Notícias
Aviação agrícola no Brasil completa 70 anos
À esquerda: Marcus Vinicius Fernandes Ramos, Gerente de Operações da Aviação Geral, da Superintendência de Padrões Operacionais (GOAG/SPO/ANAC). Foto: ASCOM/ANAC
Todos os anos a ANAC participa do Congresso Sindag com estande no qual técnicos das diversas áreas técnicas da Agência ficam disponíveis para tirar dúvidas e atender os interessados. Neste ano, a ANAC atualizou a Cartilha de perguntas e respostas sobre Operador Aeroagrícola (clique no link para acessar), material produzido exclusivamente para o Congresso e que foi distribuído durante o evento.
Estande da ANAC no evento. Foto: ASCOM/ANAC
De acordo com dados do Sindag, no primeiro dia do Congresso (08/08), quase mil pessoas compareceram ao evento. Houve debate entre representantes de organismos aeroagrícolas do Brasil, Uruguai, Canadá, da Argentina e dos Estados Unidos, e discussão sobre os desafios e tendências tecnológicas na agricultura diante do cenário mundial.
No segundo dia de palestra (09/08), foram abordados temas sobre a comunicação com a sociedade e a segurança operacional no setor. Exibições práticas de pulverização e de combate a incêndios florestais com aeronaves marcaram o dia.
Exibição prática de pulverização durante o evento. Foto: Sindag
No último dia do Congresso (10/08), os destaques foram as demais demonstrações aéreas e as apresentações realizadas nos diversos estandes de exposição.
Participantes do evento em visita aos estandes do Congresso. Foto: Sindag
No ano em que a aviação agrícola completa 70 anos no Brasil, estiveram presentes no Congresso Sindag 2.000 participantes e 71 empresas expositoras, de acordo com dados do promotor do evento.
Em 2016, o Congresso foi realizado em Botucatu, São Paulo, e o público geral foi de 1.500 pessoas e 53 empresas expositoras.
Os 70 anos da aviação agrícola
Aviação agrícola é um serviço especializado que visa proteger ou fomentar o desenvolvimento da agricultura por meio de operações aéreas para aplicação de fertilizantes, sementes e defensivos, povoamento de lagos e rios com peixes, reflorestamento e combate a incêndios em campos e florestas. Essas operações podem ser conduzidas por pessoas físicas ou jurídicas que possuam certificado específico para executá-las.
Esse ramo da aviação surgiu no Brasil em 1947, após um ataque de praga de gafanhotos na região de Pelotas, Rio Grande do Sul, quando, no dia 19 de agosto, foi realizado o primeiro voo agrícola no Brasil. A bordo da aeronave Muniz, modelo M-9 – um bi-plano de fabricação nacional, prefixo GAP, monomotor de 190 HP, autonomia de voo de 4 horas –, o piloto Clóvis Candiota e o engenheiro agrônomo Leôncio Fontelle aplicaram produtos químicos na área para combater o surto dos insetos.
Desde então, no Brasil, a data de 19 de agosto é considerada como o Dia Nacional da Aviação Agrícola, sendo que o piloto civil Clóvis Candiota se tornou o Patrono da Aviação Agrícola.
Parte fundamental da aviação civil brasileira, a aviação agrícola é um instrumento importante para o agronegócio do país e para a saúde pública, no combate a doenças endêmicas, entre diversas outras relevantes atividades.
Frota
Até janeiro deste ano, a frota aeroagrícola somou 2.083 aeronaves certificadas pela ANAC, sendo que 1.249 delas, equivalente a 59,9% de todo o contingente, são da fabricante brasileira Embraer-Neiva. Também constam nos registros da Agência 269 empresas do setor já certificadas. A média de crescimento da frota aeroagrícola, de 2009 a 2016, foi de 5% ao ano.
O estado do Mato Grosso dispõe do maior número de aeronaves agrícolas certificadas. São 462, equivalente a 22,1% da frota nacional; seguido do Rio Grande do Sul, com 418 (20%); e São Paulo , com 311 aeronaves (14,9%).
Em fevereiro de 2016, a ANAC voltou a certificar empresas na categoria Aeroagrícola / Serviço Aéreo Especializado (SAE). A empresa recebeu certificação de Operador Aéreo para utilizar helicópteros na pulverização das lavouras brasileiras. Essa modalidade de certificação estava inoperante há mais de 30 anos. Foram registrados helicópteros Robinson 22, 44 e 66.
Mais recentemente, no último dia 09 de agosto, a ANAC certificou outra empresa na modalidade aeroagrícola com helicópteros, com sede no Paraná. Há também um processo de inclusão de aeronave Robinson 44 nas especificações operativas de uma terceira empresa, sediada em Ribeirão Preto, São Paulo, a qual já possui certificado para operação de aeronaves de asa fixa desde 2010.
Em julho de 2016 , a Agência autorizou a primeira escola a ministrar cursos práticos e teóricos para a formação de pilotos agrícolas de helicópteros (PAGH).
As certificações seguem um padrão de distribuição por categoria, dentre as quais lideram os Serviços Aéreos Especializados (Empresas Aeroagrícolas), com frota de 1.328 aeronaves e a categoria Privados, com 727. As demais se distribuem entre Administração Direta e Indireta (Estadual e Federal), Administração Direta DF, Protótipo e Instrução, somando 28 aeronaves.
