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Especialistas discutem e informam sobre a evolução da qualidade das águas do rio Paraopeba e de Três Marias desde o rompimento da barragem em Brumadinho
Representantes de instituições públicas e privadas se reuniram na sede da Agência Nacional de Águas (ANA), em Brasília, para discutir a qualidade das águas do rio Paraopeba e do reservatório de Três Marias (MG), no rio São Francisco, nesta terça-feira, 16 de abril. Esta reunião especial da Sala de Crise da Bacia do Rio São Francisco, promovida pela ANA, promoveu o intercâmbio de informações sobre os impactos do rompimento da Barragem B1 da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), ocorrido em 25 de janeiro deste ano.
Após a abertura da reunião pelo diretor da ANA Ney Maranhão, aconteceram apresentações com a temática do histórico da qualidade das águas a partir do monitoramento especial da qualidade das águas do rio Paraopeba, de Três Marias e do rio São Francisco a jusante (abaixo) do reservatório – o segundo maior da bacia, com um volume útil de 15,278 bilhões de metros cúbicos, e onde deságua o rio Paraopeba na confluência com o Velho Chico.
Todas as instituições que apresentaram seus dados coincidiram em afirmar que a pluma de rejeitos está no reservatório da usina hidrelétrica (UHE) Retiro Baixo, o que inclui a ANA, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) e o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (INEMA). “As evidências apresentadas aqui pelas instituições oficiais permitem afirmar que o rejeito não passou de Retiro Baixo”, explicou o diretor Ney Maranhão logo após o encontro.
Os representantes das instituições também explicaram os critérios adotados para a identificação e localização da pluma de rejeitos oriunda de Brumadinho. Outro ponto abordado foi a complexidade técnica de se identificar a localização exata da pluma, devido às variações de turbidez (quantidade de sedimentos) que a água da bacia do rio Paraopeba apresenta historicamente, em virtude das chuvas, e dos metais dissolvidos na água do próprio rio e de seus afluentes, como o ribeirão dos Gomes.
Outra constatação do monitoramento de qualidade de água realizado por instituições públicas – ANA, CPRM, IGAM e INEMA – foi de que os rejeitos ainda não chegaram ao reservatório de Três Marias. A frente de rejeitos está no reservatório da usina hidrelétrica (UHE) Retiro Baixo, que fica a cerca de 310km do local do rompimento da barragem de Brumadinho, a qual acumulava 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos no dia do incidente.
Também foram apresentadas as estimativas dos volumes de rejeitos depositados até a foz do ribeirão Ferro Carvão (7,73 milhões de m³), aportados ao rio Paraopeba (2,77 milhões de m³), sendo que a erosão causada pelo deslocamento dos rejeitos está incluída nestes números. Permaneceram na barragem da Vale 2,05 milhões de m³. Outro dado apresentado na reunião foi de que os valores mais elevados de turbidez estão nos 40km a jusante da Barragem B1.
Na sequência, o superintendente de Gestão da Rede Hidrometeorológica da ANA, Marcelo Medeiros, e representantes da empresa Vale abordaram o Programa Especial de Monitoramento da Qualidade das Águas e Sedimentos entre o reservatório da UHE Retiro Baixo e a barragem da UHE Três Marias.
Medeiros fez apresentação sobre o Programa de Monitoramento da Qualidade da Água e dos Sedimentos do Reservatório de Três Marias e Entorno (PMQS), formulado pela ANA e executado pela mineradora Vale, responsável pela Barragem B1, com supervisão por parte da Agência. O PMQS possui parâmetros de qualidade de água e de qualidade dos sedimentos em suspensão e dos sedimentos de fundo em 16 pontos monitorados entre os reservatórios de Retiro Baixo e Três Marias. Também são avaliados o transporte de sedimentos pelas águas do Paraopeba e a deposição dos rejeitos no fundo do rio.
O Programa complementa os pontos já existentes, monitorados por IGAM, ANA, CPRM, Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) e a própria Vale, que apresentou a rede que a Agência criou para acompanhar os resultados de qualidade da água no rio Paraopeba e nas estações instaladas em Três Marias. Os dados podem ser acompanhados em página disponibilizada pela Agência Nacional de Águas na internet nesta semana.
A pauta seguinte foi sobre o monitoramento ecotoxicológico, apresentada pelo analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Wellington Peres. Acerca do tema, o servidor apontou os impactos do rompimento da barragem à biodiversidade da bacia do rio Paraopeba.
Em seguida o professor Mário Cicareli, consultor da Vale, e o presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais (FEAM), Renato Brandão, abordaram intervenções no rio Paraopeba para mitigação dos impactos e modelagem hidrossedimentológica: transporte e deposição dos rejeitos, evolução do quadro e perspectivas.
No encerramento, o diretor da ANA Ney Maranhão fez um balanço global do desastre até o momento. “À medida que o tempo passa, vamos trabalhando juntos e construindo uma visão sobre como reagir a um evento como o de Brumadinho, olhando para o bem do País. Apesar da diversidade de ações, conseguimos atingir um todo coeso e consistente. Fica um compromisso com a transparência na divulgação dos dados e com a verdade”, concluiu.
A reunião também contou com a participação de representantes de comitês de bacias e de setores usuários da água, como a aquicultura. O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo de Miranda, elogiou a iniciativa da ANA em promover o encontro para dar transparência ao tema. Já o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (CBH Paraopeba), Winston Caetano, solicitou que o colegiado passe a ser mais envolvido nas discussões que envolvam o manancial.
Acesse aqui o vídeo com a gravação desta reunião da Sala de Crise da Bacia do Rio São Francisco.