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Seminário discute promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças
“Inovações na Organização da Saúde Suplementar para Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doenças” foi o tema do seminário realizado no dia 12/12, no Rio de Janeiro, pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O encontro reuniu 140 profissionais da saúde suplementar, entre prestadores e representantes de operadoras e de entidades do setor, e faz parte do ciclo de oficinas e workshops Promoprev – iniciativa da agência reguladora para estimular a criação de modelos de atenção que priorizem a promoção da saúde e a prevenção de doenças.
O seminário contou com a palestra de 11 convidados de diferentes áreas, abrangendo diversos temas. O diretor-presidente da ANS, José Carlos de Souza Abrahão, abriu o encontro: “A sociedade brasileira teve um grande ganho que foi a longevidade, mas não se preparou para lidar com o novo perfil socioeconômico e epidemiológico da população. Por isso é tão importante focarmos na promoção da saúde e na prevenção de fatores de riscos e de doenças. É urgente a integração de informações do setor e isso deve incluir os dados da ANS, da Anvisa e do Ministério da Saúde para, assim, evitarmos desperdício na gestão de recursos”, afirmou Abrahão.
A diretora de Normas e Habilitação dos Produtos da ANS, Karla Santa Cruz Coelho, provocou a plateia a pensar em novos modelos de atenção à saúde: “É muito bom que a gente esteja vivendo mais, mas precisamos viver melhor e com mais qualidade diante do aumento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs). Como sair do atendimento essencialmente hospitalar para outras formas de cuidado com o paciente? Nós, que trabalhamos na gestão da saúde, somos responsáveis por achar essa resposta visando à melhoria da saúde da população”.
Diretora da Dipro, Karla Coelho, ao lado do diretor-presidente da ANS, José Carlos de Souza Abrahão durante a abertura do seminário
Palestra internacional
Fernando Rubinstein, diretor do Departamento de Educação do Instituto de Efetividade Clínica e Sanitária da Universidade de Buenos Aires, na Argentina, compartilhou sua experiência prática na saúde suplementar. O médico é responsável pela criação e implantação do novo modelo assistencial do Hospital Italiano de Buenos Aires, referência na capital portenha. “O hospital estava focado principalmente na atenção de terceiro nível. A mudança começou no serviço de atenção familiar e, progressivamente, um novo modelo foi adotado em todo o hospital”, explicou Rubinstein.
Mas o caminho para a quebra de paradigmas não foi fácil, visto que a Argentina, de acordo com o médico, enfrenta os mesmos dilemas que o Brasil. “Os problemas de hoje, velhos conhecidos de todos nós, são cobertura insuficiente, pouca relação entre médico e paciente, escassez de profissionais treinados na atenção primária à saúde, falta de serviços para atenção longitudinal a pacientes de doenças crônicas e medicina preventiva pouco implementada. Com isso, a qualidade da atenção foi caindo progressivamente. O cuidado fragmentado e o uso de tecnologias diagnóstica e terapêuticas muitas vezes sem indicação médica, aliados à alta complexidade da área médica, aumentaram o custo da saúde. E a resposta do setor, aqui no Brasil, na Argentina e em outros lugares do mundo, foi a concentração de financiadores, de pagadores, além de fusões e alianças estratégicas em busca de populações maiores e mais saudáveis na tentativa de diminuir o custo, ocasionando a transferência progressiva de risco aos prestadores”, analisou o médico argentino.
Da esquerda para a direira, o médico argentino Fernando Rubinstein, a diretora Karla Coelho e o representante da Opas/ANS, Alberto Ogata
Temas debatidos
Vigitel na Saúde Suplementar
Regina Bernal, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo, apresentou a metodologia do Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico). Em 2008, a pesquisa do Ministério da Saúde passou a monitorar também a parcela da população brasileira atendida pela saúde suplementar, sendo assim um importante instrumento para medição de hábitos dos brasileiros no que diz respeito à alimentação e à prática de atividades físicas, dentre outros fatores de risco à saúde.
ELSA Brasil
Paulo Lotufo, organizador do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), compartilhou com os presentes as lições aprendidas com o trabalho, que acompanha a saúde, hábitos alimentares e a rotina de atividades físicas de mais de 15 mil brasileiros. Lotufo apresentou dados do estudo extraídos sob a perspectiva da epidemiologia, com importante caracterização do perfil epidemiológico da população brasileira.
