Meteorologia e a Segurança de Voo
As condições meteorológicas adversas para o voo podem ser fatores contribuintes de acidentes aéreos. Portanto, as informações meteorológicas têm valor para a segurança de voo.
A divulgação dos estudos referentes à importância da meteorologia nas ocorrências aeronáuticas está alinhada com o propósito do Programa de Implementação do PSOE-ANAC.
Um dos elementos essenciais do Programa Brasileiro para a Segurança Operacional da Aviação Civil (PSO-BR) é o Comitê de Segurança Operacional da Aviação Civil Brasileira (CSO), equipe multidisciplinar composta de representantes da ANAC e do COMAER que atua no gerenciamento da segurança operacional no país.
No âmbito dos trabalhos deste Comitê, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e o Comando da Aeronáutica (COMAER) publicaram a Portaria Conjunta nº 5.754, que dispõe sobre os mecanismos de reporte mandatório e voluntário de ocorrências da aviação civil.
O normativo apresenta definições claras sobre a atuação regulatória dos dois órgãos na apuração e tratamento de reporte aeronáutico. Esta Portaria estabelece que as ocorrências relacionadas com as condições meteorológicas, por representarem um risco significativo para a segurança operacional da aviação civil, devem ser comunicadas por meio de mecanismo de reporte mandatório - Item 4.1 a) viii
Veja a íntegra da Portaria (clique no link para acessar).
Um estudo realizado pelo Centro Nacional de Análise de Dados de Segurança da Aviação (National Aviation Safety Data Analysis Center – NASDAC), no período de 1992 a 2001. e dados do sistema de Análise e Compartilhamento de Informações de Segurança da Aviação (Aviation Safety Information Analysis and Sharing – ASIAS), desenvolvido pela Federal Aviation Administration – FAA, no período de 2003 a 2007, constataram que aproximadamente 21% do total de acidentes aeronáuticos tiveram fatores meteorológicos dentre os possíveis fatores contribuintes. Ambos os estudos utilizaram dados da National Transportation Safety Board (NTSB).
A figura abaixo apresenta, em porcentagem, os diferentes tipos de fatores meteorológicos contribuintes.
Fonte: NTSB Weather Related Accidents
O estudo foi consolidado em um relatório, cujo objetivo é orientar a comunidade da aviação, a respeito da correlação entre os acidentes aéreos e as condições meteorológicas adversas para o voo.
A metodologia de análise considerou que o número de acidentes e a correlação com as condições meteorológicas adversas dependem da categoria de operação da aeronave e que um acidente pode envolver múltiplas condições atmosféricas.
Também foi apresentada uma análise comparativa da influência dos fatores meteorológicos nos acidentes, por fase de voo.
Acesse na íntegra o conteúdo do relatório NTSB Weather Related Accidents.
Confira também o relatório National Transportation Safety Board (NTSB), que analisa os dados de acidentes de 2002 a 2013, em que a turbulência foi uma causa ou fator contribuinte.
A National Transportation Safety Board também elaborou estudos para entender melhor os fatores de risco que estão associados a acidentes que ocorrem em condições climáticas caracterizadas por IMC ou com visibilidade restrita.
Os investigadores coletaram dados de 72 acidentes da aviação geral, que ocorreram entre agosto de 2003 e abril de 2004 e concluíram que cerca de dois terços de todos os acidentes de aviação geral (GA) que ocorrem em condições meteorológicas de instrumento (IMC) são fatais.
Fonte: Safety Study NTSB/SS-05/01
Os dados históricos de acidentes sugerem que voos em condições de baixa visibilidade representam um alto risco para as operações da aviação geral.
A análise da NTSB revelou também que as medidas necessárias para mitigar esses fatores de risco devem ser adotadas em 3 grandes áreas de atuação:
- Garantir um nível mínimo de proficiência para todos os pilotos para que eles tenham condições de reconhecer e responder com segurança a fenômenos meteorológicos adversos para o voo;
- Fornecer um suporte adicional para pilotos cujo histórico de desempenho indica um risco maior de se envolverem em acidentes ocasionados por condições meteorológicas adversas;
- Fornecer aos pilotos da aviação geral uma orientação adicional sobre as fontes de informações meteorológicas disponíveis na fase de planejamento de voo.