Perfil do piloto agrícola
Júlio Augusto Kämpf se tornou piloto agrícola em 1982, em Sorocaba, São Paulo, e soma aproximadamente 15.000 horas de voo, a maior parte no estado do Rio Grande do Sul. Atualmente, preside o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag).
Júlio Augusto Kämpf - Piloto agrícola desde 1982 e atual Presidente do Sindag. Foto: Arquivo pessoal
Quando questionado sobre os desafios do ofício, Júlio é categórico: “ Sem dúvida, passa pela segurança de voo e qualidade na formação para melhor profissionalização”.
Júlio também citou as qualificações e treinamentos que um profissional da área precisa ter: atendimento às exigências dos Regulamentos Brasileiros de Aviação Civil (RBAC); domínio das técnicas de aplicações; boas práticas agrícolas; e conhecimento das tecnologias e das legislações aplicadas.
“A principal missão da aviação agrícola está na segurança alimentar do Brasil, no controle fitossanitário das lavouras, gerando menor impacto ao meio ambiente. Na gestão das boas práticas agrícolas com o uso adequado das tecnologias e com o empenho das empresas na segurança de voo, estamos realizando o programa da sustentabilidade”, declara Júlio.
José Paulo Rodrigues Garcia (63), piloto agrícola há 42 anos, que atua em Ribeirão Preto, São Paulo, conta que acompanhou a evolução no setor aeroagrícola. Ele afirma que, em 1995, quando ainda não se utilizava o Sistema de Posicionamento Global (GPS) nos aviões agrícolas do país, trouxe uma aeronave dos Estados Unidos equipada com a tecnologia, uma novidade no Brasil.
José Paulo Rodrigues Garcia - Piloto agrícola há 42 anos. Foto: Arquivo pessoal
Antes da chegada do GPS ao setor aeroagrícola, utilizava-se o sistema de ‘bandeirinhas’ ou ‘balizadores’ – equipe de apoio em terra – para orientar os pilotos durante os voos de aplicação de produtos.
“A aviação agrícola é uma ferramenta extraordinária para o país. Na aplicação aérea, quem absorve o produto é a planta e não o chão. Portanto, não há contaminação do lençol freático”, afirma José Garcia. E completa: “Para ser piloto agrícola tem que acordar cedo, entre 4h e 5h da manhã, e trabalhar até o pôr do sol, conforme o padrão de temperatura e umidade do período, lidar com veneno o dia todo, descansar embaixo das asas da aeronave e dormir em fazendas, se necessário”.
Outro piloto agrícola com vasta experiência é João Carlos Castro Tito (66), há 35 anos na área. Formado em Sorocaba, São Paulo, atualmente opera no Rio Grande do Sul. Tito, como é comumente conhecido, cita os riscos do trabalho como os maiores desafios da profissão: “Tem que gostar muito do que faz, porque os riscos são grandes. Dependendo das condições climáticas e gerais do dia, dá vontade de não decolar”. Para ele, ser piloto agrícola requer muita responsabilidade e comprometimento.
João Carlos Castro Tito – Piloto agrícola há 35 anos. Foto: Arquivo pessoal
João Tito ressalta a relevância da aviação agrícola para o Brasil: “É muito importante para o desenvolvimento da agropecuária do país, tanto na pulverização das lavouras, quanto na semeadura para formação de pastagens” .
As informações de como se tornar um piloto agrícola (clique no link para acessar) estão disponíveis no Portal da ANAC.
Acidentes
De acordo com a base de dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), de 2006 a 2017, os acidentes em operações agrícolas totalizaram 238 casos, destes, 59 com vítimas fatais. A distribuição anual foi:
Ano |
2006 |
2007 |
2008 |
2009 |
2010 |
2011 |
2012 |
2013 |
2014 |
2015 |
2016 |
2017 |
Acidentes |
11 |
12 |
17 |
10 |
16 |
26 |
18 |
19 |
29 |
24 |
34 |
22 |
Os quatro tipos mais frequentes de ocorrências no período foram:
Causa/acidente |
Quantidade |
Perda de controle em voo |
65 |
Colisão em voo com obstáculos |
54 |
Falha do motor em voo |
53 |
Perda de controle no solo |
33 |
As operações usadas para aplicações de fertilizantes e pesticidas em lavouras requerem voos em baixa altitude, manobras em curto espaço, muita precisão e habilidade dos pilotos, e manutenção constante das aeronaves, motivos pelos quais a ANAC tem promovido ações periódicas, visando disseminar melhores práticas para o setor.
Neste ano, a Agência incluiu a fiscalização de empresas aeroagrícolas em seu Plano de Trabalho Anual (PTA). Espera-se, contudo, que a ação conscientize os operadores quanto à segurança operacional, tornando a atividade cada vez mais segura.
Além disso, a ANAC disponibiliza em seu portal uma lista das empresas aeroagrícolas brasileiras devidamente homologadas pela Agência (clique no link para acessar), para consulta dos interessados em contratar o serviço. A ANAC também mantém atualizadas suas publicações voltadas para o segmento, como o Manual do Operador Aeroagrícola (clique no link para acessar).