Atividade física e alimentação saudável
Douglas de Andrade, mestre e doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, e Viviane Lourenço, nutricionista do SESI, apresentaram perspectivas na adoção de estilos de vida saudável. Douglas apontou iniciativas que conectam os ambientes urbanos ao cidadão, promovendo a prática de atividades físicas e comprovando que a promoção de saúde não ocorre apenas nos consultórios médicos, mas também nas ruas da cidade. Viviane apresentou o “Guia Alimentar para a População Brasileira” uma alimentação adequada que colabore com a redução das DCNTs, destacando o atual cenário favorável para a redução de sódio, gorduras trans e açúcares nos alimentos (Portaria MS nº 3092/2007).
140 profissionais formaram o público que acompanhou as atividades do seminário promovido pela ANS
Mudança de comportamento e atenção primária à saúde
Sâmia Simurro, especialista em psicossomática, estresse, psicologia da saúde e hospitalar, compartilhou com a plateia a sua experiência na aplicação de modelos de ambiente de trabalho saudáveis. Sandra Ferreira, enfermeira do Setor de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição (referência no atendimento do SUS no Sul do país), e Vilma Dias, enfermeira e mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Luterana do Brasil, falaram das ferramentas para promover a atenção primária à saúde no setor privado. As palestrantes apresentaram a publicação “Atuação do Enfermeiro na Atenção Primária à Saúde”, escrita por ambas em parceria com Lisiane Périco.
Reflexão: O tempo e a construção da existência
Benilton Bezerra, psiquiatra, psicanalista e professor do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, proporcionou com sua fala um pensamento além do cuidado médico, estimulando os participantes a pensarem as questões comportamentais do ser humano sob o ponto de vista da contemporaneidade. Para o professor, é preciso que as políticas de saúde estimulem os indivíduos a pensar além das suas necessidades e desejos individuais, em prol do bem coletivo, e não apenas como consumidores de serviços e produtos de saúde. Dessa forma, segundo ele, teremos um país com melhores condições de saúde para todos os seus habitantes.
Pontos de atenção em 2017
Fernando Leles, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS Brasil), e Alberto Ogata, coordenador do Laboratório de Inovações da Saúde Suplementar (ANS/OPAS), foram debatedores do seminário ao lado dos seguintes servidores da ANS: Raquel Lisboa (gerente-geral de Regulação Assistencial), Kátia Audi (gerente de Monitoramento Assistencial) e João Luis Barroca de Andrea (assessor na Diretoria de Normas e Habilitação dos Produtos).
Ao final do encontro, a diretora Karla Coelho enumerou os pontos de atenção da ANS em 2017 no que diz respeito à promoção de saúde e prevenção de riscos e de doenças:
1. Agenda de publicações e experiências exitosas.
“Estamos trabalhando com a OPAS para o lançamento de publicações, entre elas a do Vigitel. Previsto para janeiro, o estudo trará os principais fatores de risco na saúde suplementar, por sexo, gênero, idade e região”.
2. Termo de Cooperação entre OPAS, SESI e ANS.
“Teremos uma agenda em conjunto com o SESI para articular ações de saúde ocupacional e assistencial, resultado de um Termo de Cooperação. Também estamos trabalhando com a ASAP Saúde, que está avaliando empresas de planos de saúde e seus protocolos de promoção e prevenção, o que resultará no lançamento de uma pesquisa sobre avaliação de eficácia”.
3. Nova metodologia de análise dos programas de promoção de saúde e prevenção de riscos e de doenças.
“Vamos criar oficinas específicas e convidar os representantes do setor para participar”.
4. Combate a fatores de risco de DCNTs, como dislipidemia, diabetes, tabagismo, sedentarismo, obesidade, hipertensão arterial e outros.
5. Estímulo a ações que promovam a alimentação saudável e a prática de atividades física nos ambientes de trabalho ou em locais próximos.
6. Estímulo à mudança de comportamento da população.
7. Gestão da informação.
“Hoje nós temos uma gama muito grande de dados e informações. Precisamos aprender a comunicar melhor e integrar os dados da saúde e da literatura científica, fazendo uso da tecnologia de comunicação e informação”.
8. Semana da Saúde em abril. Mobilização na saúde suplementar através de ações de promoção de alimentação saudável e de prática de atividades físicas.
9. Incrementar o Laboratório de Inovação da ANS em conjunto com a OPAS.
10. Estímulo à atenção primária e integrada, com a busca por resultados em saúde mais expressivos.
Confira abaixo as apresentações feitas durante o seminário “Inovações na Organização da Saúde Suplementar para Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doenças”.
Fernando Rubinstein , diretor do Departamento de Educação do Instituto de Efetividade Clínica e Sanitária da Universidade de Buenos Aires, Argentina
Regina Bernal , pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo
Paulo Lotufo , organizador do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil)
Douglas de Andrade , mestre e doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo
Viviane Lourenço , nutricionista do SESI
Sandra Ferreira , enfermeira do Setor de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição,e Vilma Dias , enfermeira e mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Luterana do Brasil