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PREVENÇÃO COMBINADA
Evidências científicas apontam que a DoxiPEP vem reduzindo o número de novos casos de ISTs
A DoxiPEP, estratégia que consiste no uso do antibiótico doxiciclina em comprimidos como profilaxia pós-exposição (PEP) às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) é destaque em eventos nacionais e internacionais, com especialistas apresentando dados científicos de eficácia e segurança para prevenção de novas infecções por clamídia e sífilis e, com menor impacto, por gonorreia.
Durante o 25º Congresso Mundial de IST e Conferência Australiana de Saúde Sexual e Reprodutiva (IUSTI 2024), ocorrido entre 17 e 20 de setembro, em Sydney (Austrália), o tema da DoxiPEP foi abordado na mesa de abertura e durante todo o evento, com participação da delegação técnica brasileira, por meio da Coordenação Geral de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis (Cgist) e técnicos das áreas de monitoramento e avaliação e de diagnóstico do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi).
Nas falas dos palestrantes, enfatizou-se o potencial impacto populacional na redução de infecções por sífilis e clamídia (e com menor impacto, de gonorreia) com o uso da DoxiPEP, destacando-se a importância da criação de estratégias para sua implementação e monitoramento nos países, bem como do monitoramento de possível mudança do perfil de resistência aos antimicrobianos.
Desde 2018, há dados de estudos avaliando a eficácia protetora e a segurança do uso da DoxiPEP. Na França, o uso da DoxiPEP foi associado à redução de novos casos de sífilis e clamídia – em 73% a 79% e em 70% a 89%, respectivamente – em dois protocolos de pesquisa controlados que recrutaram usuários de profilaxia pré-exposição (PrEP) para HIV para tomarem a dose única de doxiciclina 200 mg em comprimidos dentro das 72 horas após uma exposição sexual desprotegida.
Em outro estudo, realizado nos Estados Unidos, o uso da DoxiPEP por homens gays e bissexuais usuários de PrEP para HIV, ou vivendo com esse vírus em tratamento antirretroviral, foi também associado a reduções de incidência de sífilis (77% a 87%), clamídia (74% a 88%) e gonorreia (55% a 57%).
Em junho deste ano, o Centro de Controle de Doenças norte-americano (CDC) publicou o seu protocolo de DoxiPEP, tendo como público-alvo homens gays e homens que fazem sexo com outros homens (HSH), mulheres trans e travestis que fazem sexo com homens; com pelo menos um episódio de IST bacteriana diagnosticada nos últimos 12 meses. A agência recomenda o uso de dois comprimidos de 100 mg em até 72h após exposição, idealmente dentro das primeiras 24h, não ultrapassando dose máxima de 200 mg/dia. O monitoramento é realizado trimestralmente, com exames de sífilis, clamídia, gonorreia e HIV. A cada seis meses, é indicada reavaliação da pessoa quanto a necessidade de continuar o uso da DoxiPEP.
A coordenadora-geral da Cgist, Pâmela Cristina Gaspar, vê como positivo o avanço do uso da DoxiPEP no mundo. “No momento, o uso de doxiciclina como PEP às ISTs no Sistema Único de Saúde encontra-se em processo de avaliação, e agora estamos realizando a análise técnica de síntese de evidências científicas, avaliação econômica e impacto orçamentário.”
Pâmela destaca ainda que, como próximos passos, estão previstas discussões com especialistas que integram Comitês Técnicos Assessores (CTA) do Dathi de ISTs e de Prevenção, bem como seguimento junto à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec/Dgits), conforme estabelecido pelo Decreto nº 11.161, de 4 de agosto de 2022.
“Como a doxiciclina compõe uma classe de antimicrobianos utilizada para diversas infecções na rotina clínica, no contexto da Doxipep, será importante o fortalecimento do monitoramento da resistência antimicrobiana em bactérias tanto causadoras das ISTs quanto da flora bacteriana humana, aponta a coordenadora.
Junio Silva
Ministério da Saúde