O estudo revelou também que o reforço no treinamento e avaliação periódica em questões de meteorologia podem ser necessários para assegurar que os pilotos mantenham conhecimento e habilidades satisfatórios relacionados a condições meteorológicas ideias para um voo seguro.
Outra conclusão importante deste estudo é a de que os pilotos da aviação geral são obrigados a consultar rotineiramente fontes alternativas de condições meteorológicas para o voo, que não estão disponíveis em um briefing meteorológico padrão.
Dentre as recomendações que foram emitidas à Federal Aviation Administration (FAA) estão:
- A inclusão de treinamento para o reconhecimento de condições meteorológicas adversas em solo e em voo e a interpretação adequada dos boletins meteorológicos aeronáuticos;
- O estabelecimento de um índice de proficiência a ser exigido para os pilotos nos testes de conhecimento sobre meteorologia aeronáutica;
- A elaboração de materiais de orientação com estímulo ao uso da internet e de outras fontes para obtenção de informações meteorológicas para o voo, quando estas não estiverem disponíveis num briefing meteorológico padrão.
Em outro estudo também relacionado à influência da meteorologia para a segurança de voo, a National Transportation Safety Board investigou 16 acidentes e incidentes que ocorreram entre março de 2012 e dezembro de 2015 e que tiveram como fatores contribuintes deficiências no tratamento de informações PIREP.
De acordo com o estudo, os atrasos no envio deste tipo de mensagem, os erros ou a perda dos dados contribuíram para reduzir a percepção das tripulações a respeito de condições meteorológicas adversas para o voo.
Os PIREP´s são relatórios feitos por pilotos que descrevem brevemente condições meteorológicas em voo, constituindo uma importante fonte de informações meteorológicas para evitar encontros inadvertidos com condições meteorológicas adversas e prevenir acidentes.
Essa informação também é utilizada por meteorologistas para avaliar a qualidade de suas previsões e melhorar os produtos meteorológicos oferecidos aos pilotos, especialmente produtos relacionados a previsão de turbulência e ocorrência de formação de gelo.
Fonte: Improving Pilot Weather Report Submission and Dissemination to Benefit Safety in the National Airspace System - NTSB/SIR-17/02 - PB2017-101424
Clique aqui para acessar o relatório Improving Pilot Weather Report Submission and Dissemination to Benefit Safety in the National Airspace System.
A Flight Safety Foundation (FSF), uma organização internacional independente, sem fins lucrativos, de pesquisa, educação, advocacia e publicação no campo da segurança da aviação, que reúne profissionais da aviação de todos os setores para ajudar a resolver os problemas de segurança enfrentados pela indústria, divulga em seu portal informações sobre acidentes em que as condições meteorológicas adversas foram possíveis fatores contribuintes.
São apresentados relatórios de acidentes cujas as causas podem estar relacionadas aos seguintes fatores meteorológicos: cinzas vulcânicas, chuvas fortes, formação de gelo em aeronaves, descargas elétricas, tempestade de areia, trovoadas, turbulência, rajadas de vento, nevoeiro, cortantes de vento.
Clique aqui para acessar a base de dados.
No Brasil, de acordo com dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), as condições meteorológicas adversas estão entre os possíveis fatores contribuintes de ocorrências aeronáuticas (acidentes, incidentes graves e incidentes) que foram registradas nos últimos 10 anos.
Fonte: CENIPA. Dados extraídos do sistema em 14/08/2017
Essas informações estão consolidadas no Painel SIPAER, ferramenta de visualização de dados desenvolvida pelo CENIPA que apresenta as ocorrências aeronáuticas notificadas através da Ficha CENIPA-05: http://www2.fab.mil.br/cenipa/index.php/destaques/1079-painel-sipaer
Fonte: CENIPA. Dados extraídos do sistema em 14/08/2017.
De acordo com o Panorama Estatístico da Aviação Brasileira 2016, divulgado em http://www2.fab.mil.br/cenipa/index.php/estatisticas/panorama, que apresentou o percentual de incidência dos possíveis fatores contribuintes em acidentes e incidentes graves nos últimos 10 anos, as condições meteorológicas adversas para o voo tiveram maior incidência do que fatores contribuintes importantes como: processo decisório, coordenação de cabine, cultura organizacional e percepção.
