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ANA e SGB-CPRM usam corante inofensivo para investigar o trajeto da água na bacia do rio Verde Grande (MG/BA)
Sumidouro no leito do rio Verde Grande - Foto: Márcia Pantoja / Banco de Imagens ANA
Entre 25 de outubro e 5 de novembro, uma equipe do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) estará em quatro municípios mineiros da bacia do rio Verde Grande – Montes Claros, São João da Ponte, Verdelândia e Jaíba – da bacia, para fazer o primeiro de uma série três ensaios com traçadores corantes na região. A investigação faz parte de um estudo que está sendo desenvolvido pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM). O lançamento dos traçadores (corantes), que são inofensivos à saúde, está previsto para 3 de novembro no Verde Grande, no rio Salobro e em poços selecionados. Com isso, a iniciativa busca verificar para onde vão as águas do Verde Grande que “desaparecem” em determinados pontos do rio.
Pontos de detecção serão monitorados após a injeção dos corantes. Tanto a água quanto o carvão ativado, utilizado para absorver o corante, serão periodicamente analisados pela equipe do SGB-CPRM.
Ao longo de toda a bacia do rio Verde Grande há aspectos geológicos, como cavernas, dolinas, sumidouros. Esse fenômeno ocorre devido à geologia da região e interfere nos aspectos socioeconômicos e reduz a disponibilidade hídrica superficial. Medições realizadas em julho de 2018 indicaram perda de cerca de 560 mil litros de água por hora – o suficiente para abastecer uma cidade com 90 mil habitantes.
Para acompanhar o trajeto da água, a equipe do projeto vai diluir no rio um corante, usado como traçador. A série de três ensaios com traçadores corantes será iniciada pelas sub-bacias dos rios Canabrava, Salobro e ribeirão do Ouro. Traçadores de cores diferentes serão lançados no rio Verde Grande, a montante (acima) da foz desses dois últimos cursos d’água. Para a bacia do rio Salobro, será realizada a injeção de traçador em um poço localizado em sua porção mediana. O lançamento do traçador junto aos sumidouros deverá ocorrer em março de 2022.
“Assim, poderemos descobrir se essa água emerge novamente na superfície em outros trechos do rio ou segue outras trajetórias, alcançado poços situados a várias distâncias de suas margens”, explica a pesquisadora em geociências Maria Antonieta Mourão. O traçador tem cor verde ou vermelha fluorescente, podendo ser detectado visualmente a olho nu.
Os traçadores corantes usados são específicos para pesquisa de águas subterrâneas, não são tóxicos e são totalmente inertes. O corante não causa nenhum tipo de dano a seres humanos, animais ou ao ecossistema. Além disso, o traçador não vai aparecer na torneira dos consumidores, uma vez que a água de abastecimento captada pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) ocorre em um local que não será impactado pelo corante. Caso a propriedade seja abastecida por um poço, é possível que a água fique temporariamente colorida, mas pode ser consumida normalmente.
A intervenção vai colorir a água somente por algumas horas. Os pesquisadores explicam que, à medida que mais água entra no ambiente subterrâneo, o corante tende a ser diluído até desaparecer.
Esse estudo faz parte de projeto que está sendo realizado ANA em parceria com o SGB-CPRM. e visa a identificar os fatores naturais e aqueles resultantes da intervenção humana que influenciam os recursos hídricos na bacia do Verde Grande. Assim, a partir da quantificação dos volumes de águas superficiais e subterrâneas disponíveis para os diversos setores usuários, considerando as demandas existentes, serão feitas propostas para uma gestão eficiente que assegure a alocação sustentável da água para seus diferentes usos. O estudo tem ainda a cooperação do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) e da Embrapa.
Equipe conta com ajuda da população
Os pesquisadores do projeto pedem que os moradores da região colaborem com o estudo, permitindo acesso dos pesquisadores aos locais para o lançamento dos traçadores e para a instalação de dispositivos com carvão ativado nos poços selecionados. Além disso, se for identificada a alteração de cor na água, seja de um poço, nascente ou mesmo da torneira, pedimos que seja feito contato nos telefones do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Verde Grande: (38) 3213-0647 ou (31) 7524-3579 (WhatsApp). “É importante que, nesse caso, o cidadão tire fotos do ocorrido e divulgue a ação entre conhecidos”, pontua Mourão.
Rio sem água
As vazões do rio Verde Grande, medidas ao longo dos anos, têm refletido a redução das chuvas e muito provavelmente o incremento dos usos das águas superficiais e subterrâneas. A partir da década de 1990, verifica-se uma diminuição nas vazões de base, aquelas que mantêm o rio na estiagem, nas proximidades de Jaíba. A situação se tornou ainda mais crítica na década de 2010, quando o rio passou a secar em determinadas épocas do ano.
“Conhecer os volumes de água que transitam no sistema hídrico da bacia do rio Verde Grande, os impactos gerados pelas mudanças climáticas e pelo consumo e as disponibilidades ainda existentes constituem objetivos dos estudos que estão sendo realizados pela ANA em parceria com o SBG-CPRM. A partir desses resultados, serão elaboradas diretrizes para a implantação da gestão integrada dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos de modo a garantir a alocação de água sustentável, considerando que todos os usos são interdependentes”, explicou Mourão.