Notícias
Roda de Conversa discute mulheres e água
Roda de Conversa sobre água e gênero - Foto: Andréa Trindade / Banco de Imagens ANA
O tema água e gênero compôs o quadro de programações do 8º Fórum Mundial da Água. Nesta tarde, no auditório Arena da Vila Cidadã, foi realizado um debate sobre o papel da mulher na participação da gestão de políticas públicas que tratam do uso dos recursos hídricos. A importância delas na preservação, coleta e uso da água foi discutida por quatro especialistas no tema: a bióloga holandesa, Alice Bouman; a socióloga Rosana Garjulli; a professora da UnB, Daniela Nogueira; e a ativista do Azerbaijão, Lavrina Anastasia.
Daniele Nogueira começou o debate apontando o princípio número 3 da Declaração de Dublin, que ressalta a importância das mulheres na participação, administração e proteção da água. Ela lamentou que a Política Nacional de Recursos Hídricos do País não tenha reconhecido ainda esse fundamento. Levantou a polêmica de que a inserção das mulheres nesse cenário não é uma questão de atender ao quesito politicamente correto, mas sim a uma necessidade de garantir a efetividade na gestão.
Nogueira lembrou das iniciativas que a Agência Nacional de Águas tem feito nesse aspecto, como por exemplo, a promoção da Oficina Construindo uma Agenda de Água e Gênero para o Brasil e para a América Latina, realizada ano passado, que reuniu 12 mulheres com experiências no assunto, de diversos países, para trocar informações e debater o tema. Daniele ainda citou o Comitê de Pró-Equidade de Gênero da ANA (CPEG), instituído em dezembro de 2017 e que propõe, dentre outras funções, dar voz a essa temática na instituição.
A bióloga Alice Bourman falou das experiências de mulheres africanas que fizeram a diferença em suas comunidades a partir de sua participação direta nas iniciativas locais de gestão dos recursos hídricos. A holandesa concluiu sua fala afirmando que a água é uma importante ferramenta de empoderamento das mulheres.
Rosana Garjulli, socióloga e consultora independente na gestão participativa de políticas públicas, trabalha com comitês de bacias hidrográficas há 26 anos e afirmou nunca ter presenciado a discussão de água e gênero nos ambientes de debate e eleição. Garjulli enfatizou, ainda, que as mulheres, apesar de presentes muitas vezes nas instituições de gestão de recurso hídricos, raramente ocupam os cargos de tomada de decisões, o que dificulta a inserção da temática de água e gênero nestes colegiados.
Completando a roda de conversa, Lavrina Anastasia, integrante do Internation Eurasia Press Fund, compartilhou com todos a vulnerabilidade em que vivem as mulheres de seu país, Azerbaijão, sobretudo aquelas que habitam em áreas de conflito. Muitas sofrem com a falta de água nesses locais e são geralmente as responsáveis por buscarem o recurso, junto com as crianças. Ela fez um apelo para que essas vozes femininas e vulneráveis sejam ouvidas e que fiquem unidas em prol dessa causa.
Durante o debate, os ouvintes participaram com depoimentos e provocações. Juliane Sousa, jornalista e apresentadora do programa Biosfera, questionou a ausência de mulheres negras e indígenas no debate. A advogada Luciana Cordeiro cobrou a participação das ribeirinhas, das produtoras rurais e daquelas mulheres que não têm acesso a essas oportunidades. Exigiu um Fórum mais participativo e inclusivo, falou de empoderamento, mas lembrou da importância de se manter a doçura de ser mulher.
Integrantes da CPEG assistiram ao debate. Um deles, Rafael Tavares, sentiu falta de uma discussão que vise à sensibilização masculina para a causa. Já Rosana Evangelista chamou a atenção para a importância dessa Roda, pela oportunidade de se ouvir diferentes vozes que dominam a temática e debatem o assunto mundo afora. A especialista em recursos hídricos da ANA lembrou, ainda que a discussão supera o tema gênero e provoca uma reflexão sobre as relações de poder na sociedade.
Clique aqui para ler a edição 4 do Jornal do 8FMA