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HEPATITES VIRAIS
Cenário epidemiológico aponta redução na detecção de casos e nas mortes causadas por hepatites
O Ministério da Saúde, por meio do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) divulgou esta semana o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2024. O domingo (28), marca o Dia Mundial contra as Hepatites Virais.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2022, mundialmente, cerca de 296 milhões de pessoas foram acometidas por infecção crônica do vírus B, que é responsável por 47% dos óbitos relacionados às infecções. Outras 58 milhões de pessoas têm infecção crônica pelo vírus C, responsável por 48% das mortes por infecções desses vírus. As infecções causam – seja por infecção aguda, câncer hepático ou cirrose associada a esses vírus – aproximadamente 1,1 milhões de mortes no mundo a cada ano.
Os dados do Boletim apontam os desafios para a eliminação das hepatites, em particular, das hepatites dos tipos B e C. De 2000 a 2023, foram notificados mais de 785 mil casos de hepatites virais no Brasil, sendo 40,6% do tipo C, 36,8% do tipo B e 21,8% do tipo A. Somente em 2023, foram notificados mais de 28 mil novos casos de hepatites virais, sendo 7,3% (2.081) de hepatite A, 35,4% (10.092) de hepatite B e 56,7% (16.178) de hepatite C. Dentre as pessoas infectadas com hepatite B e C neste ano, 5,2% e 7,6% registram coinfecção com HIV.
A partir de 2000 até 2023, nota-se uma distribuição desigual dos tipos de hepatites virais nas macrorregiões do Brasil. A região Sudeste concentra as hepatites C (58,1%) e B (34,1%). No Sul, a maioria dos casos é de hepatites tipos B (34,2%) e C (27,1%). Já no Nordeste e no Centro-Oeste, a concentração é de casos de hepatite A com 29,75% e 11%, respectivamente. A região Norte chama a atenção com a maioria de registros de hepatite D (72,5%).
Em 2022 o registro de hepatite A era de 856 casos e, em 2023, chegou à marca de 2.801 casos, ou seja, um aumento de 2,4 vezes, com destaque para o estado de Santa Catarina, cuja taxa de incidência subiu 8,5 vezes no mesmo período. A hepatite A é transmitida pela via fecal-oral e está relacionada às condições de saneamento básico, qualidade da água e dos alimentos, relações sexuais desprotegidas (contato oral-anal) e higiene pessoal. Em geral, o aumento de casos de hepatite A é decorrente de surtos.
Já as taxas de detecção de hepatites B e C apresentaram redução de 7,9% e 8,7%, respectivamente, quando comparadas a 2022. Em relação aos óbitos – com base na série histórica de 2012 a 2022 com dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) – é possível observar redução nas mortes relacionadas às hepatites A (36,8%), B (22,6%) e C (54,9%). A redução das mortes pode ser observada como um resultado de diversas ações, tais como introdução dos antivirais de ação direta a partir de 2015 e a introdução da vacina de hepatite A para crianças em 2014. Contudo, em 2022, a hepatite C foi a principal causa de óbitos entre as hepatites virais com 69,9%, seguida pela hepatite B com 26,1% do total.
O perfil das pessoas com as infecções em 2023 é, na maioria, de pessoas do sexo masculino e autodeclaradas brancas para os tipos A e C e, de pretas e pardas no tipo B. Quanto à faixa etária mais afetada, há diferenças conforme o tipo de infecção. Em relação à hepatite A, por exemplo, as maiores taxas de detecção se concentram nas faixas etárias de 25 a 29 anos, com 2,2 e, de 30 a 34 anos com 2,0 casos a cada 100 mil pessoas, respectivamente. Nas hepatites B e C, a maior taxa de detecção ocorre a partir de 55 a 59 anos com 9,1 e 18,9 casos por 100 mil habitantes, em ordem respectiva.
Em 2023, cerca de sete mil pessoas iniciaram e mais de 40 mil estavam em tratamento para hepatite B. Entre as pessoas em tratamento, a maioria era do sexo masculino (62%), autodeclaradas brancas/amarelas (56%), com 40 anos de idade ou mais (87%), residentes nas regiões Sudeste (35%) e Sul (35%) do Brasil e com quatro anos ou mais anos de escolaridade (65%). Apenas 1% dessas pessoas estavam privadas de liberdade e menos de 1% vivia em situação de rua. A maioria (81%) realizava acompanhamento médico no serviço público de saúde e 95% tinham indicação terapêutica para tratamento da hepatite B. A maior parte das pessoas em tratamento estava usando tenofovir (52%) e entecavir (44%), e cerca de 6% delas fizeram uso prévio de lamivudina. Menos de 1% dessas pessoas estavam em hemodiálise.
Quanto à hepatite C, em 2023, cerca de 17 mil pessoas realizaram tratamento, das quais a maioria eram pessoas do sexo masculino (59%), autodeclaradas brancas/amarelas (50%), com 40 anos de idade ou mais (89%), residente da região o Sudeste (53%) do país, com quatro anos ou mais de escolaridade (64%). Dessas pessoas, 3% eram privadas de liberdade e 1% estava em situação de rua. Assim como para a hepatite B, a maioria (86%) realizava acompanhamento médico no serviço público de saúde e 98% estavam tratando a hepatite C pela primeira vez. O tratamento com a associação de sofosbuvir e velpatasvir (93%) foi o esquema mais utilizado.
Para o diretor substituto do Dathi, Artur Kalichman, o cenário epidemiológico demonstra que as ações do Programa Brasil Saudável estão no caminho certo. “O nosso grande desafio é o enfrentamento dos determinantes sociais que impedem – por razões diversas – as pessoas de acessarem as tecnologias de prevenção, diagnóstico e cuidados relacionados às hepatites virais, em particular as hepatites B e C. Com a atuação intersetorial e o apoio da sociedade civil por meio das ações do Brasil Saudável, temos grandes oportunidades de eliminar as hepatites virais e a transmissão vertical de hepatite B como problemas de saúde pública até 2030”.
Ádria Albarado
Ministério da Saúde