PEP (Profilaxia Pós-Exposição de Risco à Infecção pelo HIV, ISTs e Hepatites Virais)
A PEP é uma medida de prevenção de urgência para ser utilizada em situação de risco à infecção pelo HIV, existindo também profilaxia específica para o vírus da hepatite B (HBV) e para outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Consiste no uso de medicamentos ou imunobiológicos para reduzir o risco de adquirir essas infecções. Deve ser utilizada após qualquer situação em que exista risco de contágio, tais como:
- Violência sexual;
- Relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com seu rompimento);
- Acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico).
A PEP é uma tecnologia inserida no conjunto de estratégias da Prevenção Combinada, cujo principal objetivo é ampliar as formas de intervenção para atender às necessidades de cada pessoa ou ainda das possibilidades de inserir o método preventivo na sua vida. Essas medidas visam evitar novas infecções seja pelo HIV ou pela hepatite B e outras ISTs.
Como funciona a PEP para o HIV?
Como profilaxia para o risco de infecção pelo HIV, a PEP tem por base o uso de medicamentos antirretrovirais com o objetivo de reduzir o risco de infecção em situações de exposição ao vírus.
Trata-se de uma urgência e deve ser iniciada no máximo em até 72 horas após a exposição. A profilaxia deve ser realizada por 28 dias e a pessoa tem que ser acompanhada pela equipe de saúde, inclusive após esse período realizando os exames necessários.
Como funciona a PEP para HBV?
A indicação de profilaxia o HBV dependerá da situação vacinal e sorológica do paciente. Para os pacientes imunes para HBV, não há indicação de medida profilática adicional. Recomenda-se vacinar toda pessoa suscetível à hepatite B. Pessoa suscetível é aquela que não foi vacinada, ou que foi vacinada, mas apresenta títulos de anti-HBs inferiores a 10mUI/mL e HBsAg não reagente.
Na situação de uma exposição a material biológico possivelmente infectante, se houver dúvida quanto à vacinação completa ou presença de títulos adequados de anti-HBs, recomenda-se indicar a vacinação para HBV.
A vacina para o HBV está disponível nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) que disponham de sala de vacina.
Em algumas situações de maior risco identificado, recomenda-se o uso associado da imunoglobulina humana anti-hepatite B (IGHAHB). Nesse caso, o usuário deve ser encaminhado para um Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) portando relatório de encaminhamento com os motivos da indicação em receituário médico. A dose recomendada de imunoglobulina é de 0,06ml/Kg de peso corporal.
Não há contraindicação à administração simultânea de vacina e imunoglobulina, desde que aplicadas em locais diferentes. A gravidez também não é contraindicação a estes imunobiológicos. Tanto a vacina quanto a imunoglobulina devem ser administradas preferencialmente nas primeiras 24 horas após a exposição, não excedendo 14 dias.
Exposição em violência sexual se configura uma situação de alto risco para hepatite B. Nestas situações, deve ser indicada a profilaxia do HBV com vacina e IGHAHB além das medidas estabelecidas em Norma Técnica publicada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Ministério das Mulheres.
Recomenda-se a investigação de sinais/sintomas de ISTs em todas as pessoas com exposição sexual de risco, além da avaliação de tratamento imediato. Nas pessoas que tiveram exposição sexual consentida, a realização de investigação laboratorial e seguimento clínico é o procedimento mais recomendável, devido ao risco de desenvolvimento de resistência bacteriana com o tratamento preemptivo.
Para a investigação de Chlamydia trachomatis ou Neisseria gonorrhoeae, recomenda-se o teste de amplificação de ácidos nucleicos (biologia molecular) específicos para IST. O teste é realizado por meio da urina (primeiro jato) ou com swabs em cada local de mucosa exposta a fluidos corporais potencialmente infectados (cavidade oral, vaginal, uretral e retal, colo uterino). A investigação de tricomoníase deve se basear no surgimento de corrimento vaginal. Em caso de pessoa sintomática, proceder à avaliação clínica.
Recomenda-se testagem para sífilis em todas as pessoas com exposição sexual de risco. Quando possível, testar também a pessoa-fonte. Para o diagnóstico da sífilis, devem ser realizados os testes treponêmico e não treponêmico. Recomenda-se iniciar a investigação pelo teste treponêmico (teste rápido, FTA-Abs, Elisa, entre outros). As pessoas com teste rápido reagente devem ter amostra coletada para um teste não treponêmico complementar. As pessoas com teste rápido não reagente devem ser acompanhadas conforme a Figura 4. Se, durante o seguimento, o exame tornar-se reagente, é diagnosticada sífilis recente, com indicação de tratamento imediato (benzilpenicilina benzatina 2,4 milhões de UI IM em dose única).
O tratamento preemptivo para profilaxia das ISTs somente é recomendado para pessoas vítimas de violência sexual, uma vez que há perda de seguimento de muitas delas e nem sempre é possível realizar o tratamento baseado no diagnóstico etiológico.
Considerando o contexto apresentado em situação de violência sexual, a oferta do SUS contempla ainda antibioticoprofilaxia abaixo, para as seguintes IST:
Esquemas para profilaxia das IST em situação de violência sexual:
IST | Medicamento | Adultos e adolescentes com mais de 45 kg | Crianças e adolescentes com menos de 45 kg |
Sífilis | Penicilina G benzatina | 2,4 milhões UI, intramuscular - IM (1,2 milhão UI em cada glúteo)(a) | 50.000UI/kg, IM (dose máxima total: 2,4 milhões UI)(a) |
Infecção por N.gonorrohoeae e C.trachomatis | Ceftriaxona + Azitromicina | Ceftriaxona 500 mg, 1 frasco-ampola, IM, dose única MAIS azitromicina 500 mg, 2 comprimidos, via oral (VO), dose única (dose total: 1 g) | Ceftriaxona 125 mg, IM, dose única MAIS azitromicina 20 mg/kg, VO, dose única (dose máxima total: 1 g) |
Tricomoníase | Metronidazol(b,c) | 400 mg, 5 comprimidos, VO, dose única (dose total: 2 g) OU 250 mg, 8 comprimidos VO, dose única (dose total: 2 g) | 15 mg/kg/dia, divididos a cada 8 horas, por 7 dias (dose diária máxima: 2 g) |
Fonte: Dathi/SVSA/MS.
(a) Como profilaxia e em caso de sífilis recente, deve ser prescrito em dose única.
(b) Não deve ser prescrito no primeiro trimestre de gestação.
(c) Seu uso deverá ser postergado em caso de uso de contracepção de urgência ou antirretrovirais.
As pessoas com teste rápido reagente devem ter amostra coletada para um teste não treponêmico complementar. Entretanto, devido ao cenário epidemiológico atual, recomenda-se início imediato de tratamento nas seguintes situações, entre outras:
- gestantes;
- caso de violência sexual;
- pessoa com risco de perda do seguimento;
- pessoa com sinais/sintomas de sífilis primária ou secundária;
- pessoa sem diagnóstico prévio de sífilis.
A vacina de HPV também é prevista para vítimas de violência sexual, homens e mulheres, de 9 a 45 anos, que ainda não tenham sido vacinadas.
Para mais informações sobre IST: consultar o “Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis”.
Existe a recomendação de que toda pessoa com exposição sexual de risco ao HIV e demais IST seja avaliada para um eventual episódio de infecção aguda pelos vírus das hepatites A, B e C.
A PEP é oferecida gratuitamente pelo SUS.