiência das ACO Cambridge Health Alliance e Harvard Medical School”, com Robert Jannet. Participaram do painel Miguel Cenderoglo, do Hospital Albert Einstein, que comentou aspectos do projeto Parto Adequado, realizado em parceria com a ANS e IHI; Gines Henrique Martines e Ana Elisa, da Unimed CNU e Grupo Semeando, que falaram sobre a administração de carteira de beneficiários idosos; e José Alves, da Uniodonto, único da mesa a trazer experiências sobre atenção odontológica. Essa mesa foi moderada por Renato Veras, diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade (UNATI), vinculada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Para José Cechin, diretor executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que também participou do debate sobre inovações e prestação de serviços, “a meta que se deve ter (na saúde) é: todo cuidado necessário para a preservação e recuperação da saúde pessoa, nem mais nem menos. Nem mais porque é desperdício, e a pessoa não se aproveita disso. E nem menos porque aí você não está dando toda a atenção que ela precisa”, diz Cechin. “Acho que precisamos repensar o modelo de atenção à saúde, os indicativos e a forma de remuneração. O que predomina hoje produz incentivos perversos”, complementa.
Da esquerda para a direita, Miguel Cenderoglo, do Hospital Albert Einstein; Gines Henrique Martines, da Unimed CNU; Renato Veras, da UNATI; Ana Elisa, do Grupo Semeando; José Alves, da Uniodonto; e José Cechin, diretor executivo da FenaSaúde
Na segunda bateria de atividades, no período da tarde, houve o painel “Modelos diferenciados de financiamento em saúde”, realizado depois da palestra “Financiamento em Saúde: Remuneração X Qualidade”, com Maureen Lewis. Deste painel, participaram Gentil Alves e Douglas Arashiro, da SulAmérica e Hospital Nipo, que têm parceria em prol do parto normal; José Augusto Ferreira, da Unimed BH, que falou sobre a inserção de fato de qualidade no pagamento por serviços; e Sarah Dye, vice-presidente de Operações e Acessibilidade da UPTUM US, que comentou aspectos relacionados à eficiência e qualidade de serviços.
Para o moderador da mesa, Sandro Leal, gerente geral da Diretoria Executiva da FenaSaúde, essa discussão é da maior importância, tanto que a entidade foi parceira na realização do seminário. Para ele, o modelo atual aumenta custo e não garante qualidade. “Se a gente não acreditasse que tivesse que mudar esse modelo não estaríamos na linha de frente. O modelo de remuneração não é a solução para todos os problemas, mas é uma das frentes que se abrem para tornar o setor de saúde suplementar um mercado com menos falhas, um mercado mais dinâmico que entregue melhores serviços e com menos distorções”, finaliza Leal.
Da esquerda para direita, Gentil Alves, da SulAmérica; Douglas Arashiro, do Hospital Nipo; Sandro Leal, da FenaSaúde; José Augusto Ferreira, da Unimed BH; e Sarah Dye, vice-presidente da OPTUM US
Confira abaixo as apresentações feitas durante o seminário A Organização da Prestação dos Serviços e o Financiamento em Saúde: Perspectivas no Brasil e no Mundo. Na sequencia, confira as gravações em vídeo feitas durante o seminário.
ABERTURA
- Palestra - O Cenário da Saúde Suplementar Brasileira e a Necessidade de Mudanças
- Diretora de Desenvolvimento Setorial da ANS, Martha Oliveira
- Lançamento D-TISS, Diretora-Adjunta de Desenvolvimento Setorial, Michelle Mello
PAINEL I - INOVAÇÕES NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE
- Palestra - Modelos de Organização da Prestação de Serviços em Saúde e a Experiência das ACO
- Cambridge Health Alliance e Harvard Medical School - Robert Jannet
Mesa 1
- Moderador - Renato Veras (UNATI)
- Hospital Albert Einstein - Miguel Cenderoglo
- Unimed CNU/Grupo Semeando - Gines Henrique Martines / Ana Elisa
- Uniodonto - José Alves
- FENASAUDE - José Cechin
PAINEL II - MODELOS DIFERENCIADOS DE FINANCIAMENTO EM SAÚDE
- Palestra - Financiamento em Saúde: Remuneração X Qualidade
- CEO Aceso Global - Maureen Lewis
Mesa 2
- Moderador - Sandro Leal (FENASAUDE)
- SULAMERICA/ Hospital Nipo - Gentil Alves/Douglas Arashiro
- Unimed BH - Fernado Coelho
- OPTUM US - Sarah Dye
Vídeos
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