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DIA DOS(AS) NAMORADOS(AS)
Pessoas contam quais são as principais preocupações em relacionamentos amorosos e sexuais
Foto por: Freepik
O dia 12 de junho é comemorado no Brasil como o Dia dos(as) Namorados(as) e costuma ser um tema que agita o comércio e as redes sociais. A data surgiu como um apelo mercadológico e acabou entrando no gosto dos brasileiros. Mas afinal de contas, quais são as principais preocupações das pessoas que estão em relacionamentos sexuais ou amorosos quando a pauta é saúde sexual?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde sexual é um estado de bem-estar físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade. Ou seja, não é apenas a ausência de doenças, disfunções ou enfermidades. Outro fato importante a ser destacado é que os direitos sexuais e reprodutivos são reconhecidos internacionalmente como direitos humanos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e OMS.
Além disso, para que a saúde sexual seja alcançada e mantida, os direitos sexuais de todas as pessoas devem ser respeitados, protegidos e satisfeitos. Nesse sentido, o cuidado integral é essencial, principalmente em relação às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
A OMS estima que, no mundo, diariamente, mais de um milhão de pessoas são infectadas por ISTs como: HIV, hepatites B e C, clamídia, gonorreia, sífilis, tricomoníase, HTLV, dentre outras. Edison dos Santos conta que, aos 57 anos de idade, sua principal preocupação no namoro é ter um bom relacionamento, formar uma parceria que não seja “tóxica”, com apoio mútuo no dia a dia e com responsabilidade afetiva.
Em um relacionamento heterossexual há um ano e meio, ele revela que a prevenção às ISTs nunca foi um tabu entre ele e a namorada. “Foi um papo bem informal, querendo saber em como eram as parcerias anteriores, se fizemos ou não exames, se já tivemos alguma IST ou conhecemos pessoas que tiveram etc. Somos pessoas esclarecidas e experientes, temos filhos adolescentes e é interessante termos essa conversa para que possamos passar para eles a importância de se cuidar e cuidar de suas parcerias sexuais”.
A naturalidade do tema para Edison e a namorada não é comum para Beatriz Magalhães, jovem de 18 anos de idade e universitária do curso de Teoria Crítica e História da Arte na Universidade de Brasília. Por ser uma mulher lésbica, ela conta que a prevenção às ISTs é um assunto pouco abordado entre ela e suas parcerias sexuais ou amigas. “Vou ser bem sincera, em relacionamentos de mulheres LGBTQIAPN+, quando se trata de IST e prevenção, é um tema raramente abordado. Claro que a gente conhece algumas formas de se proteger durante sexo casual, mas, no geral, não é algo que falamos”.
Beatriz comenta que em seu primeiro namoro, ela e a namorada eram adolescentes e no início da vida sexual. Por serem duas mulheres, achavam que não havia riscos e não conversavam sobre o tema. Além disso, ela enfatiza a falta de acesso a informações sobre prevenção às ISTs entre mulheres. “Sei pouquíssimo sobre prevenção entre duas mulheres. Eu nunca ouvi falar disso na mídia. Não é uma informação que chega até mim com facilidade, e olha que estou bastante inserida nas redes sociais, na internet, pesquiso muito. Ainda assim, essas informações não chegam até mim”, afirma.
Já no namoro do médico de família e comunidade Diogo Araújo, o conhecimento sobre prevenção fez bastante diferença. Há mais de um ano em um namoro homossexual não monogâmico, a possibilidade de transmissão de ISTs foi debatida entre ele e o parceiro no início do relacionamento. “Acho fundamental que haja conversa sobre atitudes e limites que permitam maior conforto na relação. O uso consistente de preservativo, de lubrificantes e de PrEP [profilaxia pré-exposição de risco ao HIV] – com boa adesão – são estratégias que podem ser estabelecidas como regra para qualquer relação sexual, dentro e fora do relacionamento principal”, explica.