Fonte: CENIPA
Fonte: CENIPA
No segmento agrícola, dentre 66 possíveis fatores contribuintes, as condições meteorológicas adversas estão entre os 10 mais frequentes nas investigações de incidentes graves, superando a instrução e apresentando o mesmo percentual de frequência que foi apresentado em relação à pouca experiência do piloto.
Fonte: CENIPA
As condições meteorológicas adversas também estiveram entre os 10 mais frequentes possíveis fatores contribuintes nos segmentos particular e regular.
Fonte: CENIPA
RBHA 91 - Regras gerais de operação para aeronaves civis
91.145 – INFORMAÇÃO SOBRE CONDIÇÕES POTENCIALMENTE PERIGOSAS
Sempre que um piloto encontrar em voo uma condição meteorológica potencialmente perigosa ou outra irregularidade cuja divulgação esse piloto considerar essencial à segurança de outros voos, ele deve notificar uma apropriada estação rádio de solo tão cedo quanto praticável.
RBAC 135 - Requisitos operacionais: operações complementares e por demanda.
SUBPARTE B
OPERAÇÕES DE VOO
135.67 Informação sobre condições meteorológicas potencialmente perigosas e irregularidades em instalações de comunicações ou navegação
Sempre que um piloto encontrar em voo uma condição meteorológica potencialmente perigosa ou uma irregularidade em instalações de comunicações ou de navegação, cuja divulgação esse piloto considerar essencial à segurança de outros voos, ele deve notificar uma apropriada estação rádio de solo tão cedo quanto praticável.
RBAC 121 – Requisitos operacionais: operações domésticas, de bandeira e suplementares
121.357 Requisitos para radar meteorológico de bordo
(a) Ninguém pode operar qualquer avião categoria transporte (exceto aviões tipo C-46) ou um avião não incluído na categoria transporte de tipo certificado após 31 de dezembro de 1964, a menos que um equipamento de radar meteorológico aprovado tenha sido instalado no avião.
(c) Cada pessoa operando um avião no qual seja requerido um radar meteorológico instalado, quando voando esse avião segundo este regulamento, deve atender ao seguinte:
(1) despacho. Ninguém pode despachar um avião (ou iniciar o voo de um avião no caso de detentor de certificado que não usa um sistema de despacho) em voo VFR noturno ou IFR se as informações ou previsões meteorológicas conhecidas indicarem que trovoadas ou outros fenômenos meteorológicos potencialmente perigosos, capazes de serem detectados por um radar meteorológico de bordo, são esperados ao longo da rota a ser voada, a menos que o radar meteorológico do avião esteja em condições operativas satisfatórias;
(2) se o radar meteorológico tornar-se inoperante em rota, o avião deve passar a ser operado de acordo com as instruções e procedimentos aprovados para tal eventualidade.
RBAC 135 - Requisitos operacionais: operações complementares e por demanda.
135.175 Requisitos para radar meteorológico de bordo
(a) Ninguém pode operar uma aeronave categoria transporte em operações transportando passageiros, a menos que um radar meteorológico aprovado esteja instalado na aeronave.
(b) Ninguém pode iniciar um voo em condições IFR ou VFR noturno quando as informações meteorológicas conhecidas indicarem que trovoadas ou outras condições meteorológicas potencialmente perigosas e que podem ser detectadas por radar meteorológico têm razoável probabilidade de serem esperadas ao longo da rota a ser voada, a menos que o equipamento de radar meteorológico requerido pelo parágrafo (a) desta seção esteja em condições satisfatórias de operação.
(c) Se o equipamento de radar meteorológico tornar-se inoperante em voo, a aeronave deve ser operada conforme as instruções e procedimentos especificados no manual requerido pela seção 135.21.
(d) Esta seção não se aplica para aeronaves durante operações de treinamento, ensaios e em voos de traslado.
(e) A despeito de qualquer outra provisão deste regulamento, uma fonte alternativa de suprimento elétrico não é requerida para o equipamento de radar meteorológico de bordo.