Madeira
O Madeira é um dos principais rios do Brasil e o mais longo e importante afluente do rio Amazonas. No mundo, é um dos cinco rios mais caudalosos e o 17º mais extenso (3.240 km). Além disso, é um dos principais da América do Sul: sua bacia hidrográfica possui 125 milhões de hectares. Com denominações diferentes, o rio Madeira banha três países: Brasil, Bolívia e Peru. Além da importância ambiental, ele é essencial para a economia de muitas regiões, pois tradicionalmente proporciona a pesca, o transporte hidroviário e, em suas margens, o plantio de diversos produtos agrícolas.
Outro uso importante do Madeira é o trecho navegável de, aproximadamente, 1.345 km entre Porto Velho e a foz do rio Amazonas. O Madeira é um importante canal de integração e comércio da região Norte pois permite a movimentação de pessoas e cargas entre Rondônia, Mato Grosso e Amazonas, e, no interior desses Estados, entre localidades ainda não atendidas por rodovias. Além disso Porto Velho funciona como uma espécie de centro de distribuição: recebe as mercadorias que chegam por barcaças e as envia para os destinos finais em caminhões.
O rio Madeira recebe este nome, pois no período de chuvas seu nível sobe e inunda grandes porções da planície florestal, trazendo troncos e restos de madeira da floresta. O período chuvoso da região vai de dezembro a maio. Como o Madeira é um rio andino, suas águas sobem muito em períodos de degelo nos Andes ou de chuvas intensas. A largura da calha chega a aumentar mais de dez vezes e ao mesmo tempo sua vazão aumenta significativamente. O aumento do volume faz com que as águas inundem campos e florestas. A força da vazão arranca as árvores do solo e as transporta ao longo do curso do rio. Essa característica requer especial atenção da ANA para que os impactos das cheias sejam evitados ou minimizados.
Uma das formas de gestão das cheias é o acompanhamento e a definição de regras operativas para as usinas hidrelétricas da região. O Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira é composto por duas usinas de grande porte: Usina Hidrelétrica de Jirau e UHE Santo Antônio. As outorgas dos referidos empreendimentos foram dadas pelas Resoluções ANA 465/2008 (Santo Antônio) e 269/2009 (Jirau), sendo que de acordo com as condições estabelecidas nessas resoluções as usinas não devem influenciar os níveis e vazões em Porto Velho e no território boliviano, pois os níveis de água dos reservatórios devem variar acompanhando as condições do rio Madeira.
Em 2014 ocorreu a maior cheia no rio Madeira, com tempo de recorrência de, aproximadamente, 300 anos. O rio Madeira em Porto Velho atingiu a marca recorde de 19,74 metros em 30 de março de 2014, mais de 3 metros acima da cota de emergência estabelecida por órgãos públicos nesse local – 16,68 metros. Até então, a maior marca já registrada era 17,51 metros em abril de 1997. Comportamento semelhante foi observado nos rios Mamoré, Guaporé e Abunã, que também atingiram níveis excepcionais nesse ano.
A elevação gradual do nível dos rios produziu consequências importantes na dinâmica da região, seja no meio urbano ou rural. Trechos da BR-364, principal ligação do extremo oeste brasileiro com o país e única estrada que leva ao Acre, ficaram inundados por cerca de 3 meses, isolando o Acre do resto do país (em termos rodoviários).
Considerando o início do período de cheias do ano hidrológico 2017/2018, os níveis que foram registrados no rio Madeira, e tendo em mente os impactos causados por eventos severos de cheias em anos recentes, a ANA decidiu instituir a Sala de Crise do rio Madeira em janeiro de 2018. Essa sala tem como objetivo promover a articulação entre os principais atores envolvidos com a temática de recursos hídricos, permitindo um acompanhamento sistemático da evolução da cheia na bacia do rio Madeira e a adoção de medidas com vistas a prevenir ou minimizar os impactos esperados.