Ele ressalta que o fato de ele e o namorado serem profissionais da saúde, o diálogo e a atenção sobre o assunto são redobrados. “Acho que faz parte da ética de um relacionamento ser franco e verdadeiro com o parceiro, ter um cuidado consigo, mas também com o outro. Afinal, apesar de não sabermos exatamente como será o futuro, a intenção é envelhecermos juntos e saudáveis”.
Saúde incentiva a adoção da estratégia da prevenção combinada como forma de promoção da saúde sexual e reprodutiva
O Ministério da Saúde, por meio do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e ISTs (Dathi/MS), orienta o diálogo aberto sobre saúde sexual entre profissionais da saúde e as pessoas sexualmente ativas. Conforme o coordenador-geral de Vigilância de HIV, Aids e Hepatites do Dathi, Artur Kalichman, a missão dos profissionais de saúde é orientar as pessoas conforme seus contextos sociais e de forma profissional e respeitosa com a diversidade de relacionamentos. “Aos profissionais de saúde cabe o papel de orientação e cuidado, facilitando o acesso aos insumos de prevenção, diagnóstico e tratamento, sem julgamento aos tipos de relacionamentos sexuais ou amorosos”.
O diretor do Dathi/MS, Draurio Barreira, incentiva o acesso integral aos cuidados para prevenir, diagnosticar, e tratar HIV ou infecções sexualmente transmissíveis, pois essas ações promovem a qualidade de vida das pessoas. Segundo ele, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza todas as tecnologias para isso, mas ainda é preciso enfrentar estigma e preconceito. “Sempre repito: temos as tecnologias para os cuidados, mas é preciso reduzir as barreiras de acesso relacionadas ao preconceito com a diversidade de orientação sexual, pois isso acaba vulnerabilizando ainda mais alguns grupos - como gays, travestis, pessoas negras, dentre outras -. Isso é um problema que precisamos enfrentar, juntos, para a eliminação de infecções e doenças como problemas de saúde pública”, afirma.
Para a coordenadora-geral de Vigilância de ISTs do Dathi, Pâmela Gaspar, é preciso inserir cada vez mais o tema da prevenção às ISTs em espaços oportunos e canais estratégicos, para que, independentemente de datas como o Dia dos(as) Namorados(as), os cuidados relacionados à saúde sexual e reprodutiva sejam conhecidos e debatidos. “Os cuidados sobre ISTs incluem acesso a informações seguras e acessíveis. Nossa atuação enquanto gestores e profissionais de saúde é trabalhar para isso e fomentar o debate, principalmente entre a população-chave e prioritária”.
O Ministério da Saúde orienta a prevenção combinada, ou seja, a associação de diferentes estratégias para prevenção do HIV, das hepatites virais, das sífilis e de outras infecções sexualmente transmissíveis. Em uma perspectiva de saúde integral e autonomia para as pessoas, o uso simultâneo de diferentes abordagens que devem ser aplicadas individualmente, mas também nos relacionamentos, precisa considerar o contexto social em que as pessoas vivem.
Entre os métodos que podem ser combinados estão a testagem regular; a prevenção da transmissão vertical (quando a gestante vive com HIV, sífilis, hepatite B ou HTLV e pode haver a transmissão da infecção para o bebê); o tratamento das ISTs e das hepatites virais; a imunização para as hepatites A e B e HPV; o uso das profilaxias pré e pós exposição (PrEP e PEP); e o tratamento para todas as pessoas que já vivem com HIV ou aids.
O acesso e a adesão ao tratamento antirretroviral para HIV são importantes, pois quando a pessoa passa a viver com a carga viral indetectável, ela tem risco zero de transmitir o HIV para suas parcerias sexuais. Além disso, o uso correto do medicamento impede a evolução para aids, garantindo uma melhor qualidade de vida.
Os métodos de prevenção combinada, bem como tratamento para HIV e ISTs, estão disponíveis de forma gratuita no SUS. O Dathi dispõe de painéis que informam os locais que disponibilizam PrEP e PEP. Ambas as profilaxias consistem na tomada de medicamentos que reduzem o risco de infecção em situações de exposição ao vírus.
Ádria Albarado e Lorany Silva
Ministério da Saúde