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Convidada falou sobre o processo de seleção e deu dicas para os diretores e produtores
Anne Delseth, da Quinzena dos Realizadores de Cannes, abre projeto Conversas com Curadores
A curadora da Quinzena dos Realizadores de Cannes , Anne Delseth, abriu nesta quarta-feira, 28 de fevereiro, na BiblioMaison – Biblioteca do Espaço Cultural da França, o projeto da ANCINE “Conversas com Curadores”. No Rio de Janeiro, onde está assistindo a uma série de filmes selecionados por ela própria entre os inscritos na 27ª edição dos Encontros com o Cinema Brasileiro , Anne encontrou um espaço entre as sessões para um bate-papo com realizadores, produtores e o público interessado em cinema para contar um pouco sobre a Quinzena dos Realizadores e sua experiência com a seleção de filmes para festivais e ainda aproveitou para dar alguns conselhos. O evento foi aberto pelo assessor internacional da ANCINE, Gustavo Rolla, que agradeceu a presença da curadora e anunciou a intenção de repetir a iniciativa com profissionais de outros festivais sempre que estiverem no Brasil para os Encontros, iniciativa da ANCINE, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE) .
A curadora iniciou sua palestra falando sobre a origem da Quinzena dos Realizadores, que surgiu em meio a efervescência política de maio de 1968 na França. Segundo ela, até hoje a mostra ainda preserva um pouco do caráter de vanguarda de seus primeiros tempos: "A Quinzena continua sendo um festival muito livre. Podemos, por exemplo, programar filmes longos como fizemos há alguns anos com um filme indiano que durava mais de cinco horas. Temos esta vontade de permanecer livres. A Quinzena é uma seção não competitiva, os espectadores não precisam de nenhum traje especial para entrar nas salas, é a única mostra de Cannes que é aberta ao público, não precisa de inscrição prévia, apenas acordar cedo para entrar na fila para comprar as entradas", brincou.
Anne esclareceu que a equipe de curadoria da Quinzena conta com cinco profissionais, que anualmente assistem a cerca de 2 mil obras para chegar a uma seleção final de apenas 20 longas-metragens. Para ela, a melhor forma de ter um filme selecionado para alguma das mostras de Cannes (Seleção Oficial, Quinzena dos Realizadores, Semana da Crítica e mostra Un Certain Regard) é fazer a inscrição em todos os eventos para maximizar as chances e, no caso de ter o filme selecionado em mais de uma delas, escolher a melhor opção. "Há uma concorrência simpática. Nós não nos comunicamos. São realmente quatro festivais em paralelo, então não pensem que recomendamos filmes uns aos outros". Por outro lado, ela revelou que toda a equipe de curadores da Quinzena trabalha também para outros festivais. "Um curador é quase sempre um freelancer , nós trabalhamos também em outros eventos, então é sempre interessante mostrar um filme para um curador, porque ele pode recomendá-lo para todos os outros festivais com os quais ele colabora".
Em relação ao cinema brasileiro, Anne esclareceu que não é certo pensar que a curadoria espere algo específico quando assiste a um filme do país. "O que esperamos e procuramos é um filme que sinalize para uma nova forma de cinema, ou um filme emocionante, ou simplesmente um filme bom, de qualidade. Não temos nenhuma expectativa específica em relação aos filmes brasileiros ou de qualquer outra nacionalidade", disse ela. Anne contou ainda que um erro frequente é quando realizadores tentam emular alguma fórmula que consideram ter mais chances com a curadoria. "Não é difícil perceber quando um diretor quer fazer um filme para Cannes, pensando em uma fórmula que funciona, como por exemplo filmes que parecem com os filmes dos irmãos Dardenne. Às vezes se tenta imitar um certo cinema que já teve êxito em Cannes e nós normalmente conseguimos sentir rapidamente esta falta de autenticidade".
Anne contou ainda que em relação à Quinzena dos Realizadores, nas últimas décadas a produção brasileira tem sido representada mais pelos curtas-metragens. "Eu não consigo explicar isso com clareza, mas já faz sete anos que eu tenho vindo ao Brasil, para o Festival de Tiradentes, e, graças à ANCINE, também para estes Encontros, e a impressão que eu tenho é que o cinema que eu vi ainda está citando um pouco o cinema de antes, uma coisa meio Cinema Novo, com citações e colagens que não correspondem mais ao cinema contemporâneo que procuramos. Ou então uma produção muito ancorada para o divertimento, para o entretenimento, o que é muito bom, mas também não é o que procuramos para o evento. Eu não posso dar uma receita, mas eu espero que este ano tenhamos um filme brasileiro na seleção de longas, porque em relação aos curtas, parece que há uma forma de liberdade de criação e de escrita, que a gente encontra menos nos longas. Sempre ficamos muito impressionados com os curtas".