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OUTUBRO VERDE
Durante seminário, pesquisadores debatem estratégias para a redução da sífilis adquirida e eliminação da sífilis congênita no Brasil
O segundo dia do “Seminário Integrado da Sífilis – Unindo Forças para a Eliminação”, realizado na última terça-feira (15), em Brasília, reuniu pesquisadores(as), gestores, sociedade civil, profissionais da saúde, técnicos(as) do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) da Secretaria de Vigilância Saúde e Ambientes e das Secretarias de Atenção Primária à Saúde, Atenção Especializada à Saúde, Saúde Indígena e Saúde Digital para debater sobre a diminuição da carga de sífilis adquirida e eliminação da sífilis congênita em nosso país.
Durante as mesas redondas e conferências, os(as) participantes alertaram para o número de casos de sífilis – de acordo com o Boletim Epidemiológico de 2024, foram 242.826 casos de sífilis adquirida em 2023 e 86.111 casos de sífilis em gestantes – e os desafios encontrados pela saúde pública na eliminação, como diagnósticos tardios ou a identificação incorreta das lesões sintomáticas.
Mauro Romero, médico, professor e pesquisador do Setor de DST da Universidade Federal Fluminense, apontou que, em muitos casos, essas lesões são confundidas com alergia. “A sífilis pode nos enganar, precisamos aprimorar nossos exames”, declara. “É urgente a necessidade de estabelecer a avaliação dos kits de testagem, além da investigação e a vigilância epidemiológica de cada caso”.
Sobre os casos em gestantes, a palestrante Daniela Magalhães, enfermeira da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, afirmou que os determinantes sociais ainda impactam o acesso aos serviços de saúde. “O comprometimento com a eliminação da sífilis congênita como problema de saúde pública no Brasil reforça a importância do planejamento reprodutivo e da qualidade do pré-natal, com desenvolvimento de estratégias intersetoriais para alcançar as populações mais vulnerabilizadas à sífilis”, diz.
Os dados do Boletim corroboram os alertas, mostrando que 65,6% das gestantes notificadas com sífilis em 2023 eram negras (pretas e pardas). Sobre a escolaridade das gestantes notificadas, 22,9% possuíam ensino fundamental incompleto e 38,5% tinham completado o ensino médio.
A coordenadora-geral de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis (Cgist), Pâmela Gaspar, considera que, apesar dos desafios, o Brasil segue firme na estratégia de eliminação da sífilis congênita. “Os municípios e os estados já estão conseguindo alcançar as metas para certificação da eliminação ou de selos de boas práticas – ouro, prata ou bronze- rumo à eliminação da sífilis congênita nos seus territórios”, declara. “Com esse trabalho avançando ano a ano, iremos alcançar a eliminação da transmissão vertical da sífilis enquanto problema de saúde pública no nosso país”.
As demais apresentações da manhã do segundo dia do Seminário giraram em torno do papel e protagonismo da Enfermagem na prevenção e na eliminação de doenças, a vigilância da sífilis adquirida e da sífilis congênita e a atenção à saúde de mulheres, adolescentes e homens, incluindo o fortalecimento do pré-natal das parcerias.
No período da tarde foram discutidas as questões de diagnóstico da sífilis (o velho e o novo), experiências de integração das iniciativas de HIV e sífilis apresentadas pelo Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz, Aids Health Foundation e Movimento Nacional da Cidadãs Positivas, Sífilis na Adolescência e Determinantes Sociais da Sífilis.
A Conferência de encerramento foi mediada por Draurio Barreira, diretor do Dathi do Ministério da Saúde, e realizada por Angélica Miranda, médica, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo, com o tema “É Possível Eliminar a Sífilis no Brasil?”.
DoxiPEP
Um dos destaques do evento foi a apresentação do médico pesquisador Rico Vasconcelos, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), sobre o uso do antibiótico doxiciclina em comprimidos como profilaxia pós-exposição (PEP) às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) (sífilis, clamídia e, com menor impacto, gonorreia), também conhecido como DoxiPEP.
Rico apontou que estudos como os realizados em São Francisco – quando o uso por homens gays e bissexuais de profilaxia pré-exposição (PrEP) para HIV, ou vivendo com esse vírus em tratamento antirretroviral, foi associado a reduções de casos de sífilis, clamídia e gonorreia – trazem sinais positivos para o futuro da estratégia contra ISTs.
No entanto, o pesquisador declara que ainda há perguntas a serem respondidas. “Ainda não se pode afirmar que a DoxiPEP é eficaz em mulheres cisgênero e homens heterossexuais”, aponta. “Também não se sabe se a DoxiPEP causará alterações no diagnóstico de sífilis e nem como garantir o acesso às pessoas que mais se beneficiariam com o uso do tratamento”.
Apesar destes desafios, Rico enfatiza que a DoxiPEP pode ser a grande inovação na prevenção das ISTs bacterianas, com potencial de reduzir a carga de sífilis circulante na população, contribuindo para os avanços rumo a eliminação.
Ministério da Saúde