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Mercado de Soluções apresenta tecnologias sociais no Fórum
Moradores da comunidade ribeirinha de Furo Grande, na Ilha das Onças, município de Barcarena (Pará), estão coletando, armazenando e consumindo água de melhor qualidade. Na Amazônia, cercados pela água dos rios, é a captação da água da chuva que garante água potável. Para completar o ciclo de cuidados com água, a instalação de banheiros ecológicos ribeirinhos garante o tratamento dos efluentes e contribuem para evitar a contaminação do rio.
As soluções simples, de baixo custo, e adequadas à realidade amazônica estão sendo implantadas pelo projeto “Promovendo a Sociobiodiversidade: Restauração Ambiental com Geração de Renda em Comunidades Ribeirinhas na Amazônia”, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), que desde 2012 desenvolve estudos e ações com a participação de 15 famílias.
As tecnologias sociais desenvolvidas para a comunidade foram selecionadas para o espaço Mercado de Soluções e serão apresentadas a partir de segunda no Fórum Mundial da Água.
E tudo começou com as abelhas...
Iniciado em 2012, o projeto “Promovendo a Sociobiodiversidade: Restauração Ambiental com Geração de Renda em Comunidades Ribeirinhas na Amazônia” começou na sala de aula, como uma proposta de pesquisa e extensão, prática e aplicada. “Uma espécie de desafio aos alunos para que mudassem a realidade local”, conta Vania Neu, ecóloga e professora da UFRA.
Em visita à comunidade do Furo, na Ilha das Onças, foi identificada a falta de polinizadores e a consequente queda na produção de açaí, principal fonte de renda da comunidade. Assim, a primeira ação foi voltada para a restauração florestal com a reintrodução da abelha nativa da Amazônia Uruçu-Amarela (Melipona flavolineata).
“Mas na comunidade nos deparávamos todos os dias com um problema novo. Os ribeirinhos não têm as coisas mais essenciais como água potável, energia, saneamento. Buscamos, então, expandir o olhar, ampliar a ideia inicial e promover outras transformações. Foi então que desenvolvemos tecnologias sociais alternativas como o sistema de captação de água da chuva e o banheiro ecológico ribeirinho. Para a Amazônia tem de ser coisa simples e barata. Sistemas caros, com manutenção de alto custo, não resolvem”, comenta Vania Neu.
Diferentemente do que ocorre no Nordeste, as cisternas de captação de água da chuva instaladas na comunidade amazônica são elevadas. Vania Neu explica que a necessidade de captação de água da chuva, se dá porque em determinados períodos do ano, na região insular de Belém, quando a vazão do Rio Pará e da Baia do Guajará é reduzida, suas águas se tornam salobras devido à mistura das águas doce, de origem continental na região conhecida como Golfão Marajoara, e salgada, de origem marinha.
“Essa concentração de sais torna essa água imprópria para o consumo, o que a difere da água da chuva que apresenta baixa concentração de sais. Logo, a qualidade da água da chuva nesta região do país, onde a atividade industrial é pequena a água da chuva é de melhor qualidade quando comparada com a água dos rios”, comenta.
Segundo a professora, na Amazônia os principais problemas de contaminação hídrica têm origem nos esgotos domésticos, em especial próximo a grandes cidades como Belém e Manaus. O banheiro ecológico instalado na Ilha das onças não utiliza água para diluição dos dejetos, o que evita a contaminação do solo e da água. É um banheiro seco, que utiliza serragem, cinzas ou folhas secas, que auxiliam no processo de decomposição de dejetos, via compostagem.
O banheiro ecológico também está interligado ao sistema de captação e armazenamento da água da chuva. Da cisterna sai uma tubulação, que chega até o banheiro, levando água até uma torneira para a higienização das mãos após o uso do banheiro.
Reconhecimento
Em 2013, com a primeira colocação no Prêmio Professor Samuel Benchimol e Banco da Amazônia de Empreendedorismo Consciente, foi possível montar o laboratório de análise água na UFRA e realizar o levantamento de etnobotânica e das principais plantas medicinais e o uso pela comunidade.
Em 2014, o trabalho foi vencedor da categoria “Ensino” da Agência Nacional das Águas (ANA) e, em 2015, foi apresentado no 7º Fórum Mundial da Água, na República da Coreia. Também em 2015 foi conquistada a certificação de tecnologia social concedida pela Fundação Banco do Brasil para o banheiro ecológico.
Vania Neu tem expectativa que as soluções apresentadas pelo projeto alcancem agora outro patamar e possam ser incorporadas como política pública estadual. Projeto de cooperação apresentado à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica do Pará (SECTEC-PA) para melhorias nos equipamentos instalados podem inspirar a ampliação do acesso a água potável e saneamento à escala estadual. “Estarei feliz no dia em que as pessoas tiverem acesso à água limpa e ao saneamento. Nosso projeto mostra, na prática, que é possível”, conclui.
Mercado de Soluções
O Mercado de Soluções faz parte da programação da Vila Cidadã, concebida pelo Processo Fórum Cidadão do 8º Fórum Mundial da Água, e apresentará 60 experiências individuais ou comunitárias de diversas partes do mundo, todas relacionadas a boas práticas no uso da água. A ideia é que os visitantes percebam que podem replicar as iniciativas ou criar suas próprias soluções.
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