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Conhecimento geológico é estratégico para segurança nacional, destaca diretor-geral da ANM
O conhecimento geológico é estratégico para a segurança nacional e o segmento de energia nuclear precisa ser valorizado por uma questão geopolítica. A afirmação foi feita nesta quinta-feira (5) pelo diretor-geral da Agência Nacional de Mineração (ANM), Mauro Sousa, durante palestra em painel O Mercado de Mineração do Brasil, no evento Nuclear Trade and Technology Exchange (NT2E). O encontro foi realizado pela Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan) nesta semana, no Rio de Janeiro.
Sousa participou do painel com o diretor de recursos minerais das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Rogério Carvalho, e com mediação de Julio Neri, diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). O diretor-geral da ANM defendeu ainda que haja mais aproximação institucional das entidades envolvidas direta ou indiretamente com o setor nuclear para troca de conhecimentos para crescimento e fortalecimento do setor. Recentemente a ANM recebeu a competência legal – por meio da Lei 14.514/2022 – para regular, autorizar e fiscalizar a atividade de pesquisa e lavra de minérios nucleares, já que o setor poderá contar com participação privada.
“É preciso ter clareza da direção do desenvolvimento do setor, pois assim pode-se fomentar o apetite tanto de investidores quanto de mão de obra para a indústria nuclear não só para suprimento do país, mas o mercado internacional”, disse Sousa.
O diretor-geral da ANM informou ainda que o órgão está na etapa de redesenho das competências da agência no setor nuclear e já finalizou o ciclo de absorção das barragens das INB. Além disso, ressaltou que o país precisa de uma lei específica sobre reatores nucleares. “O Brasil tem possibilidade de ser um grande ator nesse setor e precisamos abraçar a oportunidade de desenvolvê-lo”, reforçou Sousa.
Segundo Sousa, o estímulo à energia nuclear dialoga com a transição energética e a energia verde. Ele informou ainda que o Plano Nacional de Energia 2050 prevê quatro novas usinas de energia nuclear. “O Brasil detém uma reserva significativa de urânio, mas pouco mapeamento mineral”, complementou. “Embora o bem mineral seja da União, é mais importante o conhecimento geológico e o país ainda deixa a desejar nesse quesito.”
O diretor do Ibram, por sua vez, destacou que somente 3% do território brasileiro é mapeado em uma escala de um por cinquenta mil, ideal para o desenvolvimento do conhecimento mineral. “Precisamos ampliar esse trabalho, principalmente em regiões com grande potencial de exploração de minérios estratégicos”, afirmou Neri.
Conforme o diretor de recursos minerais do INB, Rogério Carvalho, a produção de urânio está sempre abaixo da demanda e o potencial de mercado desse minério, que está sendo cada vez mais valorizado, pode chegar a US$ 18 bilhões por ano. Ele informou ainda que o total de polígonos bloqueados para urânio corresponde a 0,21% do território brasileiro e só o potencial das reservas em Caetité (BA) e Santa Quitéria (CE) representam metade dos recursos da fabricante de urânio Cameco em todo mundo.
Sobre a NT2E
A NT2E é a maior feira de negócios do setor nuclear do país e reuniu cerca de 2,5 mil participantes no Rio de Janeiro. Neste primeiro ano de realização do evento, representantes do mercado e da academia discutiram caminhos para destravar importantes projetos do segmento. Em geração de energia, o desafio é concluir as obras de Angra 3 e bater o martelo para a construção de novos reatores no país. Já na medicina nuclear, o grande passo a ser dado é iniciar as obras do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que dará autossuficiência ao país na produção de radiofármacos.
O presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan), Celso Cunha, lembrou que a obra de Angra 3, por exemplo, pode gerar até 9 mil empregos diretos e indiretos, além de estimular o desenvolvimento da infraestrutura local. Além disso, afirmou que a Abdan, em parceria com a Frente Parlamentar Nuclear, vai trabalhar para elaborar uma proposta que definitivamente transforme a política nuclear brasileira em uma política de Estado.
Na programação, o NT2E ofereceu palestras, workshops e debates com especialistas abordando temas relevantes para o desenvolvimento da indústria nuclear no Brasil e no mundo, além de trazer também apresentações de cases de sucesso e exposições de produtos e serviços.